Opinião

A História de S. João da Madeira (2)

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Foi preciso esperar 52 anos até à publicação da segunda monografia de S. João da Madeira. A obra futura de maior fôlego, preconizada pelos autores da primeira, publicada em 1944, foi lançada durante as comemorações do 70º aniversário da Emancipação Concelhia. Estávamos em 1996 e a obra, a que foi dado o título S. João da Madeira – Cidade do Trabalho, vinha, finalmente, acabar com um vazio que há muito se fazia sentir no meio cultural sanjoanense.
O livro escrito em 1944 por Mário Resende Martins, José Fernando Teixeira e Manuel Dias da Silva foi, durante muitas décadas, motivo de orgulho para os filhos desta terra e de admiração para os outros, uma espécie de bíblia de leitura obrigatória para todos aqueles que quisessem saber como nasceu e se desenvolveu S. João da Madeira. Mas, inexoravelmente, os anos foram passando. Os assuntos tratados pelos autores ficaram desatualizados e as fotografias de Domingos Alvão e de Carlos Alberto da Costa inidentificáveis para as gerações mais novas.
Em 1982, a autarquia sentiu a necessidade de reparar essa falha. A escolha para a realização da obra recaiu sobre Belmiro António da Silva o qual, em conjunto com João da Silva Correia, tinha elaborado o primeiro “esboço” de uma monografia do concelho, publicado na revista Portugal Económico Monumental e Artístico, da Editora Lusitana, em 1942. Confrontado com o tipo de obra que se desejava, Belmiro Silva declinou o convite. O Presidente da Edilidade, José da Silva Pinho, lançou então o desafio ao professor Maurício Fernandes que, muito embora apanhado de surpresa, numa altura em que havia sido oficialmente destacado para explorar o Património Cultural Oliveirense, respondeu afirmativamente ao convite que, para além de o deixar honrado, lhe proporcionava tão boa oportunidade de afirmar os velhos laços que o ligavam à Grei Cultural Sanjoanense.
Maurício Antonino Fernandes (1930-2020) nasceu em Felgueiras mas viveu quase toda a sua vida entre Oliveira de Azeméis, onde casou e residiu mais de seis décadas, e S. João da Madeira, onde foi professor de Português, Filosofia e História, na Escola Industrial, Colégio Castilho e Liceu. Desempenhou vários cargos em instituições do município oliveirense e, a convite da Câmara Municipal de S. João da Madeira, foi responsável pelo trabalho de catalogação dos livros legados à Biblioteca Municipal por José Moreira, realizado em 1980.
Foi autor de várias obras de caráter monográfico e também genealógico.
S. João da Madeira – Cidade do Trabalho acabou por ser um trabalho demorado. Cerca de 14 anos passaram desde que o acordo foi celebrado entre a Câmara de José da Silva Pinho e a sua apresentação pública, no dia 10 de outubro de 1996. Por um lado, e de acordo com o autor, porque seria impensável apresentar-se trabalho abonado e acabado, sem previamente se proceder a exaustivas buscas documentais em todos os fundos arquivísticos disponíveis, respeitantes à vida comunitária local, bem como a todo um levantamento do Património Sanjoanense. Por outro lado, a falta de tempo – assumida desde o início por Maurício Fernandes – não permitia realizar o trabalho dentro dos prazos desejados pela autarquia. Como se tudo isto não bastasse, o trabalho ficou num impasse durante largo tempo, por razões óbvias e alheias à minha vontade, como refere o autor no preâmbulo da obra. Para “manter a chama acesa” e, ao mesmo tempo, para justificar o atraso, a Câmara, à época liderada por Manuel Cambra, promoveu, em outubro de 1993, uma palestra subordinada ao tema Páginas de ouro do Património Cultural Sanjoanense, em que o professor Maurício revela as descobertas feitas por ele sobre as origens proto-históricas e históricas de S. João da Madeira, bem como sobre a origem do nome “Madeira”, entre outras de caráter geral.
Quando o livro é publicado, percebe-se que se trata, efetivamente, de uma obra de outro fôlego, quando comparada com a primeira. A investigação meticulosa realizada pelo autor no campo da proto-história, da genealogia e da toponímia é uma evidência nos três primeiros capítulos do livro, no nono e também no décimo, sem que ninguém – que saibamos – se atrevesse a questioná-la, exceção feita à designação do rio que atravessa o concelho. Já no que diz respeito aos outros capítulos, a obra ficou aquém do que era espectável. Desde logo, porque é notória a falta de cuidado no tratamento da informação recolhida, o que deu origem a várias incorreções e – o que é mais grave – a lacunas inexplicáveis. Motivos suficientes para Maurício Fernandes não ter escapado às críticas que lhe foram movidas por algumas figuras do panorama cultural sanjoanense de então.
Contas bem feitas, passou um quarto de século sobre a data da publicação da segunda monografia de S. João da Madeira. Se calhar, está na altura de se começar a pensar numa terceira monografia, aproveitando o precioso legado de Mário Martins, José Teixeira, Manuel Dias e de Maurício Fernandes, para uma obra de maior fôlego, necessariamente trabalho de equipa, de maneira a poder ser espelho fiel, em que se possam mirar os Sanjoanenses.

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