Opinião

Amor platónico...

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De visita a Coimbra. Desta vez, o que nem sempre acontece, vamos com tempo para usufruirmos da cidade. A metamorfose das pessoas naturalmente que se vai alterando. Um rosto ou outro, nos quais tento adivinhar sinais de outros tempos, mas não arrisco.
A fisionomia da cidade também se vai alterando. Tudo esburacado... Ao que parece, o futuro está aí perto! A cidade vai ter metro de superfície. Mas até lá?! Numa das manhãs, aproveitei para fazer uma das minhas habituais caminhadas.
Saí de Celas e dirigi-me para a Av. Dias da Silva. Ao entrar na avenida, ao lado da faculdade de Economia, olho para o outro lado da avenida e dou de caras com o palácio, onde há uns longos sessentas anos vivia a Magasafi (nome fictício). A Magasafi foi a minha primeira paixão. Ao longo dos anos, em que estudei na Brotero e ela na Infanta Dª Maria, a saída das aulas aconteciam às17h30m, as chamadas saídas monumentais. Eu saía a correr para ainda a ver sair, e, então aí começava o péríplo até casa dela, que durava entre vinte e trinta minutos. Eu seguia sempre atrás, a cerca de trinta metros ... Quando ela chegava a casa despedia-se das amigas que a acompanhavam. Eu desesperava pelo menos por um olhar. Nada... Aos domingos, ia ver a saída da missa na igreja da Santo António dos Olivais, e lá vinha ela... Eu, lá seguia atrás os trinta metros até ao campo de basquetebol dos Olivais. Houve domingos, que quando estava a jogar, ela fazia o mesmo jogo que eu fazia: ia ao campo de basquetebol dar uma espreitadela... Nunca falamos, nunca estivemos perto um do outro, bem, a não ser nos momentos que eu me colocava no caminho que ela ia percorrer.
Naquele dia, depois de olhar para o palácio, agora renovado, recordei que um amigo me disse que a Magasafi vivia agora em S. Sebastião, na mesma rua onde eu vivi... Coincidências! Pus-me a caminho. Uns metros mais à frente a minha escola primária, logo a seguir o Olivais Futebol Club. Mais duzentos metros e temos a Igreja de Santo António. Subi a escadaria e fui visitar o presépio, já com uma centena de anos. Da igreja vê-se a tutoria, local que serviu para que as nossas mães nos ameaçassem com uma ida para lá se os nossos comportamentos não fossem os mais adequados.
Dirigi-me para S. Sebastião. Passei pela Rua do Brejo, onde vivia o meu amigo Soares, tantas aventuras que vivemos! Bem, essas aventuras ficam para uma nova crónica. Depois o café Bossa Nova, onde aprendi jogos de tabuleiro. E, lá estava a capela de S. Sebastião, ao lado a minha velha casa... Dirigi-me para o Rolão, a casa dos Maias de Carvalho... Dei meia volta, a cabeça fervilhava de memórias e perguntas: “Como estará ela agora?”. Fiquei sem saber, desta vez não a vi.
Depois de divagar serenamente pelas memórias, regressei às pessoas com quem sou feliz e com quem partilho a cumplicidade a que chamamos amor. Fomos levar o Pedro ao pavilhão Dr. Mário Mexia. De novo a tocar nas memórias, pois ao lado da pavilhão está o Liceu Infanta Dª Maria e a Escola Brotero. De seguida, e porque fazia parte de uma promessa feita a nós mesmo, fomos ao Café Santa Cruz, que está a comemorar o seu centenário. Entre cafés, uma queijadinha de Tentúgal e um crúzio a conversa fluiu neste café tão emblemático de Coimbra, acabando com uma mensagem de voz para o nosso amigo Andriy de apoio e muita força. Do Santa Cruz, passando pelo Arco de Almedina seguimos até à pastelaria Briosa, onde não pudemos deixar de comprar um suspiro dos gigantes, claro! Ainda tivemos tempo para um suave olhar para o Mondego. O Pedro já esperava por nós para regressarmos a S. João.
O meu amor platónico ficou como está àcerca de sessenta anos... sem alimento, desta vez e mais uma vez não a vi.
Na música, Big Big Train.
Nos livros, um livro que o meu filho me ofereceu no Natal, “Minset A atitude mental para o sucesso”, da Drª Carol S. Dweck.
Bom ano!

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