Opinião

Crime e castigo...

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Podem descansar, não vos vou falar de Dostoiéski, nem tenho veleidades intelectuais, para falar de tal. “Crime e castigo” é de facto um livro deste autor que eu li quando bastante jovem. Ao pensar neste título leva-me ás minhas reminiscências infantis, e a partir daí, onde a nossa educação assentava, quase sempre em castigos. Era frequente ouvirmos: “Ficas de castigo!”. Haviam castigos psicológicos e por vezes castigos físicos... É tão fácil agredir uma criança indefesa. “ Se portares mal, vais de castigo!”, “Tem cuidado, se não vais para o quarto escuro!”, “Olha que eu chamo a polícia!”, ou o “Papão!”. Esta podia ser uma figura fantasmagórica.... Estes eram alguns dos castigos de índole familiar.
No convívio com os meus amigos, havia jogos onde o castigo, pela falha, era executado por todo o grupo sobre um só indivíduo.

“Venha a bota! ...”

Um desses jogos, que nós chamávamos de “A bota”, consistia num desenho no chão de dois retângulos sobrepostos formando um ângulo reto, com mais ou menos três metros por cinquenta centímetros de largura, contudo estas medidas dependiam do número de participantes. Um círculo era desenhado a cerca de dez metros dos retângulos e era aí que ficava o elemento designado por “bota”, que ou era voluntário ou por sorteio. O jogo começava com todo o grupo distribuído pelos dois retângulos a gritar “venha a bota!”... Quando “a bota” começava o seu percurso, dirigindo-se para os retângulos, tinha de dizer em voz alta: “Aqui vai a bota!...”. Se por acaso, ao sair do círculo, se esquecia de dizer esta frase, o grupo que estava nos retângulos, corria atrás dele dando-lhe “caldaças”. isto é, palmadas no pescoço até ele se refugiar no círculo onde estaria a salvo. O jogo recomeçava com a mesma lengalenga. O “botas” tinha o objetivo de tocar num dos indivíduos situados ao longo dos retângulos e que entretanto saltavam de um lado do retângulo para o outro, sempre sem tocar ou calcar as linhas do mesmo. Pois, caso isso acontecesse, era logo denunciado pelo “botas”, e, todo o grupo, mais uma vez, caía em cima do prevaricador, dando-lhes “caldaças” até esse elemento conseguir esgueirar-se para o círculo, e assim passar a ser o próximo “botas”.
Se me puser com um ar nostálgico a olhar para o passado uma das interrogações que me ocorre é “Que mal fiz eu para ser enviado para uma guerra?”, e assim, serem-me roubados três anos da minha vida, perder amigos, ver vedados os meus sonhos... Que crime cometemos para sermos castigados deste modo. Se alargarmos esta ideia a todo o mundo facilmente concluiremos que, na maioria das vezes, não é necessário crime para que haja castigos. Pensem no que está a acontecer neste momento na Ucrânia, no racismo, na pobreza... bem, a lista é interminável.
Na música, Hania Rani, para quem estiver a precisar de relaxar.
Nos livros, “Os sinais do medo”, de Ana Zanatti.
Digam não aos castigos!

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