“Cada vez que se destapa um assunto, ficamos com razões para acreditar que os nossos impostos não estão em boas mãos”
Ficamos a saber pela última edição do Expresso que mais de metade dos 37 carros de combate Leopard das nossas forças armadas não estão em condições de ser usadas em combate. Com a manutenção em dia e prontas a utilizar estão apenas 12. Questionado sobre este assunto, o Ministério da Defesa diz que obviamente não responde sobre a operacionalidade das armas e equipamentos militares por evidentes motivos de segurança.
Estes carros de combate foram comprados em 2008 e, desde essa data, Portugal não esteve em guerra, pelo que é forçoso concluir que se avariaram e ficaram inoperacionais durante os treinos e exercícios militares (acreditando que estavam em bom estado quando foram comprados).
Evidentemente que a solução não é deixar de fazer exercícios de treino militar. A solução é comprar apenas os carros que seja possível manter. Parece uma resposta simples, obvia e sensata, mas o problema é que os decisores públicos frequentemente não escolhem a sensatez e recusam ver o obvio. E assim se expõe o país ao ridículo e se provoca um rombo na credibilidade das Forças Armadas.
Ainda há poucos anos o país ficou estarrecido com o roubo de armas e munições do paiol militar de Tancos. Pouco tempo depois, vieram os responsáveis esclarecer que não era possível identificar o material desaparecido e, mais tarde, que não era certo que tivesse existido o furto de quaisquer armas. Ou seja: total descontrolo do material em depósito e irresponsabilidade na segurança do armamento.
Afinal, não cuidaram de garantir a segurança do armamento à sua guarda; e agora verificamos que a maioria dos carros de combate, que são mais difíceis de roubar, não estão operacionais para os fins a que se destinam.
Todos sabemos que há desperdícios na saúde, na educação e na generalidade dos serviços públicos com quem contactamos regularmente. Mas as forças armadas costumam ficar fora do escrutínio público, como convém por razões de segurança. Só que os responsáveis da defesa nacional não podem aproveitar-se do menor escrutínio publico para esconder falta de profissionalismo e falta de respeito pelo dinheiro dos portugueses.
Por que razão compramos 37 carros se apenas podemos manter 12? Por que razão temos tantas estruturas militares espalhadas pelo país, desde o tempo da guerra de África, em vez de concentrar os recursos financeiros em apenas algumas (poucas) unidades bem treinadas e bem equipadas para participar em ações conjuntas com os nossos aliados?
Cada vez que se destapa um novo assunto, ficamos com razões para acreditar que os nossos impostos não estão em boas mãos.