Portugal é um país que, tal como muitos outros na Europa, enfrenta o inevitável desafio do envelhecimento populacional. Com uma das taxas de natalidade mais baixas da União Europeia e uma esperança média de vida em constante crescimento, a estrutura demográfica do país tem vindo a transformar-se significativamente. Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que, em 2024, cerca de 23% da população portuguesa tinha mais de 65 anos, e as projeções apontam para que este número continue a aumentar nas próximas décadas. Em São João da Madeira, a realidade não é diferente, com muitos idosos a viverem sozinhos ou em situação de isolamento social.
Para além do desafio do envelhecimento, Portugal também enfrenta o crescente problema da solidão. Segundo um estudo recente da Universidade do Porto, cerca de 40% dos idosos portugueses sentem-se sozinhos frequentemente, enquanto 15% vivem em situação de isolamento prolongado. Estes números são alarmantes, especialmente quando consideramos o impacto que a solidão pode ter na saúde física e mental, aumentando o risco de depressão, demência e até mesmo mortalidade precoce.
A solidão, muitas vezes, não é apenas a ausência de companhia, mas a falta de conexões significativas. Mesmo em cidades como São João da Madeira, onde a comunidade é tradicionalmente próxima, muitos idosos acabam por se sentir desconectados devido à perda de amigos e familiares, limitações físicas ou falta de mobilidade. Esta desconexão pode ser exacerbada por um mundo cada vez mais digital, onde muitos idosos se sentem excluídos por não dominarem as novas tecnologias.
Mas como podemos, enquanto sociedade, combater este fenómeno crescente?
Primeiro, é essencial criar políticas públicas que promovam o envelhecimento ativo e saudável, integrando os idosos em atividades sociais e culturais que valorizem a sua experiência e sabedoria. Em São João da Madeira, a juntar a programas já implementados, como, o programa sénior ativo, a oficina do idoso, o passeio sénior, é crucial continuar a fomentar iniciativas como grupos de voluntariado, redes de apoio intergeracional e espaços de convívio comunitário, que podem ser poderosos instrumentos de combate à solidão.
Além disso, a dinâmica que inquestionavelmente as associações locais têm, muitas vezes com falta de recursos humanos, é de enorme importância para promover a integração dos mais velhos na comunidade, criando oportunidades para que estes se sintam úteis e valorizados. Falo com base na minha própria experiência associativa, ligada ao associativismo de solidariedade social, onde, entre outras ações, visito idosos e testemunho as suas preocupações com os meus próprios olhos.
Atividades intergeracionais, como passeios conjuntos ou visitas a lares, e iniciativas que envolvam animais, como a adoção responsável ou a simples companhia de um animal de estimação, podem ser eficazes para estimular a mobilidade, a saúde mental e reduzir a solidão. Um exemplo inspirador foi o vídeo amplamente partilhado nas redes sociais de um idoso recentemente viúvo que, ao adotar um cão de rua, encontrou uma nova razão para se manter ativo e feliz, provando que pequenos gestos podem ter grandes impactos.
Por fim, a tecnologia pode ser uma aliada. Embora muitos idosos não tenham familiaridade com os novos meios digitais, programas de literacia digital podem ajudar a reduzir o isolamento, permitindo que se mantenham conectados com familiares e amigos, mesmo à distância.
O envelhecimento é um desafio, mas também uma oportunidade para repensar as nossas comunidades e o modo como valorizamos os nossos idosos.
“A verdadeira medida de uma sociedade é como trata os seus membros mais vulneráveis.”
(Mahatma Gandhi)