Texto de homenagem de Manuel Pereira da Costa, diretor d'O Regional, a Arménio Adé e Armando Tavares de Almeida.
Adé é o nome literário de um sanjoanense adoptivo que se dedicou a esta cidade e aqui ganhou as suas esporas de ouro através do jornalismo de opinião cujo traço comum era a independência do pensamento, a crítica sem tibieza nem exagero, o tratamento a todos por igual. Sem que o tivesse conhecido, seguia as linhas mestras traçadas por Manuel Tavares – o exemplo máximo do jornalismo de opinião que nestas páginas praticou durante mais de quarenta anos.
Armando Tavares de Almeida foi o pintor de S. João da Madeira por excelência – e a esta terra bendita dedicou o melhor do seu talento com dezenas e dezenas de exposições e a publicação de milhares de postais ilustrados que distribuía com garbo e bem-querer. No que respeita ao modo “Still life” bem se pode dizer que é mestre consumando, de que é exemplo a pintura da nossa Igreja Matriz – como se pode constatar pela pintura a óleo que ilustra esta crónica.
Armando Tavares de Almeida lutou até à cisão do fio Ariadne que antigamente se chamava a peste negra, hoje conhecida por um vírus com nome próprio. Desde sempre a humanidade lutou contra os seus fantasmas, desde sempre o Homem disparou contra si mesmo. Quando o casal Pasteur chegou com as suas vacinas, por um tempo se julgou que os “Deuses e os Demónios da Medicina” tinham encontrado o antídoto necessário para salvar o Homem dos seus males. Mas não, o mal era mais fundo. Como anotou no seu diário o Cardeal Cerejeira, perito nos temas da Idade Média – “Mil anos sem um banho!” Como quem dissesse que o tempo das casas sem janelas já passaram, mas nem por isso o Homem se livrou dos seus augúrios.
O espólio que Armando Tavares de Almeida nos deixou garante-lhe um nome na galeria “Daqueles que por obras valerosas / Se vão da lei da morte libertando” – como deixou dito o lírico dos líricos e o épico dos épicos Luiz Vaz de Camões.
Amigo dos seus dilectos e dilecto dos seus amigos, o Armando Tavares de Almeida era sempre o primeiro a telefonar nos dias de orago ou de festas familiares, dando vez a charlas de bem-querer em que as palavras corriam como em veiga de Maio. Foi o pintor de S. João da Madeira por mérito e excelência – de que são prova plena as dezenas e dezenas de quadros de que tirou centenares de cópias que distribuía generosamente.
Por tudo o que fica dito e pelo que mais avém, Armando Tavares de Almeida deve ser lembrado pelos seus conterrâneos, em homenagem ao talento, à bondade genuína, ao bem-querer, ao vínculo à sua terra, à paz de espírito que era o seu desenho na face. Atrevo-me a dizer, por firme convicção, que o Município de S. João da Madeira muito deve a esta figura discreta que todavia dedicou à nossa terra um talento de raiz. Como ilustra Antero de Quental (o Santo Antero de Eça de Queirós) aqui fica a coda lustral.
“Na mão de Deus, na sua mão direita,
Repousou afinal meu coração.”
Et animam levavi,
Manuel Pereira da Costa