A história de S. João da Madeira, reunindo num volume os factos mais notáveis da vida do povo sanjoanense, era uma ideia que há muito tinha germinado no espírito de Belmiro António da Silva. Comunicou-a a João da Silva Correia, durante uma viagem de comboio a caminho do Porto, em 1928, convidando-o aceitar o desafio de, em colaboração com o padre dr. Serafim Leite, tornar esse sonho realidade.
Dessa conversa resultou que seria Belmiro Silva a dar passos nesse sentido. E foi o que fez. Tão cedo quanto possível, encontrou-se com o padre Oliveira, que paroquiou a freguesia de 1904 a 1916, o qual ficou de lhe fornecer alguns dados que a sua memória pudesse coligir, e com o dr. Albano Vicente Ribeiro, testemunha fidedigna dos acontecimentos que se desenrolaram nesta terra, desde os tempos de António Moreira da Silva (Dourado) e do dr. Maciel, até ao momento do encontro.
Não foram muito mais longe as démarches encetadas por Belmiro Silva porque João da Silva Correia acabaria por reconhecer a falta de tempo para cuidar de um empreendimento de tal natureza e porque Serafim Leite declarou não poder, pela mesma razão, tomar parte preponderante nos trabalhos da história da sua terra. Apesar disso, ambos se mostraram disponíveis para ajudar no que fosse necessário.
A ideia não esmoreceu e cada um, à sua maneira, foi contribuindo com subsídios para a história de S. João da Madeira, partindo do princípio de que o pouco que se faça, onde não há nada feito, sempre é alguma coisa. Serafim Leite foi, de longe, quem mais e melhor concorreu para o enriquecimento dessa história, designadamente com a investigação realizada, de que resultou a publicação do livro “S. João da Madeira na Idade Média. Documentos inéditos da Torre do Tombo”.
Contributo igualmente importante foi o do pároco António Maria de Almeida e Pinho, que agrupou pacientemente num livro manuscrito documentos sobre a história do culto, em S. João da Madeira. Nos anos que se seguem, o padre António Maria publica regularmente, no jornal “O Regional”, documentos inéditos do arquivo da paróquia, na rubrica a que deu o nome Naqueles Tempos.
Porém, foi preciso esperar até 1944 para os sanjoanenses verem anunciada - para breve - a obra por que todos ansiavam: Monografia de S. João da Madeira. A julgar pelo que diz A. L., o autor da notícia inserida na primeira página da edição de “O Regional”, de 13 de fevereiro de 1944, o processo da feitura do livro foi mantido longe da curiosidade do público e também dos jornais: Acabamos de ter conhecimento de que vai ser publicada, dentro de um mez. Uma bem apresentada e tanto quanto possível minuciosa “Monografia de S. João da Madeira”. São seus autores três novos conterrâneos, todos eles já formados e em plena actividade criadora: Dr. Mário Martins, que na medicina tem demonstrado o seu talento e dedicação; Dr. José Teixeira, formado em Ciências Económicas e Financeiras; e Engenheiro Manuel Dias, que, embora ausente, não esquece a sua terra.
Mas A. L. (António Lima?) sabia também que a obra seria composta das seguintes partes: História, Agricultura, Indústria e População. Todo êste trabalho – diz A. L. – é grandiosa e artisticamente documentado com muitas fotografias do nosso conterrâneo e distinto fotografo-amador sr. Carlos Costa.
Quatro meses depois, a Monografia de S. João da Madeira está publicada. É o próprio diretor de “O Regional”, José Soares da Silva, quem anuncia a boa-nova, no artigo de fundo da edição de 18 de junho de 1944. Referindo-se ao trabalho, diz ser digno dos maiores elogios e aplausos, porque desde a vistosa capa até à última página, se sente a preocupação que houve em fazer coisa útil proveitosa e bonita.
Ainda que possa parecer, não há exagero nenhum na apreciação feita por José Soares da Silva. A obra é útil, porque congrega informações variadas e conhecimentos dispersos sobre o concelho de S. João da Madeira, unificando-os e dando-lhes forma e coesão; é proveitosa, porque, apesar da escassez de fontes informativas, permite aos leitores – sanjoanenses ou não – conhecerem as origens desta terra e perceberem o progresso ascensional que a colocou ao nível das mais desenvolvidas do País; é bonita, porque na sua conceção imperou a qualidade e o bom gosto, a que não foi alheio o “discreto” mecenatismo de Ramiro Leão.
Uma obra destas, com os meios existentes à época, terá custado, como se diz na gíria de hoje, uma pipa de massa. E não foi por causa dos honorários dos autores e muito menos do fotógrafo amador Carlos Alberto da Costa. A este e aos outros, bastou-lhes a satisfação do dever cumprido, de terem servido – como os demais beneméritos – a sua terra. A despesa foi toda na qualidade do papel que serviu de suporte ao livro, na separata, na cor e nas chapas das fotografias que o ilustram. Os “simpáticos” 40 escudos a que então foi vendido cada exemplar pouco têm que ver com o preço que custa hoje uma raridade destas, em qualquer alfarrabista: cerca de 80 euros.
Não, não houve exagero no que disse o diretor de “O Regional”. A obra foi digna do “aplauso” dos sanjoanenses e recebeu os “melhores elogios” vindos de todos os quadrantes. Obviamente, merecidos! Nada que tivesse envaidecido os autores.
Cientes de que não tinham produzido um trabalho definitivo, vieram a público reforçar o que tinham deixado no introito que precede a obra: Trabalho a um tempo de compilação e de investigação, ele vale pelo que representa de esforço sincero para obra futura de maior fôlego.
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