No último domingo foi comemorado o Dia Mundial dos Migrantes.
Associado a esse dia, foram apresentados vários dados sobre o número de imigrantes a residir em território nacional, retirados dos Censos 2021.
Atendendo ao saldo natural negativo, ou seja, mais mortos do que nascimentos da população residente, a imigração é um fator que contribui para contrariar a tendência de diminuição da população de Portugal. Mesmo assim, desde o anterior recenseamento, em 2011, a população portuguesa reduziu, o que revela que o saldo migratório foi igualmente negativo, nesta última década.
Colocando em números, existem em Portugal cerca de 700.000 estrangeiros com o estatuto legal de residente.
Dados comprovativos da perceção atual da sociedade portuguesa, em que são identificáveis membros de comunidades estrangeiras em várias localidades.
Traços de uma identidade.
Pelo convívio em pequeno grupo, normalmente familiar, pelas indumentárias pouco comum, pela dificuldade em articular frases completas em português e não por caraterísticas étnicas.
Hoje em dia, nas ruas das diversas localidades, é frequente haver negócios comerciais, cujo o proprietário se estabeleceu há poucos meses em Portugal. Nos prédios, nas moradias contínuas é usual haver um vizinho nessas condições.
Aprende-se a viver com a diferença.
São João da Madeira não é exceção.
Lojas abertas por empresários de diferentes etnias, ou simplesmente estrangeiros que optaram por investir na cidade. Empresas que recorrem a mão de obra emigrante, por não haver outra opção no mercado de trabalho. Apartamentos alugados, ou vendidos, a quem vem de outro país e opta por aqui viver. Tudo são evidências na economia local, que explica o fenómeno da imigração.
Voltando aos números, em dez anos a população de São João da Madeira aumentou, passando para 22.143, ou seja, mais 430 habitantes, face a 2011. Tal como no país, o saldo migratório explica esta subida, já que infelizmente o saldo natural foi negativo. A população estrangeira na cidade é cerca de 1.000 habitantes, quando em 2011 não atingia os 500. Ainda assim, colocando em termos de percentagem, os 4,6% de estrangeiros que vivem na cidade são um valor inferior à média nacional. Dos concelhos circunscritos ao Entre Douro e Vouga, é a taxa mais alta, demonstrando que as caraterísticas mais urbanas são mais apetecíveis, para quem vem do estrangeiro e opta por viver nesta região.
Longe vão os tempos da chegada do maestro Esquadrini, proveniente de Itália a São João da Madeira. A sua frágil condição económica, o seu interesse pela música e sobretudo, o seu envolvimento com a população, fizeram com que o seu nome ficasse registado na toponímia local. Anos mais tarde, a simpatia da Belga Jeanne Araújo, com a doação de terrenos à autarquia, para a instalação do Parque Ferreira de Castro, ficou para sempre no léxico popular, com o parque a ser denominado Parque da Jane, ou “Jana”, uma desvirtuação comum na língua portuguesa, que por vezes dá origem a neologismos. No mesmo sentido, embora sendo um apelido mais comum em Portugal, a fixação do empresário de origem espanhola, Alberto Rodrigues Bulhosa, foi reconhecida pela toponímia da cidade e ainda hoje está em laboração a empresa com seus descendentes na administração. Houve outros estrangeiros a cruzarem-se com São João da Madeira, alguns na área do desporto. Os Húngaros Szabo fizeram história.
Os fluxos migratórios sempre caraterizaram São João da Madeira. A emigração no final do século XIX e nas primeiras décadas do século passado, sobretudo para os países da América do Sul, permitiram a prosperidade da população e o desenvolvimento da povoação, sobretudo pelas doações monetárias consignadas pelos mais abastados.
Depois de décadas a receber habitantes, essencialmente provenientes dos concelhos vizinhos, surge agora um novo fluxo com imigrantes, que pelo seu número, transformaram o quotidiano da cidade.
Molecada brincando na Praça Luís Ribeiro; uma jovem deslocando-se de trotinete, com um lenço na cabeça, que permite deduzir-se a sua origem muçulmana; restaurantes e outros espaços comerciais com clientes falando português com sotaque tropical; muitas pessoas com trajes diferentes e coloridos. Tudo isto é visível e audível pela cidade, permitindo uma fusão de culturas, que causa estranheza aos antigos residentes, mas que por certo transfigurará o seu modo de estar, caso haja harmonia entre todos.
É dentro deste espírito de acolhimento, que aproveito para finalizar e desejar um Bom Natal a todos os leitores.