Opinião

A Quinta Coluna de Putin

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A expressão Quinta Coluna tem a sua origem na Guerra Civil espanhola. O General fascista Emilio Mola, numa entrevista em 1936, terá dito que, para além das quatro colunas militares que se aproximariam de Madrid, uma quinta coluna de apoiantes, dentro da cidade, desestabilizaria por dentro a resistência republicana. Tal terá inspirado Hemingway que imortalizou a expressão quando publicou a sua obra A Quinta Coluna e as Primeiras Quarenta e Nove Histórias.
Como já referi várias vezes, nós estamos em guerra. Mesmo que não tenha havido declaração formal de guerra. Ou apesar dos líderes europeus, com algumas exceções, notoriamente de Macron, não se terem dirigido aos seus povos para explicar a gravidade da situação. Estamos em guerra, apesar da violência e da destruição só aparecerem nos aparelhos de televisão e nos telemóveis. E de ser uma guerra em que entes queridos não são enviados para a frente de combate. Ou uma guerra em que o nosso sofrimento é mediado pela dor de tantas famílias ucranianas.
Numa guerra, como nos ensinaram várias gerações de europeus, há dor, sofrimento, sacrifício económico, e alteração dos planos de negócios e das aspirações de vida. Infelizmente, repito, nenhum líder europeu foi ainda capaz de nos inspirar para que abracemos o custo que teremos que pagar. Perante essa cobardia, fraqueza ou incapacidade, crescem os movimentos de resistência, e aumentam as distrações.
O Presidente Putin, e o seu Ministro Lavrov, já o afirmaram várias vezes: as sanções vão criar problemas aos Aliados no fornecimento de energia, aumentando os preços, e vão afetar as cadeias de valor do abastecimento alimentar, arriscando fome nos países mais pobres. E um só evento é responsável por tudo isso: a invasão ilegal da Ucrânia pelo exército russo em nome de uma interpretação imperialista da história feita por um Presidente russo em fim de vida mas ainda traumatizado pela guerra fria.
Há duas respostas possíveis perante a inevitabilidade do sofrimento económico que se aproxima.
Uma, protagonizada em Portugal pelo PCP, é a de rejeitar o sacrifício que nos é pedido aproveitando a guerra e a política de sanções para desestabilizar os nossos governos e as nossas instituições. Usam o nosso sofrimento económico para capitalizar politicamente e para alterar os fundamentos das nossas democracias e da nossa liberdade de expressão. Querem reverter o curso da confrontação com a Rússia, concedendo-lhe uma vitória estratégica, de longo prazo.
A outra resposta é a de aceitarmos o preço a pagar, em nome da preservação do nosso modo de vida. É a de nos sacrificarmos para rejeitar que a agressão russa venha a compensar. É a de viver pior, durante algum tempo, para que possamos continuar a beneficiar de um mundo organizado com base em regras e não na lei do mais forte. Para que as liberdades de expressão, de pensamento, de organização económica, vinguem. Para que a pluralidade vença a violência da unicidade sobre cada indivíduo. E para que, no final, retomemos o caminho da prosperidade, ainda que por vezes seja uma caminhada demasiada lenta e com imensa desigualdade.
Com certeza, devemos e podemos exigir aos nossos governos que tudo façam para mitigar todos estes obstáculos. Ou esperar que as nossas Câmaras Municipais aproveitem a oportunidade desta crise para reforçar a autonomia e eficiência energéticas dos seus concelhos. Ou para pedir à nossa indústria que melhore os seus sistemas de gestão e de mitigação de riscos, ou que diversifique ainda mais os seus mercados de exportação.
Mas o que não devemos e não podemos fazer é rejeitar o sacrifício, vergarmo-nos perante o medievalismo do realismo militarista e, assim, tornarmo-nos, dentro de portas, na Quinta Coluna de Putin.

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