Após a integração europeia, seguiu-se o estrangulamento da actividade produtiva nacional, vários ramos da indústria sofreram dificuldades de adaptação, deu-se o encerramento de muitas empresas. Ano após ano, a indústria tem perdido milhares de postos de trabalho, depois de 1985 o emprego industrial caiu.
Os leitores dirão que este movimento de diminuição da actividade industrial não se verificou só em Portugal, por toda a Europa aconteceu o mesmo. É verdade, mas é importante referir que a taxa de desindustrialização em Portugal foi superior à taxa média da União Europeia.
Por cá, é frequente assistirmos ao encerramento de pequenas e médias empresas às quais nos tínhamos afeiçoado. É triste ver fábricas a encerrar, em particular no sector do calçado, uma actividade em que alcançamos níveis de excelência, mas com dificuldades bem à vista. Para onde vamos?
Quando um empresário se encontra impossibilitado de cumprir as obrigações vencidas, deve requerer a insolvência da sua empresa, se não o fizer sujeita-se a ter a justiça à perna. Isto está certo, mas o que acontece, normalmente, no processo de insolvência parece-nos errado. Quase sempre, dá-se a venda ao desbarato do património sem que haja o menor esforço para recuperar a unidade industrial. São muito raros os casos em que os administradores de insolvência se mostram abertos à possibilidade de recuperar a empresa sobre a sua administração e até alguns sindicatos, muito céleres a ajudar os seus associados a requerer o subsídio de desemprego e o Fundo de Garantia Salarial, o que é correcto, esquecem que é de interesse dos trabalhadores e da comunidade em geral que as empresas insolventes sejam recuperadas, na vez de liquidadas.
Os bancos, quando se encontram com dificuldades, mobilizam os governos que fazem trinta por uma linha para os salvar, é usado o dinheiro do Estado, por regra não recuperado, mas quando se trata da indústria transformadora o paradigma muda, aqui o dinheiro público não entra, nem pode entrar, dizem os defensores dos mercados. Até parece que não há mais vida, para além dos mercados.
António Costa Silva, Ministro da Economia e do Mar, nos seus discursos costuma reconhecer a necessidade da «reindustrialização» e enfatizar a importância da indústria na economia. Há algum tempo atrás, disse que «a indústria está no cerne da criação de valor e é vital para a saúde da economia», nada mais certo que isto, contudo, a retórica não bate certo com a prática.
A reindustrialização deveria constituir um dos objectivos centrais da criação de riqueza e emprego. O País necessita de uma indústria transformadora que proporcione mais produção, mais produtividade e melhor competitividade. Estão anunciadas grandes medidas no desenvolvimento das novas tecnologias. É importante que avancem, mas não se esqueçam do calçado, do têxtil, do mobiliário, da cerâmica, do vidro, da cortiça, etc. ramos de actividade em que o País é competente, não é boa ideia deixá-los para traz, nem pôr outros à sua frente.
As indústrias tradicionais, têm vindo a ser alvo de processos de modernização, esperemos que sejam apoiadas, porque são empresas de grande relevância na nossa economia. É necessário que se anule a tendência de fecho destas e imperioso que sejam bem tratadas e não secundarizadas, nas politicas que se anunciam!
O autor escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico.