Opinião

As músicas da minha vida...

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Comecei a ouvir música pela voz da minha mãe. Ela tinha sido cantora no rancho do Tovim... Todos os sábados de manhãs, enquanto fazia as limpezas da casa, brindava-nos com a sua voz, projetando-a por todas as casas da vizinhança. A Maria Margalho era a voz do bairro, era a alegria para toda aquela gente. Cedo comecei a perceber que “quem canta, seu mal espanta”.
Lá em casa tínhamos um rádio onde íamos ouvindo a música que nos impingiam, estávamos em pleno: fado, Fátima e futebol. Ainda nos anos cinquenta colocavamos a nossa voz ao serviço da nação, pois todos os sábados íamos à escola primária para cantar o hino nacional, e outros hinos tipo: “Lá vamos cantando e rindo...”. Já naquele tempo convictos de que nada daquilo era verdade...
Naquele tempo, a alegria vinha de Espanha com um miúdo da nossa idade: Joselito, era o nosso ídolo! Ainda apanhamos a Marisol, a versão feminina do Joselito... Vem os anos sessenta e somos invadidos pela música francesa: Adamo, Gilbert Becaud, Francoise Hardy, Silvie Vartan, Johnny Holiday, etc. Alguns italianos, alguns portugueses que tínhamos que ouvir...
Rebenta a guerra no Ultramar, começa a nossa mentalização e lavagem aos nossos débeis cérebros. Amigos nossos partem e não voltam... Clandestinamente ouvíamos Zeca Afonso e também ouvíamos a rádio Argel com o Manuel Alegre. Por artes mágicas os nossos horizontes musicais abrem-se à música anglo-saxónica e assim começamos a ouvir Beatles, Stones, etc. Nesse tempo, como eu e os meus amigos não tínhamos dinheiro para comprar instrumentos, então tentávamos imitar os mesmos com as nossas vozes, cantando a cappella. Na escola Brotero, onde andava, a professora de canto coral no inicio do ano selecionava alunos para o coro da escola. Numa dessas aulas chegou a minha vez. Lá tentei dar o meu melhor de mim: dó, ré, mi, fá, sol, lá, si... No final, o veredicto da professora: a tua voz é desafinada. Como devem calcular, logo ali fiquei a saber que cantor não ia ser, se tinha algum sonho na área foi logo apagado. Mas foi coisa que não me afetou... honestamente naquele tempo não me estava a ver ir aos ensaios do coro perder tempo!
Sou mobilizado para a guerra. Já em Luanda uma das imagens que ficou comigo até aos dias de hoje num musseque, quando corríamos num exercício militar demos com um casal de nativos. Ele com uma viola rudimentar só com uma corda e um caixote; enquanto ele tirava um ritmo, ela dançava. Este quadro ficou sempre gravado na minha memória. Também ali voltei a perceber que quem assim tocava e dançava seu mal espantava... Curiosamente, foi em África que aprendi a gostar de jazz. Aprendi também que a boa música é aquela que no momento certo tem a capacidade de nos pôr a mexer e alegrar a nossa alma.
Quando voltei de África, o primeiro objecto que adquiri para a minha casa foi uma aparelhagem para poder disfrutar da música que eu quisesse ouvir. Vi alguns concertos ao vivo. Do qual mais me recordo é o concerto dos Genesis com o Peter Gabriel, no Dramático de Cascais. Fui à boleia com o meu amigo José Teixeira. Naquele período ainda se viviam reminiscências da revolução dos cravos. A segurança à entrada para o pavilhão era feita por soldados armados com a G3, que não se fizeram rogados quando se sentiram apertados pela multidão que forçavam a entrada. Vai daí, toca a disparar para o ar... Quem não se lembraria disto!? Outros concertos aconteceram ao longo dos anos, mas um dos concertos que mais recordamos cá em casa foi o de Lou Reed no Jardim da Sereia em Coimbra. Hoje em dia, divirto-me muito fazendo música de elevador. Este tipo de música depende sempre da inspiração do momento.
Voltando aos anos sessenta, havia na rádio um programa que se chamava “Tudo isto é vida, tudo isto é música”. Curiosamente o genérico do programa tinha um excerto de uma música que nunca esqueci. Volvidos tantos anos, volto a ouvir na música que vos proponho para esta semana o genérico desse programa: Deep Purple – Made in Japan. Como leitura, “Prometo falhar todos os dias” de Pedro Chagas Freitas.
Agora, é só mais um bocado… não vale a pena estragar tudo.
Fiquem bem! Ouçam música!

 

 

 

 

 

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