Na senda da última edição do jornal «O Regional», foi publicada uma notícia com direito a uma página, complementada com uma fotografia da escola sede do Agrupamento de Escolas Dr. Serafim Leite, associada ao título: “Família síria diz que filho é discriminado na escola”. Quem leu, atentamente, o texto noticioso, sobretudo o parágrafo final, bem como o imediato desmentido que a Cruz Vermelha publicou na sua página do Facebook, apercebeu-se de que a notícia está cheia de contradições e que os factos pecam pela falta de coerência.
A respeito do mencionado desentendimento do aluno com os colegas da turma, circunstância ocorrida no ano letivo transato, embora não me sinta, pessoalmente, afetada, pois ainda não tinha sido eleita Diretora do Agrupamento, tenho a dizer, no entanto, com toda a certeza, que tal situação foi ultrapassada nessa altura, com conhecimento da Diretora da Cruz Vermelha. Contudo, é o Agrupamento que dirijo que fica ferido, injustamente, com esta notícia. Pensei muito se deveria reagir e correr o risco de originar comentários ainda mais xenófobos como aqueles que estão publicados no Facebook do jornal. Mas, em honra do bom nome do Agrupamento de Escolas Dr. Serafim Leite e dos meus colegas docentes que dele fazem parte, tenho de o fazer.
Após a publicação desta notícia, a Cruz Vermelha teceu as seguintes considerações: “Acrescentamos que, concretamente sobre a integração de crianças e jovens refugiados (de nacionalidade síria ou outra), este é dos Agrupamentos que mais tem cooperado e se tem envolvido nos processos de acolhimento que levamos a cabo no nosso Centro Humanitário. Por esse motivo, e por tantos outros, não reconhecemos legitimidade e veracidade a qualquer comentário que refira a escola ou os seus professores e restantes colaboradores como ‘preconceituosos’ ou sequer que se sugira que os mesmos contribuem para a perpetuação de qualquer comportamento discriminatório em relação a esta família em particular”.
Faço minhas as suas palavras, acrescentando que, desde que iniciei o meu mandato, a 15 de julho de 2021, nunca me foi reportada qualquer atitude discriminatória para com o aluno em questão, nem pela mãe, nem pelo Diretor de Turma (que dá, frequentemente, feedback aos pais do aluno sobre a sua situação e vivências escolares), nem pelo Gabinete de Intervenção Prioritária do AESL. Tenho, ainda, a referir que, desde que o aluno entrou para o nosso Agrupamento, teve todas as condições, físicas e humanas, ao seu dispor, para que a transição de país, de tipologia de ensino, de língua e de cultura fosse atenuada, tendo sido cumpridos todos os trâmites legais para a sua inserção numa turma de Português Língua não Materna, continuando a ser amplamente apoiado.
Todos estes factos foram reportados à jornalista quer por mim, quer pela diretora da Cruz Vermelha, antes de a notícia ser publicada e o certo é, curiosamente, mesmo assim, o jornal decidiu publicá-la, salvaguardando-se por trás de expressões vagas como: “Pais dizem”; “Família síria diz”. A notícia sublinhou que a mãe culpava a escola de não ter posicionado o aluno no 4.ºano. Não faz sentido nenhum que o aluno, após ter transitado para o 6.ºano, mude, agora, para o 4.ºano. Não entendi, sinceramente, por que razão a família se queixou primeiro à jornalista do que à própria Cruz Vermelha, que é responsável pela sua integração, ou a mim, que sou a Diretora do Agrupamento. E muito menos entendo o objetivo desta notícia e a finalidade deste órgão de comunicação que apenas soube ouvir um dos lados, descurando, completamente, as palavras que lhe dirigi, quanto contactaram comigo. Mas uma coisa eu entendo: gerou-se uma onda de comentários xenófobos que – acredito – não era o que esta família desejava.
Em jeito de conclusão, nem eu nem os professores do Agrupamento que dirijo e, sobretudo, aqueles que, no ano letivo transato e neste em particular, têm trabalhado de perto com o aluno em questão se reveem nestas acusações sem qualquer fundamento. Estou, e estarei, certa de que todos eles fazem e continuarão a fazer tudo o que estiver ao seu alcance, para que os meninos e meninas estrangeiros (e são imensos no Agrupamento, de diferentes proveniências, no ensino diurno e noturno) se sintam bem nesta escola. Temos um leque substancial de alunos estrangeiros, nas últimas décadas, que alcançaram o desejado sucesso educativo.
Somos um Agrupamento Amigo dos Direitos Humanos e não é apenas teoricamente. Orgulhamo-nos muito de ter aqui alunos sírios e de muitas outras nacionalidades e vamos continuar a desenvolver esforços para acolher, da melhor forma possível, todos aqueles que necessitam de nós para, juntos, construirmos Educação.
Convidei o jornal para fazer uma visita à escola.
Diretora do Agrupamento de Escolas Dr. Serafim Leite
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Nota de redação:
‘O Regional’ mantém e reitera o conteúdo da notícia, que cumpriu os princípios jornalísticos e deontológicos. Mais informamos que todas as partes envolvidas foram ouvidas e que a Cruz Vermelha (CV) confirmou o contacto da família síria, não sendo verdade que o casal tenha falado primeiro com o jornal. Ademais, incluímos na notícia da semana passada declarações adicionais num contacto de última hora por essa entidade, quando o texto já estava paginado. Em nenhum momento da sua publicação na página oficial do facebook, a CV desmente o jornal, podendo ler-se inclusivamente “resta-nos agradecer ao Jornal ‘O Regional’ por trazer este tema para cima da mesa”. A notícia está validada pelas citações das partes envolvidas, o que se faz através do uso de expressões como “dizem que”. Ao nosso jornal chegou esta semana um texto da diretora do agrupamento onde acusava ‘O Regional’ de só “ouvir um dos lados” e “descurar” as suas palavras no contacto da semana passada. Depois de um telefonema do nosso jornal, questionando qual dos lados tinha sido ouvido, quais tinham sido ignorados e que declarações haviam sido descuradas, foi enviada uma nova versão sem essas partes. No mesmo telefonema, informamos a diretora que lhe tinha sido dada margem para explicar o que entendesse no âmbito da situação abordada, sendo que esta referiu agora que não se podia defender por não saber o conteúdo da notícia antes de ela ser publicada.