Ao longo de meio século de existência, a Casa dos Presuntos ‘A Transmontana’ floresceu com os rostos familiares de Virgínio Sampaio e Emília Ferreira, também carinhosamente conhecidos pelos clientes como Gino e Mila.
O 50.º aniversário da mercearia é semelhante aos 51 anos de matrimónio dos proprietários Virgínio Sampaio e Emília Ferreira, na medida em que a vida pessoal e profissional do casal se uniu na criação de um negócio que, na altura, se localizava num espaço pequeno do outro lado da estrada, na rua Condestável. “Eu era muito jovem. Tomamos conta de um estabelecimento que era de um tio meu e, a partir daí, começamos [no negócio] e conseguimos chegar até onde estamos hoje, com 50 anos de serviço”, contou Virgínio Sampaio, em entrevista ao jornal ‘O Regional’. “Estamos cá ainda com esta presença de mercado”, reforçou. Para o septuagenário, o segredo do sucesso do negócio, resistente a tantas décadas, é simples, mas assente em trabalho árduo. “É preciso muita garra e muita dinâmica”, considerou. Ao recordar as antigas instalações da Casa dos Presuntos, Virgínio Sampaio explicou que eram pequenas para o que pretendiam no futuro. “Nós queríamos voar mais alto”, afirmou o proprietário. “Por isso, criamos aqui o nosso espaço, construímos tudo isto e estamos cá, felizes”, salientou, com um sorriso.
Natural de Trás-os-Montes, Virgínio Sampaio estabeleceu a ligação entre a sua terra natal e o nome do negócio familiar, dada a iguaria da zona. “Os nossos presuntos foram sempre o símbolo da nossa casa”, enalteceu. O presunto, oriundo da região transmontana, é a estrela da mercearia, apesar de esta também contar com produtos diversificados, desde as imprescindíveis frutas e legumes até aos bens essenciais. “A mercearia já é antiga e os clientes já nos conhecem; os imigrantes já nos visitam de propósito”, comentou Virgínio Sampaio. Com clientes em S. João da Madeira, concelhos limítrofes e além-fronteiras, Emília Ferreira realçou as épocas em que a Casa dos Presuntos é ainda mais procurada. “No Natal, por exemplo, ou no verão, em que as pessoas compram presunto para o levar para França ou para outros países”, exemplificou a septuagenária. “Temos também muitos espanhóis que vêm cá buscar bacalhau”, acrescentou.


“São precisas muitas horas de trabalho”
Apesar da presença de superfícies comerciais no concelho sanjoanense, o estabelecimento Casa dos Presuntos mantém uma imagem de confiança que continua a atrair os seus clientes. “O principal é o tudo [que temos] em si; e não um pouco de cada. E, depois, a simpatia com que nós recebemos o cliente”, refletiu Emília Ferreira. O atendimento personalizado, característico do comércio local, é logo notório à entrada da mercearia, desde a forma como os proprietários interagem com a sua funcionária com mais de 30 anos de casa até à forma como conversam descontraidamente com os seus clientes. “São quase como família”, garantiu a septuagenária, revelando que, além das pessoas que já frequentam a mercearia desde a sua origem, os próprios filhos dessas gerações também fazem parte da carteira de clientes do casal.
Dada a longevidade da Casa dos Presuntos, quando questionados sobre o seguimento e o futuro do negócio, o casal septuagenário admitiu que os próprios filhos já tinham feito essa mesma pergunta. “Enquanto tivermos fibra para gerir tudo isto, estamos por cá. Quando sentirmos alguma dificuldade, tem que acabar; não temos seguidores para o nosso negócio”, lamentou Virgínio Sampaio. Emília Ferreira enfatizou que, quando esse dia chegar, é algo que lhes vai “custar muito”, apesar da dinâmica laboral inquestionável. “São precisas muitas horas de trabalho”, observou. Das sete da manhã até às oito horas da noite, os comerciantes apenas fecham às três da tarde de sábado e ao domingo, o dia de descanso semanal. “Agradecemos aos nossos clientes e amigos por nos terem acompanhado ao longo de todo este tempo”, reconheceu Virgínio Sampaio, com a garantia de que, enquanto conseguirem, estarão abertos ao público de alma e coração.