Opinião

Com orgulho no passado, com olhos no amanhã!

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São João da Madeira é uma cidade com identidade. Crescemos com o som das máquinas, com o cheiro do couro, com o orgulho de sermos conhecidos como a “capital do calçado” e a “cidade do trabalho”. Essa reputação, que tanto nos honra, foi construída com o esforço e o engenho de gerações. Mas a história, por si só, não garante o futuro. Para mantermos o nosso lugar na linha da frente da indústria e da inovação, temos de agir com visão, rasgo, compromisso e políticas públicas eficazes.
No meu entender, o primeiro passo passa pela modernização das nossas zonas industriais. Não basta manter o que temos, é urgente qualificá-las para os novos desafios económicos. Isso implica melhorar infraestruturas, garantir acessos eficientes, apostar na energia e na conectividade digital, e requalificar espaços para acolher empresas tecnológicas e indústrias de nova geração. É também fundamental a criação de um nó de ligação direto da zona das Travessas à IC2. Esta ligação estratégica aumentaria significativamente a atratividade de logística industrial da cidade.
Atrair investimento não depende apenas da sorte ou do posicionamento geográfico, é, sobretudo, o resultado de políticas públicas bem definidas e de uma visão estratégica concertada. Em São João da Madeira, existem estruturas com potencial para desempenhar um papel relevante nesse processo, nomeadamente as incubadoras e centros de inovação.
A Oliva Creative Factory necessita de uma nova dinâmica, orientada para a atração de empresas ligadas às indústrias criativas, como o design, webdesign, moda, software, multimédia, entre outras. Este setor, em crescimento a nível global, pode contribuir para diversificar a base económica local e atrair talento jovem e qualificado.
Por sua vez, a Sanjotec precisa de crescer com um propósito claro, afirmando-se como um polo de inovação tecnológica, com foco na promoção de projetos de investigação aplicada e na criação de sinergias com entidades de referência, como o Centro Tecnológico do Calçado de Portugal (CTCP), a Associação Comercial e Industrial de São João da Madeira (ACISJM) e outras estruturas representativas do meio empresarial.
No entanto, tudo isto esbarra numa lacuna evidente: não existe atualmente uma articulação eficaz entre estas entidades, que permita apresentar São João da Madeira como um destino saudável e atrativo para o investimento nacional e internacional. Esta é uma falha estrutural que importa corrigir.
Enquanto Presidente da ACISJM, tenho o privilégio, de acompanhar o tecido empresarial do nosso concelho e da região. E apercebo-me de que a qualificação dos recursos humanos é uma das maiores prioridades para as nossas empresas. A competitividade, a necessidade de inovação e a crescente complexidade das operações exigem competências específicas e atualizadas. A globalização e as rápidas transformações tecnológicas obrigam as empresas a adaptarem-se continuamente, e isso só é possível com trabalhadores capacitados.
Por essa razão, temos desenvolvido formação financiada que ajuda as empresas a cumprirem as obrigações legais decorrentes da legislação laboral e, ao mesmo tempo, a prepararem os seus quadros para os desafios da transformação digital e organizacional. Mas não ficámos por aqui.
Um exemplo claro de como uma boa articulação pode gerar valor foi a criação, do projeto “Rede Escola-Empresa” da ACISJM. Esta iniciativa aproxima o sistema educativo da realidade empresarial. Através da instalação de laboratórios colaborativos dentro das próprias empresas, estamos a formar jovens em áreas fundamentais como mecatrónica automóvel, robótica doméstica, frio e robótica. Estes laboratórios representam muito mais do que formação técnica: são espaços de contacto direto com o mercado de trabalho, onde alunos, professores e empresários constroem pontes de futuro com acesso a ferramentas e equipamentos de ponta, muitas vezes inacessíveis nas escolas.
Outro exemplo do que somos capazes de fazer enquanto cidade inovadora é o turismo industrial, criado em 2012. Este projeto, onde fomos pioneiros, mostra como a criatividade na gestão autárquica, aliada à colaboração com fábricas e instituições locais, pode gerar resultados sólidos e sustentáveis. Em 2024, essa aposta foi reconhecida com o Prémio Nacional de Turismo, na categoria “Turismo Inovador”. Este reconhecimento nacional prova que São João da Madeira é capaz de liderar com ideias que valorizam o território, a sua identidade e o seu património.
Acreditar em São João da Madeira é acreditar na força da nossa história, mas também na nossa capacidade de adaptação. Não podemos deixar que a marca “cidade do trabalho” se transforme numa memória nostálgica. Essa marca deve ser um compromisso diário com a qualificação, a inovação e o bem-estar das pessoas.
Temos o talento, o conhecimento e a vontade coletiva. Agora, é tempo de reforçar alianças entre empresas, escolas, instituições e poder político. Só com cooperação e visão partilhada transformaremos potencial em desenvolvimento.

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