I. As recentes eleições no PSD suscitaram novamente a discussão sobre as diferenças entre as bases dos partidos e os respetivos aparelhos.
Nesta eleição foi patente que a maioria dos dirigentes partidários (Comissões Políticas Concelhias e Distritais) apoiavam Paulo Rangel; mas quem teve a maioria dos votos dos militantes foi Rui Rio. Como interpretar esta dessincronia?
Alguns dizem que as estruturas concelhias e distritais deixaram de representar as bases. Só que esta afirmação esquece que as bases que elegeram Rui Rio foram as mesmas que elegeram as Comissões Políticas Concelhias e Distritais. A legitimidade do líder nacional e das estruturas distritais e concelhias assenta no voto dos mesmos militantes.
Significa então que as estruturas distritais e concelhias se enganaram? Não. Enganou-se quem pensou que o voto dos dirigentes representava ou indiciava o voto dos militantes de base, na eleição do líder. Numa democracia representativa são a lei e os estatutos dos partidos que definem em que casos e circunstâncias os dirigentes partidários representam os militantes de base. Ora, de acordo com as regras do PSD, o líder do partido é eleito diretamente pelos militantes e não pelas estruturas partidárias. O que significa que o sentido de voto de um presidente de secção concelhia vale tanto como o voto de um militante anónimo.
Não se pode partir daqui para colocar em causa a legitimidade da representação dos dirigentes partidários concelhios e distritais, nas matérias em que a representação é legítima face à lei e aos estatutos partidários. Há que defender e preservar a democracia representativa como forma de poder.
A democracia representativa é o pior dos sistemas políticos, com excepção de todos os outros (adaptação de Churchill).
II. 47,5% dos militantes do PSD não votaram em Rui Rio para Presidente. Significa isto que apenas metade do Partido estará disponível para trabalhar nas próximas eleições legislativas? Terá razão António Costa quando diz que será muito difícil a Rui Rio unir o Partido para as próximas eleições? Claro que não. Não conheço nenhum militante do PSD que tenha votado em Paulo Rangel que prefira ver António Costa como Primeiro Ministro em vez de Rui Rio.
A democracia tem regras. Ultrapassado o período eleitoral, todos os militantes têm o dever de contribuir ativamente para a vitória do seu Partido.