Opinião

A grande fraude 

• Favoritos: 46


No dia seguinte às eleições de 30 de janeiro, uma solução de maioria pode depender do partido que fique em terceiro lugar. De acordo com as sondagens, poderá ser um Bloco de Esquerda reforçado ou a extrema-direita de André Ventura. Neste artigo, apresento brevemente um político que se diz “anti-sistema” mas que é, na verdade, do pior que o sistema tem.

Ventura é inútil na luta contra a corrupção. Quando o parlamento discutiu a criminalização do enriquecimento injustificado, o Chega apresentou uma proposta inconstitucional. Deu bons vídeos nas redes sociais, mas não passou daí. Quando foi aprovada a lei que o Bloco e outros partidos propuseram, Ventura faltou à votação. O deputado diz agora que a lei é má, mas não apareceu para votar contra. Também diz que defende a punição do enriquecimento ilícito, mas não veio votar a favor. Corrupção nos clubes de futebol? Alguém o ouviu? Acabar com a vergonha dos Vistos Gold, que facilita a lavagem de capitais? Votou contra. Dinheiro escondido nos offshores? Caladinho, que há empresários amigos que não gostam que se lhes descubram os podres. Como o Bloco tem demonstrado nas comissões de inquérito, é o poder financeiro que alimenta o monstro. Sem acabar com os offshores e os vistos gold não se combaterá a corrupção.

Ventura quer tirar aos pobres para dar aos ricos. O programa do Chega tem duas ideias. Para os pobres, é cortar no Rendimento Social de Inserção, que não chega sequer a 100 mil famílias e não passa de 260 euros por mês para cada uma. Uma em cada três daquelas pessoas é ainda criança, mas isso Ventura nunca disse. A segunda ideia, para os muito ricos, é uma borla fiscal, nada menos que uma taxa única de IRS de 15%. O famoso banqueiro que recebia uma pensão de 175 mil euros por mês pagaria menos 600 mil euros de IRS por ano. E o deputado Ventura reduziria o seu próprio IRS para metade.

Ventura alimenta-se do ódio e da desumanidade. O líder da extrema-direita é o único político condenado em tribunal, por racismo. Bem sei que ele se orgulha disso. Mas o racismo é indigno, não se pode fazer carreira a pisar as pessoas. O Papa Francisco perguntou recentemente: se fosses migrante ou refugiado e o arame farpado não te deixasse entrar, o que dirias? Um país decente responde que acolhe quem foge da guerra e da fome.

Ventura despreza os profissionais de saúde. André Ventura ouviu, como todos os portugueses, o apelo desesperado de médicos e enfermeiros quando, no pico da pandemia, pediam a todas as pessoas que se vacinassem, porque é isso que evita a sobrelotação dos cuidados intensivos e que tenhamos muito mais mortos. André Ventura respondeu que será “o último português a tomar a vacina” e continua a ser um perigo público.

Como se viu em 2015, governa quem é capaz de aprovar no parlamento, com votos de uma maioria de deputados, um programa de governo. Por isso não elegemos primeiros-ministros, mas sim deputados. Precisamos de uma terceira força no parlamento que abra um novo ciclo de soluções - e não um novo ciclo de problemas.

46 Recomendações
289 visualizações
bookmark icon