Opinião

Benjamim José de Araújo, primeiro presidente da Câmara

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Benjamim José de Araújo nasceu no lugar do Pedaço, em S. João da Madeira, no dia 25 de dezembro de 1857. É filho do sanjoanense António José de Araújo, com ligações à Casa do Roupal, e de Teresa Joaquina de Pinho, da família dos “Pinhos” da Corujeira, de Milheirós de Poiares. Curioso, mas muito comum naquela época, é o facto de a irmã do pai de Benjamim, Luísa Francisco de Araújo, ter casado com o irmão da sua mãe, António José de Pinho.
Este enlace matrimonial haveria de ser determinante na vida de Benjamim Araújo.
Aos 11 anos, vai com os tios para Manaus, capital do estado do Amazonas e principal centro financeiro da Região Norte do Brasil, para onde tinham emigrado vários membros da família da Corujeira.
Da sua juventude pouco se sabe. É muito provável que tenha vindo a Portugal algumas vezes antes de 1886, porque foi aqui que conheceu a mulher com quem casou nesse ano. Chamava-se Carolina José da Costa Neves, “uma rica proprietária”, natural de S. João da Madeira.

Benjamim José de Araújo (1902)

Benjamim regressa ao Brasil acompanhado da jovem esposa e retoma os negócio que desenvolve, em sociedade com outros membros da família, na cidade de Belém do Pará.
Em 1889, Carolina, então com 24 anos, adoece e morre. No final desse ano, Benjamim Araújo está de volta à sua terra natal. Durante a estadia, enamora-se de Josefina Amália da Costa, irmã de Carolina. Em face da desgraça que tinha acontecido à irmã, Josefina impôs como condição para casar com Benjamim, que ele não voltasse “a pôr os pés” no Brasil. Consorciaram-se em 1891 mas ele não cumpriu a promessa. A última década do século XIX é marcada por várias viagens de Benjamim Araújo ao Brasil, sem que alguma vez Josefina o tivesse acompanhado.
Em 1900, encontra-se em S. João da Madeira. Assiste ao nascimento do terceiro filho e é padrinho de casamento de Fulgêncio de Pinho com Laura Araújo, filha do dr. Manuel Maciel Leite de Araújo. É por essa altura que adquire uma importante área de terreno, no lugar das Vendas. Manda demolir o solar que nele se encontrava e, em seu lugar, faz erguer um luxuoso palacete que haveria de ficar concluído, em 1903.
Empresário de sucesso no Brasil, Benjamim Araújo, também o é em Portugal. Começa por ser sócio da firma “Viúva de José António da Costa & Sucessores”, especializada no fabrico de chapéus de feltro, tornando-se, pouco tempo depois, seu único proprietário e dos primeiros industriais sanjoanenses a introduzir a máquina a vapor no processo de fabrico. Na sua edição de 7 de fevereiro de 1903, o jornal “Correio da Feira” refere: O importante capitalista e industrial sr. Benjamim d’Araujo, vae reformar a sua fábrica de chapéus, estabelecendo-a a vapor para manipular chapéus de feltro. (…) tem quase concluído o seu sumptuoso palacete, na Praça, que é dos primeiros nas nossas redondezas”.

Palacete de Benjamim Araújo, nos finais de 1950

Benjamim e Josefina passam a habitar o palacete em março de 1904. O nascimento do quinto filho e último do casal, uma galante menina, em maio desse ano, coincide com um período de instabilidade na indústria de chapelaria. Para superar a crise, os industriais optam por uma estratégia de consórcios. Terá sido assim que surge a fábrica de chapéus a vapor “Oliveira, Palmares, Araújo & C.ª”, que tinha como sócios António José de Oliveira Júnior, Pedro Martins Palmares e Benjamim José de Araújo. O consórcio foi sol de pouca dura para este, a julgar pela notícia publicada no “Correio da Feira”, em 4 de março de 1905: Da firma Oliveira, Palmares & C.ª, que nesta freguezia funciona para exploração do fabrico de chapeus de felpo e lã, deixou de fazer parte, por sua livre vontade, o sr. Benjamim José d’Araujo, continuando todo o activo e passivo da sociedade a girar sob aquela firma.
Os anos que se seguem, são consagrados à família. Poucas vezes foi ao Brasil, a não ser pontualmente, como sucedeu em 1916, para constituição da “Casa Nicolaus & C.ª”, em sociedade com José Nicolau Soares da Costa, da Quinta do Vale (Casaldelo), e de Manuel Nicolau da Costa, conhecido por “Rei da Farinha”. Foi um negócio de oportunidade e de risco mal calculado, uma vez que se tratava da aquisição dos direitos de uma empresa falida, chamada “Melo & C.ª”. Nos anos subsequentes, Benjamim Araújo viveu com um pé em S. João da Madeira e outro em Belém do Pará.

Família de Benjamim Araújo (1952) Em cima: Manuel de Pinho, Renato Araújo, Joaquim Milheiro, Lídia Araújo, Pedro Philippet Araújo; João Lacerda, Teresa A. Lacerda, João Araújo, Any Philippet Araújo, Alberto Araújo e Augusto Araújo. Ao meio: Augusto Palmares, Diana A. Palmares, Josefina Araújo, Maria da Luz Araújo, Alice Seabra Araújo e Jeanne Philippet Araújo. Em baixo, os bisnetos.

Quando, em outubro de 1926, S. João da Madeira consegue a sua independência administrativa, Benjamim José de Araújo é nomeado presidente da Câmara Municipal do concelho recém-criado. Sem surpresa. Fazia parte da plêiade de sanjoanenses que, há muitos anos, vinham lutando por esse objetivo e era um dos beneméritos com quem o povo de S. João da Madeira podia contar. Entre outras contribuições para o desenvolvimento da sua terra, cedeu gratuitamente a sua casa, durante doze anos, para nela funcionar o “Telégrafo-Postal”; foi um grande amigo da instrução, com a qual gastou significativas importâncias, caso da Escola da Quintã; com auxílio da sua bolsa, alargaram-se caminhos e abriram-se novas ruas; em 1930, ofereceu uma valiosa área de terreno, em frente aos Paços do Concelho.
Benjamim José de Araújo faleceu a 11 de julho de 1935, na “Casa da Praça”, como chamavam os filhos ao seu palacete, demolido em 1960. Atualmente, não vive nenhum membro da sua descendência em S. João da Madeira.

 

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