A confusão nos festejos do Sporting. A bandalheira antes e depois da final da Liga dos Campeões. A falta de autoridade das forças de segurança. A credibilidade da Direcção Geral de Saúde pelas ruas da amargura. As contradições dos Ministros e os disparates de Secretários de Estado. O PM a tratar da Europa, pensando num futuro cargo europeu e já sem grande paciência para Portugal.
O que é que tudo isto faz lembrar? O fim do cavaquismo, entre 1993 e 1995. Os factos são diferentes, o espírito é o mesmo. Uma certa arrogância no poder. Muito desgaste da governação. Incapacidade de agir a tempo e horas. Conflitos sérios como o da Ponte 25 de Abril. Um PM cuja cabeça estava já virada para outro palácio.
O que é que ambos os casos revelam? Fim de ciclo. Começa em regra com dois anos de antecedência e os afloramentos públicos são muito semelhantes. As sondagens continuam amplamente favoráveis ao partido do poder. A oposição não é grande coisa. Mas os sinais de esgotamento governativo são evidentes – nos sinais de cansaço e desorientação, nas exibições de arrogância, na perda de autoridade, nos maus exemplos, no discurso trapalhão e sobranceiro.
E não faltará, agora em 2021, o mesmo que não faltou em 1994 – uma remodelação
governamental para fazer de conta que há sangue novo e uma vida renovada. É um clássico destas ocasiões que serve, apenas e só, para gerar ilusão. A remodelação de então como a que está preparada para o final deste ano não passará de mais do mesmo. Nenhum nome de relevo da sociedade, nenhum peso pesado do partido, uma espécie de baralhar e dar de novo que não resolve nada nem mobiliza ninguém. O ambiente ainda soará mais a fim de ciclo – os Ministros que saem ficarão mal dispostos com o PM, porque a autoridade do Chefe do Governo já não é o que era; os Ministros que entram, no masculino e no feminino, não acrescentarão muito, ou porque são promoções orgânicas de Secretários de Estado ou porque a dinâmica da equipa já não tem o fulgor do início da governação. Por sua vez, o PM, deslumbrado com os elogios que vai ter por causa da Presidência Portuguesa da UE, nostálgico da sondagem que teve em 2019 para o cargo de Presidente do Conselho Europeu e que então declinou, concentrará cada vez mais os seus esforços no objectivo de 2024. O que implica sair em 2023, porque repetir em 2024 a solução Barroso – abandonar o Governo para rumar a Bruxelas – seria suicídio puro, em forma de reincidência agravada. Tudo muito igual a 1995. Também na altura Cavaco Silva pensou mudar de ares, de desafios e de funções políticas. Tudo normal. Tudo legítimo.
Fim de ciclo é sempre fim de ciclo. A semelhança está no fim. A diferença está no ciclo. O do cavaquismo, enquanto existiu, foi a sério – reformou-se em quantidade e qualidade, o país cresceu como nunca, Portugal subiu no ranking europeu, o país mudou de vida. O do costismo, esse, teve muita habilidade e boa retórica, mas o resultado final é o de Portugal sempre a baixar de divisão na Europa. Não faz grande história.