Ninguém sabe ao certo as razões pelas quais António Alves da Silva, um coimbrão nascido em 1915, na freguesia de S. Bartolomeu, escolheu S. João da Madeira para viver e aqui desenvolver a sua atividade artística, até ao fim dos seus dias. Veio com a mulher da sua vida, Luciana Loio, com quem tinha casado em 1939, na cidade de Coimbra, e trouxe com ele o cunhado, Edmundo Loio, um “solteirão” especializado em trabalhos de ferro forjado.
Estávamos no início da II Guerra Mundial. O Governo declarou-se neutral mas os portugueses foram apanhados pela dimensão do conflito. Neste cenário de dúvidas e de incertezas, S. João da Madeira, graças à pujança da sua indústria e à tenacidade dos seus governantes, continuava a ser a “terra das oportunidades”. Poderá ter sido esta a circunstância que determinou as suas escolhas.
Por volta de 1942, António e Edmundo fundam a sua própria empresa, a que deram o nome de “Oficinas Metalúrgicas S. João”, com sede no lugar da Quintã.
Nela, as suas tarefas eram distintas mas complementares. António Alves da Silva era o criativo e Edmundo Loio executava, com mestria, os projetos idealizados e desenhados pelo cunhado. O resultado final eram peças de elevado valor artístico, no contexto do ferro forjado associado às artes, sob a influência do “Art Nouveau”, estilo inspirado por formas e estruturas naturais, não só de flores e plantas mas também de linhas curvas.
Alves da Silva era um artista multifacetado. Pintava a óleo e aguarela, esculpia em madeira, escrevia poesia, declamava solenemente e era um excelente comunicador. Estes atributos fizeram com que se integrasse rapidamente e sem favor no meio cultural sanjoanense. Em abril de 1946 realiza a sua primeira exposição de pintura, entre nós. O REGIONAL número 633 fez notícia do evento, com honras de primeira página:
“Alves da Silva, pintor de grandes possibilidades e de técnica perfeita, expôs num salão da Câmara Municipal. Se bem que não sejam inéditas exposições desta natureza em S. João da Madeira, raras vezes terá sido dada oportunidade aos sanjoanenses de admirarem quadros de tão rara beleza. O artista, que é conhecido no meio sobejamente, apresenta-nos, de facto, um conjunto de quadros onde nenhum destoa. (…)”.
Apesar de a pintura ser a sua grande paixão, são as obras saídas das “Oficinas Metalúrgicas S. João” que dão maior projeção a Alves da Silva. Na primeira metade da década de 1950, a empresa regista um elevado número de produções em ferro forjado, encomendadas por particulares mas também por instituições, na sua grande maioria de S. João da Madeira. Desses trabalhos, destacam-se os portões da mansão de Manuel Luís Leite Júnior e os candelabros e mesa de comunhão da nossa Igreja.
O REGIONAL de 13 de novembro de 1955 publica na primeira página a reportagem da inauguração e bênção dos melhoramentos introduzidos na Igreja Matriz:
“(…) Os melhoramentos agora inaugurados e benzidos pelo sr. Bispo do Porto – D. António Ferreira Gomes – constam, além da rica e vistosa peça de mesa da comunhão, em ferro forjado e aplicações de bronze e mármore e com os doze apóstolos todos trabalhados delicadamente a cinzel, três candelabros, destacando-se um pelo seu grande tamanho e beleza, tudo obra de oficinas sanjoanenses (…)”.
Neste mesmo ano, o “solteirão” Edmundo Loio deixa de o ser. Conhece Maria Alice Paiva, uma jovem de Romariz, e é com ela que casa a 29 de maio, na Igreja de S. João da Madeira, já ornada com as “vistosas” peças que ele próprio cinzelara “delicadamente”.
(continua no próximo número)