Opinião

Carnaval...

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Escapismo é uma palavra que ouvi estes dias a propósito de uma série televisiva. Escapismo retrata em verdade o carnaval. O problema é quando prolongamos esse escapismo para além do tempo que o carnaval nos permite e perdemos a capacidade de nos olharmos num espelho. Pensando melhor, como o natal é quando um homem quiser, o carnaval não foge à regra. Logo, procuramos ter todos os dias um pouco de carnaval, ou por outras palavras, agarrar o espírito carnavalesco. Acredito mesmo que o carnaval é um estado de espírito.
Voltando atrás no tempo... Isto é, ao meu tempo de escola primária, na semana de carnaval tínhamos férias. O meu professor da época pediu-nos que escrevêssemos uma redação sobre o período em causa: o carnaval. Foi nessa altura que vi a minha primeira oportunidade para ser escritor.

Criar é possível...

No dia de carnaval, a RTP transmitiu em direto de Cascais, ainda a preto e branco, o cortejo carnavalesco. Esgueirei-me para uma tasca próxima da minha casa para não perder pitada. Pois, televisões em casa própria nem miragem chegava a ser. Era mesmo privilégio de muito poucos... Valia-nos as tascas e os cafés! Bem, lá escrevi a redação com tanto realismo que até eu fiquei surpreendido com a minha capacidade. Pois, para tornar a coisa mais real, resolvi pôr no tal texto que tinha estado em Cascais com os meus padrinhos, que de toda a família eram os únicos que tinham meios económicos para tal feito. No recomeço das aulas, para gáudio meu, o meu texto foi comentado por todos os professores. O problema foi quando fui confrontado com a pergunta: “Isto é mesmo verdade?! Estiveste lá?!” Estas perguntas eram feitas com um ar ameaçador... Escusado será dizer que não consegui continuar a manter a mesma história. Ainda tentei dizer que foi tudo imaginação minha, e que, ingenuamente acreditava que no carnaval ninguém levava a mal.
O meu texto não foi valorizado e muito menos a minha imaginação e criatividade. Podia ter escrito sobre os mascarados espontâneos que passavam na minha porta, esses sim, libertavam-se das amarras de um regime obsoleto, e por um dia eram o que não podiam ser ao longo do ano. Não pensem que não gosto do carnaval, Continuo a ser fã do espontâneo, daquilo que as pessoas querem ser e não daquilo que lhes é imposto. Aliás, penso mesmo que S. João da Madeira, a exemplo do que já se faz noutros locais, poderia ter um carnaval aberto aos espontâneos. Fica aqui a ideia.
Nas músicas, Ash Grove.
Nos livros, “Da mão para a boca”, de Paul Auster.
Deixei-me embalar pelos blues que vos apresentei e fiquei a pensar: caramba, o sol devia mesmo brilhar para todos. Vai-se lá saber porquê. Fiquem bem!

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