Este ano cá em casa a nossa proposta foi fazer o Caminho Inglês, que tem o seu início em Ferrol, na Galiza. Ferrol, para além dos muitos interesses turísticos maravilhosos, diga-se, também é conhecida como a terra de Franco e pela sua enorme indústria naval, principalmente navios de guerra.
A minha ideia na construção desta crónica não era verdadeiramente de escrever sobre os Caminhos, porque sobre esse tema existem muitos que o fazem, e até profissionalmente... Daí qualquer um de nós que queira iniciar-se num dos Caminhos de Santiago poderá recorrer à leitura destes serviços que abundam em todo o lado. De qualquer modo, e antes de começar a escrever sobre a ideia que me trouxe para esta crónica, adianto que no primeiro dia fizemos vinte e sete quilómetros até Pontedeume. No segundo dia, de Pontedeume a Betanzos. Bem, quem gostar de tortilhas tem de ir a Betanzos e provar desta iguaria culinária. Fantástico! Nesta localidade realizam um concurso anual para premiar assim a melhor tortilha. Nós provámos e adorámos! Maravilha! Lá fomos, seguindo: Betanzos–Ordes, Ordes- Sigueiro, Sigueiro- Santiago de Compostela.
Enfim, todas as localidades com a sua história e as suas maravilhas para serem visitadas. Mas, cada Caminho é único e vivido de forma muito intensa. Acontecem tantas coisas que se vão repetindo todos os anos. E, é aqui que queria escrever um pouco sobre exemplos de fauna que em todos os Caminhos nos fazem companhia. Logo pela manhã, ao caminharmos pelos campos, lá vamos ouvindo os galos a dar-nos os bons dias. Ouvimos também o som de uma ave que só conheço pelo nome de gralha. E, as gaivotas... com o seu silvo característico.

Ao longo do Caminho vamos cruzando com diferentes animais, tais como cães, gatos, cavalos, que pelas suas características ou estão mais pachorrentos, ou a dormitar ou então a deliciarem-se com o pasto que vão encontrando, tal como os coelhos que se aproximam de nós ou então olham-nos ao longe apenas apoiados nas patas traseiras e as suas orelhas esticadas no ar. Maravilhoso é quando a Lídia pára a tirar uma foto para o chão. Aí, aproximo-me para ver o que se passa... é ela a fotografar um caracol que atravessava o nosso caminho de terra numa manhã ou, então, noutra altura que fotografava um insecto numa folha de erva na berma do caminho!
Os Caminhos, para além da ideia espiritual ou religiosa, é um desafio físico. E este ano, apesar do Caminho ser particularmente curto, foi de uma dureza enorme. A alegria, a emoção que sentimos quando chegamos à Praça do Obradoiro, e quando uma lágrima nos aflora os olhos, um abraço forte é dado... sim, é indescritível. Aí perguntamo-nos qual é o próximo?
O Caminho é um misto de experiências fantásticas, já para não falar da experiência pessoal e única! Mas uma das mais enriquecedoras são os contactos humanos, que nos deixam sempre saudades. Pessoas maravilhosas de todas as partes do globo. Este ano, o nosso grande abraço vai para um casal de Cádiz, Ramón e Célia.
Na música, volto a um músico que tem o condão de me pôr a dar uns passos de dança free: J. J. Cale. Experimentem!
Nos livros, o que penso ser uma boa leitura para o outono que se aproxima, “Que Grande Banquete!”, de Jonathan Coe.
É bom estar de volta! Um bom ano para todos!
Será que os senhores da guerra ainda não estão cansados de tanto morticínio?