Opinião

Editorial - Um ciclo de vida ativa em cinco pilares

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O município deve assumir o desporto como um investimento estratégico na saúde pública, educação e coesão social, estabelecendo uma política estruturada que acompanhe o cidadão desde a infância até à idade sénior. Este modelo visa garantir o acesso universal à prática desportiva de qualidade e apoiar o desenvolvimento do potencial atlético, promovendo simultaneamente o bem-estar e a longevidade.
Para garantir a segurança e sustentabilidade de todo o processo, a saúde e prevenção desportiva constituem eixos transversais e prioritários, abrangendo desde o anual rastreio médico e postural para alunos do Ensino Básico até à comparticipação de consultas de fisioterapia e medicina desportiva para atletas federados, assegurando, por um lado, a recuperação de lesões e por outro, a educação para hábitos de vida saudáveis e prevenção de riscos.
Em complemento, a gestão de infraestruturas desportivas constitui um eixo operacional fundamental. O município deve realizar um estudo de capacidade e ocupação dos seus equipamentos (pavilhões, campos, piscinas), avaliando as suas condições físicas e necessidades de manutenção ou requalificação. Este estudo deve justificar a edificação de novas instalações ou a adaptação estratégica de antigas para suprir lacunas e garantir a otimização de horários e a acessibilidade aos clubes de formação e à população em geral, assegurando que o crescimento da prática desportiva seja sustentável e que as instalações apoiem a qualidade da formação e a segurança dos atletas.
O referido modelo estrutura-se em cinco pilares, desenhados para uma ascendência desportiva contínua e integrada. O percurso inicia-se na escola com a Iniciação e Desenvolvimento Motor na infância, prossegue com a Orientação e Transição para o associativismo local e solidifica-se no apoio à Conciliação Académica e Desportiva na adolescência. O ciclo culmina no investimento na Excelência e Performance das camadas jovens, antes de se fechar com a Continuidade no Desporto Adulto, garantindo que o movimento iniciado no primeiro ciclo se prolonga por toda a vida.
O primeiro pilar foca-se na Iniciação e Desenvolvimento Motor durante o Ensino Básico (1.º ao 3.º ano), através das Atividades Extracurriculares (AEC) de Educação Física. O objetivo é estabelecer as bases do movimento, trabalhando a agilidade, flexibilidade e a coordenação motora de forma lúdica. As aulas são desenhadas para fomentar a adaptação ao meio aquático, o desenvolvimento de habilidades com bolas (conduzir, atirar e agarrar), a noção de corrida e de saltos e a consciência corporal (com brincadeiras em colchões), essenciais para o futuro desportivo e para combater o sedentarismo.
No 4.º ano escolar, o segundo pilar estabelece a ponte entre a escola e o associativismo através da Orientação e Transição Desportiva. Neste momento, é crucial dar a conhecer as modalidades desportivas disponíveis no concelho e as associações desportivas com escalões de formação. O município promove “mostras desportivas”, permitindo que os alunos experimentem in loco diversas modalidades nas instalações dos clubes, facilitando a escolha e a transição para a prática federada.
A partir do 5.º ano, o terceiro pilar garante a Conciliação Académica e Desportiva através da promoção do Ensino Articulado Desportivo. O modelo seguirá a lógica do ensino articulado de música, por exemplo, visando legitimar e integrar a formação desportiva no percurso educativo do aluno, com o estatuto de atleta. O município, promovido este tipo de ensino junto do Ministério da Educação, deve assinar protocolos específicos com as escolas e clubes para adaptar o horário escolar obrigatório aos treinos e competições, reconhecendo as horas dedicadas ao desporto como parte do percurso curricular, permitindo que o aluno avance na sua especialização da modalidade escolhida (com possibilidade de competição federada) sem comprometer o seu percurso escolar.
O quarto pilar tem como alvo a Excelência e Performance na Formação (escalões Sub-16, Sub-18 e Sub-20), atuando em três frentes: a manutenção e reforço da Conciliação Académica e Desportiva, promovendo o ensino integrado, garantindo o auxílio de um Gabinete de Apoio ao Jovem, para tutoria, vital para minimizar o abandono, quer desportivo, quer escolar, em anos futuros; o investimento na capacitação física e técnica dos jovens, através de um centro de preparação física municipal acessível aos clubes e do apoio à formação avançada de treinadores; e, finalmente, a Promoção da Cultura Desportiva, com uma estratégia de reconhecimento e visibilidade para os resultados relevantes dos atletas e clubes, incluindo a divulgação em locais de destaque da cidade, transformando o sucesso desportivo juvenil numa fonte de orgulho comunitário.
Finalmente, o quinto pilar suporta a Continuidade no Desporto Adulto e masters – atletas veteranos – direcionado para as associações com escalões seniores e o fomento de continuação da atividade desportiva depois dos 35 anos, com equipas não inscritas em competições profissionais. Este apoio é fundamental para o envolvimento comunitário e a saúde na idade adulta. O município concede apoio logístico e financeiro aos clubes amadores e organiza a atividades municipais direcionadas para todos, como torneios de verão intergeracionais, promovendo o envelhecimento ativo e garantindo que o ciclo desportivo iniciado na escola se prolonga com qualidade e paixão ao longo de toda a vida.
Apresentado o ciclo, pode-se fazer o diagnóstico concelhio, verificando o que existe, o que falta implementar e sobretudo, ter capacidade para ligar as pontas, que estão soltas, para se conseguir alcançar uma “Cidade do Desporto”.

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