Opinião

A guerra

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Tudo foi pensado e preparado com enorme antecedência. A Rússia mentiu ao mundo. O que é intolerável.

É impossível não falar da guerra. Da sua irracionalidade e irresponsabilidade. Ao invadir a Ucrânia, a Rússia violou de forma grave a soberania e a independência de um país. Um precedente gravíssimo depois da Segunda Guerra Mundial. Ao invadir a Ucrânia, a Rússia violou a Carta das Nações Unidas. Com a agravante de que a Rússia é membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Ao invadir a Ucrânia, a Rússia agiu de forma premeditada. Nada disto foi decidido por um incidente, um erro de cálculo ou uma circunstância lateral. Tudo foi pensado e preparado com enorme antecedência. A Rússia mentiu ao mundo. O que é intolerável.
É impossível não saudar o comportamento do Ocidente. Em crises anteriores similares, seja na invasão da Geórgia em 2008 ou na anexação da Crimeia em 2014, o Ocidente andou mal. EUA e UE foram tímidos, titubeantes e fracos a reagir. Desta vez, ao contrário, o Ocidente reagiu como deve ser: com a unidade que se impõe; com a coragem que se exige; com o sentido de prudência e responsabilidade que se requer para evitar um conflito maior ou ainda mais grave; com a determinação que se reclama na aplicação de sanções económicas duras; mas com a inteligência de quem sabe que o diálogo é sempre o caminho da solução e a guerra é sempre o caminho da destruição.
É impossível não registar a impotência das Nações Unidas. Esta guerra é uma violação grave da Carta das Nações Unidas. Mas as Nações Unidas não têm qualquer capacidade para sancionar a violação das suas regras nem qualquer instrumento para mediar a resolução do conflito. Nada disto é novo. Mas é grave. Se, num momento desta seriedade, as Nações Unidas não servem para agir, então para que servem as Nações Unidas? Não digo isto para defender a extinção das Nações Unidas – seria pior a emenda que o soneto – e muito menos para criticar o seu Secretário-Geral. Digo isto porque é tempo de reformar uma organização importante mas ineficaz.
É impossível não saudar a coesão política nacional em torno desta questão. A sociedade política portuguesa agiu globalmente bem. Da esquerda à direita, a generalidade dos partidos políticos, condenando sem reservas esta agressão, exibiu maturidade, responsabilidade, coerência e visão estratégica. A única e inacreditável exceção foi o PCP. O PCP tem todo o direito de não gostar dos EUA ou da NATO. Não é essa a questão. A questão é que, quando há uma agressão, há um agressor e um agredido. O dever de um partido responsável é condenar o agressor e apoiar o agredido. Tão simples quanto isto.
É impossível não saudar o único bom aspeto desta guerra: a solidariedade. O que vemos, de um lado, é morte, dor, sofrimento, crianças, jovens e mulheres a fugirem do horror. O pior que o mundo pode ter. O que vemos, doutro lado, é apoio, ajuda, generosidade, fraternidade, espírito solidário. O melhor que o mundo nos dá. As primeiras imagens suscitam indignação. As segundas são o nosso orgulho e a nossa esperança. Agarremo-nos à esperança para vencer a dor. É o que nos resta enquanto não volta a paz.

 

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