Opinião

António Dias Garcia – o Conde benemérito (I)

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O Conde Dias Garcia é, sem sombra de dúvida, o maior dos beneméritos sanjoanenses. Possuidor de uma avultada fortuna, adquirida com muito trabalho e esforço no Rio de Janeiro, para onde emigrou com apenas 12 anos, distribuiu importantes somas de dinheiro por instituições de caridade do Brasil e de Portugal, designadamente de S. João da Madeira, a sua amada terra natal.
As benemerências em “prol da Caridade e da Igreja” foram em tal número que o papa Pio XI o agraciou com o título de Conde, “como testemunho de reconhecimento e apreço pelas suas nobres virtudes”.

António Dias Garcia e Maria Luísa Correia

António Dias Garcia nasceu a 2 de abril de 1859, numa humilde casa situada no lugar de Carquejido, propriedade do casal Manuel Dias Garcia (de Azevedo), lavrador, e de sua mulher Maria Margarida Rosa. Em 1871, como tantos jovens da sua idade, emigrou para o Brasil, em busca de uma vida melhor do que aquela que lhe parecia estar destinada: o trabalho duro e ingrato do campo.
No Rio de Janeiro, começou por trabalhar numa casa de ferragens, da qual se tornou sócio e, mais tarde, proprietário. É assim que surge a firma “Dias Garcia & Cia”, fundada em 1893, pelo sócio solidário António Dias Garcia e pelos comanditários Albino de Azevedo Branco e Manoel Dias Garcia, tendo como objeto o comércio de importação de ferragens em geral, especialmente ferragens grossas, louças de ferro, cimento, tintas, telhas zincadas, arame farpado e liso, material para caminhos de ferro e artigos para a lavoura.
Posteriormente, foi anexada ao negócio uma secção de cereais e cafés. Uma boa parte destes produtos destinavam-se à exportação para a Europa e Estados Unidos. Com um volume de negócios sempre em franco crescimento, a casa foi-se expandindo, de tal modo que, no início do século XX, contava já com mais de 200 colaboradores.
Pelas suas virtudes, pela sua inteligência e porte distinto, António Dias Garcia conquistou um lugar próprio na comunidade portuguesa e na sociedade carioca. Em 1896, consorciou-se com Maria Luísa Correia, de 18 anos, filha do sanjoanense Albino Francisco Correia que, entretanto, se tornara ´sócio da “Dias Garcia & Cia.”.
No verão de 1901, genro e sogro, acompanhados das respetivas esposas, filhos e alguns familiares, vêm do Brasil para uma estadia de várias semanas em S. João da Madeira. A notícia da chegada dos “ricos proprietários e negociantes” do Rio de Janeiro à sua terra natal é divulgada pelo jornal Correio da Feira, na sua edição de 10 de agosto daquele ano: “Chegaram hontem a esta freguezia, os senhores Albino Francisco Corrêa (da casa do Nixo) e António Dias Garcia e suas familias. Tiveram os nossos amigos uma recepção estrondosa. Nada menos de 15 carruagens foram á estação de Ovar esperar os nossos conterraneos. No sitio das Corgas d’esta freguesia eram esperados por duas philarmonicas, subindo ao ar muitissimo fogo que se prolongou até 7 horas da tarde. Foi embandeirado o trajecto, desde a Buciqueira até á casa do Nixo, proximo á egreja, onde esta illustrada familia vae residir. Fazemos votos para que a sua permanencia seja longa, porque muito terá a lucrar esta freguezia.”
07Pela forma como está redigida a notícia, assinada pelo correspondente Z, depreende-se que, tanto Albino Francisco Correia como António Dias Garcia, não tinham ainda os seus créditos firmados na terra que os viu nascer. O anúncio da sua vinda, feito duas semanas antes pelo mesmo articulista com base num “telegramma aqui recebido” e a possibilidade – mais que provável – de os “ricos proprietários” serem beneméritos em S. João da Madeira, como já tinham sido no Rio de Janeiro, fez com que as autoridades locais preparassem uma receção com a pompa e circunstância que o momento exigia.
Este tratamento especial não foi, com toda a certeza, determinante no projeto de benemerência delineado pelos dois para S. João da Madeira, mas terá tido algum peso. Nas edições do “Correio da Feira” que se seguem, a presença dos nomes Albino Correia e António Garcia são uma constante e passam a vir acompanhados do epíteto “benemérito”: “Completou na 5ª feira ultima tres primaveras o filhinho Nelito do benemérito sr. Antonio Dias Garcia (…)”; “Falleceu n’esta freguezia a sr.ª D. Joaquina Corrêa, da casa do Nixo, irmã do importante capitalista e benemerito d’esta terra, Albino Francisco Corrêa (…)”.

(Continua)

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