Cá estou e disposto a falar-lhes de um trabalho em que estou envolvido – e empenhado… - há uns quatro anos e que, embora ande lentamente, tenho esperanças de o candidatar a ser publicado … sei lá quando…
Gira ele à volta de uma palavra que não é propriamente de todos os dias – eu só a conheci na altura de que falei.
EPÓNIMOS, conhecem?
Vou admitir que a maior parte dos leitores que me honram lendo-me não sabe ou não se lembra do que é.
Uma informação histórica:
Na Atenas de há dois mil e setecentos anos, a população era governada por ARCONTES (equivaliam, mais ou menos aos actuais vereadores)
Tinham funções diversas, naturalmente: o arconte polemarco tratava dos assuntos de guerra (aquele polemarco fez-lhes lembrar polémica, não?), e arconte EPÓNIMO lá tinha, também, as suas funções. Mas o nome dele é que dava o nome ao período em que os arcontes exerciam as suas funções.
Esse era o arconte EPÓNIMO. (Como se nós, actualmente, disséssemos “durante a presidência do Carmona” ou “quando era presidente o Craveiro Lopes).
Vem agora uma historinha da Mitologia: a cidade-Estado de Atenas tinha um certo nome – de que neste momento não me lembro – e queria alterá-lo. Propôs, então, aos deuses do Olimpo, que, aquele que oferecesse à cidade um nome que agradasse aos cidadãos, esse seria o seu padrinho.
Dois dos deuses sentiram-se entusiasmados com o desafio: Posídon (para os Latinos: Neptuno) e Atena (para os Latinos: Minerva).
O Posídon-Neptuno ofereceu um cavalo: prenda soberba! Dava para o cavalgar, para entrar nos combates, em caso de guerra, para puxar carruagens de luxo ou carroças ou arados.
A deusa Atena-Minerva ofereceu uma oliveira: Dava sombra, quando cortada dava madeira, e dava azeitonas e destas se fazia o azeite, que quantas utilidades tinha: temperava a comida, servia para untar o que… precisasse de ser untado, e até como cosmético era utilizado. E também servia para iluminar a casa.
E, inteligentemente, sensatamente, os Atenienses escolheram a oliveira e Atena passou a ser a deusa EPÓNIMA da cidade, que então se chamou Atenas.
Porque o nome da deusa – Atena – em nominativo, passou a ser AtenaS, em genitivo, caso este que, entre outras funções (que não são para aqui chamadas…) também tinha a de assinalar a posse, a pertença.
Pelo que ATENAS significava – para orgulho dos Atenienses – de Atena.
Pelo que ficámos com mais um –ÓNIMO na já razoável colecção de – ónimos. De trinta e cinco, cito-lhes só alguns, mais que provavelmente conhecidos:
anónimo, antropónimo, hagiónimo, heterónimo, pseudónimo…
(E, já agora, Jerónimo, que significa “nome sagrado”. HIERÓNIMO “designação de nomes sagrados relativos à doutrina das religiões hebraica, cristã e muçulmana).
A partir daqui imaginem só quantos EPÓNIMOS usamos diariamente sem sabermos que estamos a dizer… EPÓNIMOS.
Vejam só alguns exemplos:
Nos automóveis: ferrari, rolls-royce, ford…
Nos tecidos: bretanha, cetim (do nome de cidade chinesa onde esse tecido era fabricado), organdi (do nome de cidade do Turquestão)
Nos metais: Pentlandite, que deve o nome ao cientista irlandês Joseph Barclay Pentland (1797-1873), que primeiro o reconheceu; millerite, um sulfureto de níquel, cujo “descobridor” foi o geólogo escocês, H. Miller (1802-1856); Gersdorffite, tira o nome de Johann von Gersdorff, o proprietário da mina onde o mineral foi encontrado. E níquel, que recebemos do sueco nickel, nome que por lá se dava a um génio anão das minas. Forsterite: “A origem do nome é controversa, pois segundo alguns autores foi dado em honra de Adolarius Jacob Forster (1739-1806), um recolector inglês de minerais do século XVIII, e segundo outros em honra de Johann Forster, um naturalista alemão”.
Nos escritores: camoniano, dantesco, shakespeariano, miltoniano, garrettiano, alfarrábio.
Nas rochas: “andesito é um tipo de rocha magmática cujo nome deriva de Andes, montanhas onde é muito comum”; kimberlita, deve o nome a Kimberley, cidade sul-africana; bytownite: “O nome do mineral faz referência ao local em que foi encontrado pela primeira vez, em 1835, Ottawa (anteriormente Bytown).
Na Flora: açucena, adansónia, adamelito, adâmico, alicante.