Opinião

fotografias com HISTÓRIA com fotografias - António José Pinto de Oliveira – o fundador da OLIVA (III)

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A escritura inicial da firma “Oliveira, Filhos & Cª. Lda.” refere, no artigo 4º, que o capital social é de 1.500 contos, correspondente às quotas que os nove sócios subscreveram e realizaram, entre eles os principais impulsionadores: António José de Oliveira Júnior e António José Pinto de Oliveira. Mas é sabido que o “principal dos principais” é o filho.
Desiludido com os acontecimentos que o levaram ao abandono da indústria de chapelaria, em que tinha investido boa parte da sua vida, primeiro como operário e depois como grande industrial, Oliveira Júnior concentrou as energias que ainda lhe restavam, nas práticas das boas obras a que se tinha lançado, por amor dos mais desfavorecidos. Por isso, a sua eleição como provedor da primeira Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de S. João da Madeira, ocorrida a 28 de maio de 1922, não foi surpresa para ninguém.
Manuel Pais Vieira Júnior, na sua obra “Subsídios para a História da Santa Casa da Misericórdia de S. João da Madeira”, refere, a propósito: “A sua respeitabilidade e permanente disponibilidade em rigoroso voluntariado afastaram todas as intromissões negativas da política que preponderava na época e ameaçava instalar-se na instituição. A muito curto prazo, Oliveira Júnior viria a acrescentar àquelas qualidades a piedade e a benemerência, que exerceu com convicção e desprendimento e lhe granjearam junto dos pobres uma auréola de santidade e veneração.”

Fábricas Brûder Böhm, onde estagiou António José Pinto de Oliveira

Se de Oliveira Júnior se pode dizer que, em relação à “Santa Casa”, era a pessoa certa no lugar certo, o mesmo se pode dizer de António José Pinto de Oliveira, em relação à nova empresa. Não tanto por aquilo que aprendeu no curso elementar de comércio, obtido em escolas do Porto, mas pelo saber de experiência feito, acumulado ao longo dos anos em que trabalhou na “Oliveira & Palmares”, nos “serviços de escritório e tirocínios de aprendizagem em todas as secções fabris”, por vontade do pai e agrado seu.
Depois, veio o estágio nas fábricas “Brûder Böhm”, em Viena e Praga, as maiores da indústria de chapelaria da Europa, onde colheu importantes conhecimentos que lhe permitiram optar, conscientemente, pelas soluções mais consentâneas com as particularidades do mercado português.
Foi com essa experiência que, em 1909, quando a sociedade “Oliveira & Palmares” resolveu modernizar os seus processos de trabalho e instalações, chamou a si a execução dos necessários estudos e planos, bem como o projeto do edifício da “Fábrica Nova”, cuja construção decorreu entre 1912 e 1914. Uma conceção arrojada, a que alguns chamaram de “atrevida loucura”, por ter surgido na altura em que deflagrava a Primeira Guerra Mundial.
Dez anos passados, António José Pinto de Oliveira vê-se, de novo, a lançar os alicerces de uma empresa que pretende construir à sua imagem. E “à sua imagem” significa um empreendimento igualmente audaz, de máxima grandeza, não fosse ele um homem à frente do seu tempo, como provou ser em tantos momentos determinantes da sua vida. Vale a pena recordar aqui um episódio que protagonizou, no primeiro aniversário da independência administrativa de S. João da Madeira, em outubro de 1927. Ao intervir publicamente perante o ministro da Instrução de então, Alfredo de Magalhães, na qualidade de presidente da Associação Industrial e Comercial do concelho, António José Pinto de Oliveira aponta o dedo à política de educação vigente, dizendo a dado passo, com uma boa dose de ironia: “Somos um povo de 70% de analfabetos e 30% de doutores mais nefastos e perniciosos do que os analfabetos.

António José Pinto de Oliveira (em pé, à esquerda), com amigos no Gerês, em 1926

Consolemo-nos, porém.O mal seria maior se, em vez de 70% de analfabetos, tivéssemos 70% de doutores desta espécie!”
Uma atitude corajosa, com a qual o ministro não foi capaz de discordar.
Os primeiros tempos da firma “A. J. Oliveira, Filhos & Cia., Lda.” foram de enorme dificuldade, é certo que prevista, mas que obrigou a frequentes suspensões de trabalho, algumas delas com a duração de vários meses.
Os constrangimentos acabaram por ser superados, graças à resiliência e excecional capacidade para administrar do fundador António de Oliveira, coadjuvado por familiares, designadamente os cunhados Benjamim Valente da Silva e António Espírito Santo Diamantino, com negócios no Brasil e em África, respetivamente, e por personalidades que integravam a sociedade.
Em 1929, a empresa passa a usar a denominação de “A. J. Oliveira & Cª. Lda.” e inicia uma fase de ascensão notável. Nas oficinas, que ocupam então uma área superior a 10.000 m2, com duas centenas de pessoas a laborar, produzem-se ferros de engomar, fogões de cozinha, caloríficos, bombas centrífugas, radiadores, caldeiras de aquecimento central e tornos de bancada.
A gama de produtos aumenta de ano para ano e o ritmo de crescimento da “A. J. Oliveira & Cª. Lda.” obriga a adaptações e alterações organizacionais constantes, mais ou menos profundas, consagradas em sucessivas escrituras.

(Continua)

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