Está a acabar o ano de 2024.
Estamos naquela época do ano em que pensamos o que fizemos e o que poderíamos ter feito ao longo dos 12 meses. Alguma nostalgia, saudade e arrependimento costumam ser ingredientes base deste bolo que é reviver os momentos passados.
Para mim, enquanto pessoa nascida já em tempos de liberdade, as comemorações dos 50 anos do 25 de abril foram um marco. Por isso, e com o intuito de partilhar a visão de uma jovem que também ela não sabe o que é viver em ditadura, partilho um conto. A autora está na adolescência e na escola surgiu o desafio de criar um conto sobre o dia de afirmação da liberdade para o povo português. Acho este conto um mimo. Simples e bonito. A autora chama-se Maria Silva, e ela brinda-nos com o:
António, o menino dos cravos
A minha infância foi marcada pelas manhãs e tardes de brincadeiras no Rossio. Todos os miúdos da zona iam para lá passar o tempo, mas um dos dias ficou marcado na minha memória. Estávamos a jogar às apanhadas e começamos a ver muitos adultos a irem todos na mesma direção. No meio daquela multidão, uma senhora veio ter connosco e deu-me um ramo de cravos para a mão, dizendo para os distribuir. Eu não estava a perceber o que estava a acontecer, mas obedeci. Apesar da nossa tenra idade, percebemos que aquilo era algo importante, pois repetiam a palavra Liberdade.
Não é bonito ver um testemunho fantasiado de uma pessoa que na realidade não viveu o dia, mas que lhe sente o espírito como se o tivesse vivido? As comemorações trazem isto. A possibilidade de quem mesmo não tendo vivido na primeira pessoa, entende, porque se comemora, que a data é especial e a sua mensagem fica. Por isso, é importante comemorarmos todas as datas que assinalam algo importante. Seja pessoal, ou geral, o que acontece com impacto deve ser recordado. Não só para o bem, isto é, quando nos acontece algo de bom, como o 25 de abril de 1974, mas também para o mau. Pois, tudo contribui para a evolução.
Desde que comecei a escrever estas crónicas que expressam a minha opinião que vou indicando um ou outro problema na cidade. Sempre com o intuito que as coisas melhorem e evoluam. Isto também é um exercício de liberdade: poder apontar os pontos não só positivos, como (e sobretudo) os pontos negativos.
De uma maneira geral, a cidade de São João da Madeira é uma boa cidade de se viver. Mas se ninguém falar do que pode melhorar, como podemos esperar a mudança? Não sou o António que presenciou a Revolução, mas sou a Marcela que pode viver todos os dias as consequências dessa Revolução.
2024 para mim foi: viver a liberdade. E para si? Como define o seu 2024?