A reclamação dos munícipes é frequente e saudável em democracia, sendo indicador da liberdade de expressão, da participação cívica e da consciência de direitos.
A diversidade de opiniões gera descontentamentos naturais mas, o apontamento pode produzir queixas e ajuda a responsabilizar autarcas, na procura de melhorias nos serviços municipais e no cuidado do espaço público. Os munícipes, ao expressarem o seu descontentamento, ou ao apontarem deficiências nos serviços, estão, na verdade, a exercer pressão sobre o poder estabelecido para que o atendimento seja de acordo com as suas expectativas e necessidades.
A resposta eficaz das autoridades é crucial para fortalecer a democracia, pois reclamar é vital numa democracia funcional, não podendo o ato ser visto apenas como uma mera expressão de descontentamento, devendo sim, ser enquadrado como o interesse dos munícipes em participar. Esse envolvimento pode aferir a qualidade dos serviços municipais e mesmo servir para um afinamento das políticas a desenvolver para o bem estar das populações.
Existem vários mecanismos democráticos que facilitam a apresentação de queixas. A frequência com que estas reclamações ocorrem, reflete os níveis do sentimento de pertença dos cidadãos à sua comunidade. Uma alta densidade de reclamações pode ser interpretada como um sinal de uma cidadania ativa e vigilante, enquanto um baixo nível de queixas pode sugerir apatia ou desconfiança nos canais existentes para a sua expressão. Contudo, é essencial distinguir entre a reclamação construtiva, que visa a melhoria, procurando soluções e a reclamação destrutiva, motivada pelo mal estar ou por interesses partidários.
A partilha de reclamações nos órgãos de comunicação social, ou nas redes sociais, é um sinal de que o cidadão sente que é ignorado ou pouco importante, permitindo a erosão da confiança entre a população e os seus representantes. A capacidade do executivo municipal em ouvir e em responder adequadamente às vozes dos munícipes é um indicador crucial da saúde institucional e de qualidade democrática.
Respostas gastas, por serem repetitivas e não significando ação concreta, não contribuindo para a resolução do problema colocado, são, numa democracia madura, desconsiderações para os reclamantes ou minimizações do seu interesse.
O mesmo acontecendo com a divulgação de notícias, com factos concretos, que devem ser acolhidos como um feedback valioso, por serem provenientes de canais abertos, com filtro de verificação e aferição de interesse para população e que ajudam a fortalecer os laços comunitários, por promoverem a melhoria da gestão municipal.
Numa democracia, o leitor é disputado pelos órgãos de comunicação social e enquanto eleitor, esse mesmo leitor passa a ser seduzido pelos partidos políticos. Neste capítulo, os jornais locais são espaços de diálogo entre os cidadãos e os seus representantes e como tal, são um veículo fundamental para transformar as reclamações em oportunidades de crescimento e desenvolvimento democrático. Os próprios partidos políticos tentam seduzir os eleitores através dos jornais locais, quer pela emissão de comunicados, ou simplesmente manifestando, eles próprios, a sua visão sobre reclamações. E neste contexto da imprensa local e regional, os executivos municipais expõem, por vezes, as suas políticas, em resposta ao problema levantado.
Tudo em nome da transparência, da prestação de contas e da participação genuína, valores da democracia conquistadas em abril de 1974. Dos jornais locais, os seus leitores não esperam ocultação de factos, nem cedências a pressões e muito menos, a intimidações.