fotografias com HISTÓRIA com fotografias - Albino Francisco Correia – Visconde de S. João da Madeira (III)
O título de “Visconde de S. João da Madeira”, com que Albino Francisco Correia foi agraciado pelo governo do rei D. Carlos, ficou a dever-se, sobretudo, a tarefas de caridade e de benemerência praticadas no Brasil e na sua terra natal, no final do século XIX e princípio do século XX, que o “Jornal de Cintra” tornou públicas, na sua edição número 9, publicada em março de 1902.
Desde que embarcara para o Brasil, em 1862, acompanhado pelos irmãos José e João, Albino Correia nunca esqueceu as suas origens, mantendo fortes os laços que o prendiam à família e à terra que lhe foi berço. A doação de terrenos para alargamento do adro da igreja onde foi batizado e os melhoramentos “de reconhecida necessidade” efetuados no templo a expensas suas, são exemplos disso. Por essa razão, o povo sanjoanense, mal se soube da feliz notícia e em homenagem ao agraciado, saiu à rua e deu largas à sua alegria, com música e foguetes, enquanto as autoridades e destacadas figuras locais telegrafavam para Lisboa, onde se encontrava o titular, endereçando-lhe sinceros parabéns.
Ao telegrama que lhe foi enviado pelo chefe do partido regenerador local, dr. Manuel Maciel Leite de Araújo, o Visconde respondeu com estas palavras: “Na vossa pessoa, que representa a união de todos os bons cidadãos do nosso caro S. João da Madeira, agradeço e deposito meu reconhecimento para todos. Não têm sido tantos os meus sacrifícios em prol dos melhoramentos de S. João da Madeira para merecer que El-rei D. Carlos me distinguisse com tão alta mercê. Se tenho sido até agora um amigo dedicado da nossa terra, um dever me impõe hoje maior dedicação. De modo algum desejava retribuições; mas também se me impõe o dever de não molestar tantos amigos com uma recusa. Assim, curvo-me para receber tão elevadíssima distinção”.
A “maior dedicação” traduziu-se, de imediato, num reforço ao “amparo à pobreza”, por um lado e, por outro, na contratação de um mestre de obras para a execução da escadaria da Igreja, bem como do portão em ferro que se vê no postal de 1926, aqui reproduzido. Para além disso, o Visconde, coadjuvado sempre nestas ações pelo seu genro António Dias Garcia, pediu à Câmara Municipal que autorizasse a instalação de “sessenta lampiões”, pagos com dinheiro dos dois, para iluminação pública da zona central da povoação.
A estadia dos viscondes e respetiva família entre nós prolongou-se por cerca de onze meses, repartidos entre Lisboa, Silves, Porto e S. João da Madeira. O tempo que passaram aqui foi suficiente para sentirem o pulsar de uma terra em franco desenvolvimento que, por vontade das suas gentes, quer guindar-se a um patamar de maior grandeza. Tudo o que acontece, por essa altura, dentro da espartilhada área da freguesia, vai nesse sentido. O ano de 1902 é marcado por importantes iniciativas levadas a cabo, tanto por aqueles que cá estão, como por aqueles que, não estando cá, querem contribuir para o progresso do seu “torrão natal”. Os industriais António de Oliveira Júnior, Pedro Martins Palmares, Benjamim Araújo, Manuel Álvares Pardal, Gaspar de Almeida Pinho, entre outros, estão na vanguarda da indústria de chapelaria e do calçado, criando postos de trabalho e fazendo chegar a todos os cantos do país os seus produtos, de reconhecida qualidade. Os comerciantes Francisco José António da Silva e seu filho Genuíno António da Silva inauguram, na Praça, os famosos “Armazéns Genuínos”, únicos no género em toda a região. Ao lado, Domingos António Ribas instala iluminação de acetileno no seu estabelecimento de fazendas (à época, novidade de pasmar). Inicia-se o desaterro para construção de uma “escola de ambos os sexos”, na Quintã. Os alunos sanjoanenses, que são apresentados a exame pelos professores que ensinam particularmente ou na “casa da aula”, figuram entre os melhores do concelho.
É também por esta altura que a estrutura urbana da povoação começa a mudar, com a construção das primeiras “casas de brasileiros” (palacete de Benjamim Araújo e de Fulgêncio Pinho). Como se tudo isto já não fosse já relevante, começa a ser definido o traçado da linha do caminho de ferro que vai ligar, numa fase inicial, Espinho a Oliveira de Azeméis, com passagem por S. João da Madeira.
Decididamente, o Visconde e o seu genro, António Dias Garcia, querem fazer parte do grupo de sanjoanenses que mais contribuem para o desenvolvimento da sua terra, não como industriais ou comerciantes, mas como beneméritos a quem os seus conterrâneos ficarão eternamente gratos.
“A estadia dos viscondes e respetiva família entre nós prolongou-se por cerca de onze meses, repartidos entre Lisboa, Silves, Porto e S. João da Madeira. O tempo que passaram aqui foi suficiente para sentirem o pulsar de uma terra em franco desenvolvimento que, por vontade das suas gentes, quer guindar-se a um patamar de maior grandeza. Tudo o que acontece, por essa altura, dentro da espartilhada área da freguesia, vai nesse sentido.”
Ainda antes do regresso ao Rio de Janeiro, quiseram dar uma prova da sua grande dedicação a S. João da Madeira: D. Luísa Correia Garcia (Lili) ofereceu a mobília completa para a escola do sexo feminino e seu marido, António Dias Garcia, a mobília necessária para a escola do sexo masculino.
Por seu lado, o Visconde, seu genro e Benjamim José de Araújo chamaram a si a iniciativa “generosa e humanitária” de se criar, na sua terra, um hospital.
Em meados de novembro de 1902, Albino Francisco Correia e Genoveva Marques, viscondes de S. João da Madeira, sua filha Luísa Correia Garcia (Lili), genro António Dias Garcia, netos Nelito e Maria Luísa, José Francisco Correia e João Francisco Correia (irmãos do Visconde, aquele fazendeiro em Montevideu, este negociante em Curitiba – Paraná), despedem-se afetuosamente de um grupo de sanjoanenses que os acompanhou à estação de Estarreja, rumo à capital, para embarcarem, dias depois, no paquete “Clyde” que os levou de volta ao Rio de Janeiro.
Prometeram voltar para a inauguração dos melhoramentos da Igreja Matriz.