Opinião

Entre datas de aniversário

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A elevação a vila de São João da Madeira, alcançada em julho de 1924, é poucas vezes referida na história da localidade. Certamente porque a partir de outubro de 1926, a emancipação concelhia ofuscou a primeira efeméride e a condição da povoação prevaleceu “como o concelho mais pequeno do país” e um dos poucos de “freguesia única”.
O estatuto de vila perdurou durante 60 anos. A partir de 1984, a elevação a cidade deu uma nova posição a São João da Madeira.
Enquanto vila, a evolução demográfica de São João da Madeira foi considerável. Comparando os resultados dos recenseamentos - Censos – dos anos de 1920 e de 1981, ou seja, dos dados populacionais recolhidos antes da alteração da categoria da localidade, verifica-se uma passagem de 4.407 para 16.444 habitantes. Praticamente o quádruplo. Um crescimento demográfico rápido, com o apetrechamento de infraestruturas essenciais, com fortes índices de urbanização, com a construção de habitação na vertical e a limitação de zonas para a industria, que rapidamente foram ocupadas, em áreas cujos terrenos haviam sido agrícolas durante séculos.
Os resultados dos Censos, depois da elevação a cidade, demonstram outra condição. Apesar do crescimento populacional até 2001, atingindo os 21.102 habitantes, nos vinte anos seguintes a variação é residual e apenas é positiva pela fixação de diversos imigrantes, conforme noticiado após a divulgação dos resultados do Censos de 2021. Nesse ano, a população superou os 22.000 habitantes.
Este crescimento de ritmo lento entrou em contraciclo com o total de alojamentos no concelho. O índice de construção de habitações foi elevado. O número de alojamentos mais que duplicou entre 1981 e 2021, passando, em quarenta anos, de 4.356 para cerca de 10.000 e como vimos, o aumento populacional não acompanhou este ritmo de construção. Para agravar a situação, os preços praticados mantiveram-se altos, obrigando jovens, com menor rendimento, a fixar-se nos arredores de São João da Madeira e o resultado está à vista por todo o concelho: demasiadas habitações devolutas.
Se a estagnação na densidade populacional explica um certo desalento como o manifestado pelos entrevistados, na reportagem, acerca do dia da cidade, editada nas páginas deste jornal, na semana passada, por outro lado, a comparação de elementos diferenciadores, relativamente a cidades vizinhas, também ajuda a reforçar o sentimento transmitido.
Na industria, a diferença entre concelhos atenuou-se nos últimos anos. Nos tempos da Vila, o tipo de fabrico já era diversificado, só que havia produção de marcas com projeção nacional. Nos dias de hoje, a maioria das indústrias está mais vocacionada para a transformação generalizada, com produção de componentes dentro de diversos setores e apostando pouco na marca própria.
O comércio está entregue a cadeia de lojas e as cidades estão preenchidas com grandes superfícies, existindo estabelecimentos iguais em várias localidades, chegando a repetir-se em algumas, lojas da mesma cadeia. É assim no comércio e acontece o mesmo nos serviços, incluindo a restauração e a área da saúde privada. Tirando honradas exceções, a uniformização na oferta só permite ao cliente aperceber-se em que cidade se encontra, por encontrar os seus vizinhos, os seus amigos e outros conterrâneos nesses espaços indistintos.
Perante isto, é fundamental a captação de investimento que permita alavancar a cidade com equipamentos ou serviços diferenciadores. Se no passado, a angariação de fundos entre a população residente e emigrada permitiu a construção de edifícios desportivos, hospital, quartel de bombeiros, entre outros, para engrandecer a vila de São João da Madeira. Houve, anos mais tarde, capacidade da autarquia para promover a construção de outras necessidades de infraestruturas e edificado e esse efeito perdurou por décadas, melhorando-se as competências para atrair investimento privado para a cidade.
Sem me alongar muito mais, é um exercício interessante, verificar quais são os atuais elementos diferenciadores de São João da Madeira, relativamente às cidades vizinhas.
A nível de equipamentos empresariais ou industriais; a nível de superfícies comerciais; ao nível dos cuidados privados de saúde; na categoria de equipamentos desportivos; na capacidade de expor permanentemente coleções privadas de arte.
Poderá haver outros tópicos mais apropriados. Contudo, seja nas sugestões apresentadas, seja noutras não mencionadas, haverá sempre fatores a distinguir, pela positiva, a cidade de São João da Madeira relativamente ao seu passado.
Haja capacidade de envolver a população em torno destas mais valias.

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