“Ao contrário do que defenderam Costa e Marcelo, as eleições de 30 de Janeiro do ano passado não nos trouxeram estabilidade.”
As últimas eleições para a Assembleia da República, surgiram na sequência da união de interesses de Marcelo Rebelo de Sousa e de António Costa, ambos queriam que a Esquerda deixasse de influenciar a governação: o primeiro aspirava a uma participação do PSD no Governo e o segundo queria a maioria absoluta para promover políticas mais liberais. O argumento público de ambos era a estabilidade.
Costa ganhou o round a Marcelo, beneficiou de muitos votos da Esquerda e ficou com maioria absoluta. Logo na noite eleitoral, com um brilhozinho nos olhos, prometeu estabilidade, garantiu continuar a ouvir os partidos como até ali e acrescentou que «a maioria não seria um rolo compressor». Nestes quase dez meses de governação, o primeiro-ministro não ouviu os outros. Na nossa opinião, outra coisa não seria de esperar. Porém, não era suposto vermos o PS com tantas dificuldades para criar um governo credível, coisa que não tinha acontecido quando era minoritário e fazia acordos com a Esquerda. Percebemos, mais tarde, que esta maioria acirrou interesses, internos e externos, naquele partido e, parece-nos que o ambiente de «cortar à faca» vai continuar, ainda agora houve mais uma «facada» da Secretária de Estado do Turismo, Rita Marques.
Ficamos revoltados, como muita gente, com a notícia que correu na comunicação social sobre a indemnização que provocou a renúncia de Pedro Nuno Santos, mas por outro lado, ficamos muito surpreendidos com o espanto que a referida notícia originou nos fazedores de opinião, até parece que esta indemnização é inédita!
O caso Alexandra Reis, foi qualificado pela generalidade dos comentadores de «imoral», «pornográfico», «oportunista», etc. Adjectivos não faltaram para qualificar acto da ex-Secretária de Estado.
Também, como muita gente, achamos que é injusto que na TAP, a administradora Eng.ª Alexandra Reis, tenha recebido, para sair da empresa, meio milhão de euros, mas tenhamos boa memória, apesar de tanta celeuma, a árvore esconde a floresta. Tem sido vulgar, nas grandes empresas públicas e privadas, indemnizações deste montante e ainda maiores.
Como pode estar esquecido, por exemplo, que em Maio de 2018, Paulo Macedo pagou, a três administradores da CGD para saírem, as seguintes indemnizações: 1 milhão e 700 mil euros a António Domingues; 955 mil e 800 euros a Pedro Leitão e 746 mil e 400 euros a Tiago Ravara Marques. Nos CTT, mais ou menos na mesma altura, André Gorjão Costa recebeu 1 milhão e 170 mil euros. Na TVI, já em 2020, Luís Cabral levou 800 mil euros. E quanto ganham os Administradores das grandes empresas portuguesas públicas e privadas? De vez em quando, os números soam aos nossos ouvidos e damos connosco a pensar porque será que há tanto reaccionarismo, contra quem luta por aumentos dignos de salários e pensões?
Ao contrário do que defenderam Costa e Marcelo, as eleições de 30 de Janeiro do ano passado não nos trouxeram estabilidade: em 2022 registou-se a maior subida de preços dos últimos 30 ano, a inflação ultrapassou os 8 %. os produtos alimentares aumentaram quase 19 % e os produtos energéticos quase 24 %. Apesar disso os salários reais, em média, baixaram mais de 4%. Mas há outras desgraças, como a degradação SNS, a habitação está mais difícil, os transportes mais caros e as portagens também. Por fim, como se tudo isto não fosse suficientemente mau, continua a emigração, sobretudo dos jovens, muitos deles com elevadas qualificações.
Ao contrário do prometido, esta maioria absoluta trouxe mais instabilidade às famílias e às empresas e o PS parece incapaz de mudar de rumo.
Sem alterações patrióticas das políticas e sem intervenções firmes do Estado, vamos ficar cada vez mais para trás.
Oxalá me engane!