Opinião

A propósito da estátua de Humberto Delgado

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Cada espaço geográfico e social contém marcas da história do país em que se insere: o todo está em cada uma das partes.
Lembrar as figuras que construíram a nossa história e que a direcionaram em caminhos que levaram à liberdade é alicerçar solidamente a nossa identidade regional.
Homenagear Humberto Delgado é trazer para S. João da Madeira o passado de luta antifascista, bem marcado também por cidadãos sanjoanenses que se não dissociam do general porque também eles agiram sem medo.
As vastas manifestações de apoio a Humberto Delgado que antecederam as eleições presidenciais de 1958 e o impacto da emblemática frase “Obviamente, demito-o!”, por ele proferida, quando questionado sobre a postura que assumiria face a Salazar se fosse eleito Presidente da República, levam-nos a crer que o General sem Medo sairia vencedor se não tivesse havido fraude eleitoral. Nestas eleições, muito reduzido foi o número de localidades que conseguiu impedir a proibição da presença de opositores ao regime no controlo do ato eleitoral, e S. João da Madeira foi um desses casos. Como resultado, tivemos a vitória de Humberto Delgado, num total de 727 votos contra 527 para o candidato do Estado Novo, Américo Tomás. Este é o cordão umbilical que liga esta figura histórica à nossa cidade… se não nos bastar a coragem e a capacidade de lutar que nos une.
Criar um espaço cultural onde se ergue a figura do General sem Medo é abrir a possibilidade de fazer acontecer, por exemplo, aulas fora do contexto das quatro paredes das salas escolares, num produtivo contacto com a Arte e a História. É gerar a oportunidade de homenagear o lutador que não queremos ver esquecido e o escultor, Leonel Moura, que está a construir uma obra indelével a nível nacional e internacional.
Erigir um monumento desta índole é assumir a importância da tripartição temporal: trazer o passado para o presente e projetá-lo, sem limite, no futuro.
Agrada-me acolher Humberto Delgado nesta nossa cidade, agrada-me pensar que todos os que decidiram o nosso rumo coletivo no sentido da liberdade e da democracia se veem reconhecidos e valorizados… também em S. João da Madeira.

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