Pondo isto em números, seria interessante que o anúncio de Zero Resíduos fosse equiparado a Zero euros na taxa de resíduo sólidos.
A adesão ao compromisso Zero Resíduos, pela Câmara Municipal de São João da Madeira, segundo foi noticiado neste jornal, na sua edição 3896, de 15 de junho deste ano, afigura-se como uma excelente medida para alterar hábitos ambientais da população local.
Com objetivos determinados, pretende-se recolher 100 quilogramas por ano de resíduos indiferenciados e em simultâneo atingir os 75% de resíduos reciclados, até 2030.
É praticamente uma inversão na proporção atual, pois segundo a notícia publicada na edição de 8 de Junho deste jornal, apenas 16% dos resíduos foram reciclados em 2021. Relembre-se que na mesma notícia era indicado o crescimento de 1,8% face ao ano anterior.
Com este dado, pode parecer demasiado ambicioso o plano delineado para 2030.
Depois de vários anos de reciclagem, com educação escolar, com implementação de ecopontos por várias ruas da cidade, com alteração de hábitos pessoais com separação doméstica de resíduos, com centro de recolha com possibilidade de valorização, o rácio obtido, apesar de ser superior à média nacional, só permite olhar para a meta de 2030, com alguma reserva.
É claro que vão ser traçadas várias ações, incluindo o reforço de ecopontos por habitação. Apostando-se igualmente em compostagem, entre outras medidas.
No horizonte temporal definido, haverá certamente alterações nos hábitos de consumo, com as embalagens a tornarem-se mais leves, por pressão dos consumidores ou por opção dos produtores, sendo igualmente plausível o regresso à venda a granel, com o consumidor a poder abastecer-se com embalagens reutilizáveis.
A própria economia circular, em desenvolvimento para a próxima década, poderá encontrar soluções para o meio doméstico e com isso encontrar-se valorizações dentro de portas, que poderão ajudar a população na redução da produção de resíduos.
Enquanto tudo isto não acontece, não passando de hipóteses académicas, será necessário envolver rapidamente a população, para que o incremento anual seja na ordem dos 8%, ou seja, mais de quatro vezes do que atualmente.
A proporção de separação deve ser bem entendida.
Para quem tem em casa um ecoponto de três divisões, cada qual com 25 litros de capacidade e um simples caixote de lixo, com igual capacidade individual, ao encher-se o caixote de lixo doméstico, será necessário encher com resíduos reciclados os outros três caixotes, com a naturalidade dos hábitos de consumo.
Na prática quem pratica a separação, sabe que as embalagens de plástico são consumidas em maior quantidade. No entanto, para a proporção pretendida, a métrica mantém-se independentemente do tipo de resíduo separado.
Com esta noção, é fácil dentro de casa saber-se a proporção volumétrica produzida e assim, a aproximação ao peso pretendido, torna-se mais exequível.
É igualmente importante premiar a população. Se existem objetivos ambiciosos, é perfeitamente justo que a taxa de resíduos sólidos, associada à conta da água, seja ajustada ao longo dos anos, caso os sucessivos incrementos sejam atingidos.
Não é concebível um plano para redução de resíduos, com incremento da valorização, face ao aumento da tonelagem reciclável, não prever igual proporção de desconto nas taxas cobradas aos consumidores de água, ou seja, a toda a população.
O envolvimento será mais concretizável, caso haja benefício direto da população.
Pode inverter-se neste campo a não reversão das taxas da água, que mesmo após o investimento público, via fundos comunitários, efetuada na rede de abastecimento, para evitar perdas de águas, manteve a cobrança a totalizadores, penalizando os consumidores, que vivem com esses equipamentos instalados nos seus condomínios.
Pondo isto em números, seria interessante que o anúncio de Zero Resíduos fosse equiparado a Zero euros na taxa de resíduo sólidos. Interessante, cativante e motivador para incluir totalmente a população.