Opinião

Corrente...

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Quando, em criança, de idade escolar, chegava o verão as concentrações eram feitas nas escadas da capela de S. Sebastião. Democraticamente decidíamos que íamos ao banho ao rio Mondego. Isto era aventura para um dia! E a prova de fogo era mesmo no rio. Pois, para atravessarmos o rio, tínhamos de aproveitar a corrente que nos levava de areal em areal. Isto, muito antes de sabermos da arte de nadar. Para nós era uma aventura que eu transporto no tempo, faz parte das minhas memórias. Para os adultos, seria uma irresponsabilidade, ou não, porque éramos uns imitadores das histórias que os mais velhos nos contavam. Eram correntes desafiantes.
Mais tarde, ganho consciência de que a maioria dos cães estão presos a correntes e não são imagens agradáveis de se observarem. Depois observamos indivíduos presos por correntes. Mas, mais grave ainda, os escravos eram conduzidos acorrentados para trabalharem para os seus “donos”.
Crescemos e tentam convencer-nos com uma corrente religiosa. Se estivermos atentos podemos ver e sentir as guerras que tem havido em nome das religiões. Depois as correntes filosóficas, comparável às religiões, todas procuram adeptos. Depois as correntes políticas. Estas estão mais em voga. Pudera, se me oferecem o céu... Bem, ... ah! Quase que me esquecia, agora começam a aparecer os saudosistas da “Ordem Unida”, a corrente do serviço militar obrigatório.
Ao olharmos para todas as correntes, dá ideia de que só embalamos nas ditas se quisermos e o desejarmos. Não se deixem ir nas correntes se não o desejarem.
Não forcem correntes a quem não está aberto para vos ouvir e não acorrentem ninguém. De repente pareço um moralista, mas acreditem, era mesmo o que me faltava. O que sinto é que já temos correntes a mais e, verdadeiramente, podíamos dispensar algumas.
Na música, Winton Marsallis.
Nos livros, “Direito de cidade”, de Carlos Moreno.

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