É frequente abordar-se as eleições autárquicas, apenas na perspetiva da eleição do Presidente da Câmara Municipal e composição do respetivo executivo municipal.
A obtenção de uma maioria, de uma das forças concorrentes, resolve o problema da atribuição de pelouros. Se houver necessidade de haver acordos com outros, a situação pode gerar desconforto e o impasse negocial determina executivos frágeis, dependentes da Assembleia Municipal para a obtenção de votações favoráveis.
É nestes casos que a eleição dos deputados municipais é crucial para as forças partidárias. A proporcionalidade permite eleger um determinado número de deputados dos concorrentes mais votados e por vezes, existe a possibilidade de uma terceira força eleger o seu deputado, que num cenário de igualdade de eleitos dos mais votados, pode significar que o singelo eleito passa a ser importante para uma maioria.
Acrescente-se a inerência do voto do presidente da junta de freguesia, como deputado na Assembleia Municipal, para verificar-se como a votação para este órgão pode ser igualmente determinante para o funcionamento da autarquia.
Este é um cenário possível para o dia seguinte a 26 de setembro.
Uma diferença menor que os 20% de há 4 anos, entre os dois primeiros, pode criar o cenário atrás descrito.
Por isso, nas eleições da próxima semana, o PS vai tentar repetir o resultado de há quatro anos; a coligação PSD / CDS (extensível agora à Iniciativa liberal) tentará recuperar os eleitores que lhe fugiram em 2017 (depois de em 2016 terem sido brindados com uma maioria nas eleições intercalares); a CDU e o BE vão tentar, cada qual, eleger um vereador, procurando igualmente obter representação nos restantes órgãos autárquicos.
Com estas intenções e com a possibilidade de através da imprensa dar a conhecer o cabeça de cada lista, todos os cenários estão em aberto.
O cuidado dos partidos mais votados em 2017, em proporem os seus candidatos a presidente da junta de freguesia, ressalva a ideia da boa disputa eleitoral que se avizinha.
Pedro Neves a procurar recuperar tempo e protagonismo político e por outro lado, Rodolfo Andrade em missão partidária, expondo-se ao sacrifício político, são os ingredientes que tornam a eleição picante.
Em caso de vitória, qualquer um passa a ser caso sério para o futuro, provavelmente nas eleições de 2029.
Em causa está, igualmente, verificar-se se a partir de 2013 o Partido Socialista conquistou paulatinamente o eleitorado de São João da Madeira, culminando com a maioria obtida há quatro anos em todos os órgãos autárquicos, ou pelo contrário, o Partido Social Democrata foi vítima em 2017 de uma cisão interna que transpareceu para o eleitorado e o resultado dessas eleições foram pontuais e em 2021 tudo mudará?
Para terminar, uma referência para os dois mandatos bem conseguidos de Helena Couto. Infelizmente foi vítima da inércia do poder local, em matéria de cedência de competências, com os respetivos meios financeiros, técnicos e humanos.
Pelo que tenho seguido em vários debates realizados sobre eleições de outras geografias, o problema não é apenas de São João da Madeira. A ineficácia neste tipo de transmissão está sempre presente nas críticas dos opositores aos recandidatos. Havendo igualmente autarcas a lamentarem o mesmo tratamento por parte do poder central, em matéria de descentralização.
Centrando o foco novamente no concelho, parece ser mais fácil ceder recursos a uma empresa privada para exploração do abastecimento de água do que delegar competências a uma freguesia.
Será mesmo assim?