Cara ADS, começo esta carta com a mesma palavra que a vai terminar: paixão. Nasci a 17 de janeiro de 1993, filho de um antigo jogador de futebol teu que, em 2001 viria a ser um dos presidentes mais jovens da história do clube. Foi à custa dessa decisão do meu pai, José Manuel Maia Neves, que comecei a gostar de algum desporto. No caso, o primeiro foi o futebol. Até então, não ligava a nada a não ser às consolas e videojogos da altura. Em 2001 nasceu, então, um dos maiores vícios da minha vida. Seguir-te incondicionalmente. Esta carta de amor à minha ADS tem várias caras. O meu pai é a maior delas, claro está, e por ele ter sido presidente, os meus primeiros grandes amores foram nomes como Bruno Conceição, Rui Pedro, o Piteira de Cuba do Alentejo que um dia veio a minha casa levar o nosso sofá da sala, porque o meu pai lho ofereceu, os livres incríveis do Lúcio Mário que me fazem lembrar um jogo contra o Odivelas, que colocou um jogador entre a trave e o poste e o Lúcio Mário colocou lá a bola e fez golo, o Cornell Glenn, que representou a Trinidad e Tobago no Mundial de 2006, o “matador” Renato Queirós, a jovem promessa Machado, entre muitos outros. Tinha eu 8 anos e lembro-me de ter começado a percorrer o país por este amor. Neste ano apareceu, também, o Hóquei em Patins na minha vida e foi no Pavilhão das Travessas que vi o primeiro jogo ao vivo de Hóquei, um Sanjoanense-Gulpilhares. Lembro-me do Celestino, das defesas incríveis do Cláudio Bessa, do Meireles... Com 8 anos, fiz parte da claque Juve Negra, ressurgida pela força do meu irmão e dos colegas de equipa das camadas jovens de então. Com 8 anos e palmo e meio, orgulhosamente era o homem da bandeira.
O meu pai saiu da presidência no final dessa época, mas o amor não diminuiu. Em 2003/04, vem uma das melhores memórias de sempre. Treinados por Luís Castro, nunca esquecerei o dia em que tombámos o Gil Vicente da I Liga, da Taça de Portugal, com um 2-0 em Barcelos, golos do Cruz e do Hugo Soares. Nesse ano sonhei muito com a subida à II Liga...
Em 2007/08, o meu pai voltou ao futebol sénior e, nessa época, inscrevi-me como sócio e festejei a primeira conquista, enquanto adepto: a subida à extinta II Divisão B pela mão do treinador José Viterbo, outro amor nesta história de amor que teve também o Moisés, o central goleador Mohamed, o Toninho, o Bobó, o Marcinho. Em 2010/11, conseguimos o feito incrível de subir só com jogadores da casa. Obrigado Alex, Rui Miguel, Deco, Tiago Raúl, Rúben Neves, Muge, capitão Tó Frangolho, Janita, João Couto, Kikas, António e todos os outros desse ano. Foi à vossa custa que fiz a minha primeira intervenção, enquanto sócio, numa Assembleia Geral, para pedir à então Direção que disponibilizasse um autocarro para a reaparecida Juve Negra ir a Castelo de Paiva.
Foi mais ou menos por esta altura que começou a surgir outra grande paixão: o hóquei em Patins. Lembro-me da ADS do Paulo Barreira, dos livres do brasileiro Leandro Wada, do João Oliveira, do Xavier Pinho, mais tarde do Vítor Pereira e da promessa Nuno Maia, do Hugo Santos, do Marco Lopes, do Chico Barreira...
Comecei a seguir o Hóquei para todo o lado e, em 2012/13, vendia rifas à porta do pavilhão, algo que fiz durante mais uns bons três ou quatro anos. Por convite de Vítor Pereira passei a ajudar na comunicação do Hóquei e fi-lo durante oito anos. Em 2012, nasce a Força Negra, da qual orgulhosamente sou sócio desde a fundação. Comecei, então, a organizar autocarros, com a Norviagens, a AVFeirense, o Dany Bus, a MNC Viagens, a Transdev, a AV Reis, o Leandro... já lidei com tantas operadoras e já organizei dezenas de expedições, que já lhes perdi a conta. Lembro com enorme carinho a participação na final-four da Taça de Portugal, em Barcelos, e inesquecível foi a subida em 2013/14, frente ao Braga, nuns penáltis que eu não consegui ver, com um pavilhão completamente cheio. Esse foi o jogo da minha vida. Em 2014, conheci a minha companheira, amiga e namorada até ao dia atual, à custa precisamente... do hóquei em patins. Oito anos de Hóquei em Patins motivaram dois anos de pausa, mas sem nunca desligar o chip. Inesquecível ter organizado o buzinão de apoio em plena pandemia e confinamento para apoiar a equipa antes de um decisivo jogo em Viana do Castelo, e também a receção aos jogadores depois do jogo. Emocionei-me ao ver a ADS jogar na Europa e é impossível contar todas as loucuras que já fiz por esta paixão. Esta paixão proporcionou lidar com pessoas dos 0 aos 100 anos. Recordo com mais saudade os que já partiram. Se pudesse ter uma lista de pessoas inscritas num autocarro de há dez anos, várias já não estão cá para poderem percorrer o país pela ADS. O maior deles todos, o meu amigo Sr. Lourenço Araújo.
Num momento decisivo no futuro da ADS, quero guardar sempre a imagem do meu clube ser puro, bairrista, aquele que une todo o tipo de sanjoanenses. Para mim a ADS é fazer de tudo para arranjar boleia para todos os adeptos, ou acomodar num autocarro todos os que queiram ir ver um jogo, mesmo os que não podem pagar. É ouvir e perceber as preocupações, as alegrias, as tristezas dos sócios. É ter as mangas arregaçadas, as unhas negras e ir à luta a qualquer batalha. Que a ADS possa continuar a ser assim ou, se não o for, que os anos seguintes possam trazer de volta toda esta magia que envolve este enorme clube.
Termino esta carta de amor com uma citação do filme argentino “O Segredo dos teus olhos”. “Um tipo pode mudar de casa, de namorada, de religião, de Deus. Mas há uma coisa que não pode mudar: de paixão. Não pode mudar de paixão. Uma paixão, é uma paixão”.
Sócio 761