No rescaldo das eleições autárquicas surgiram os ataques às empresas de sondagens. Em sua defesa, estas garantem que os estudos efetuados no dia, à boca da urna, ficam mais próximos do resultado final. A fiabilidade contrasta com as intenções de voto publicadas dias antes, em que a simulação de voto representa uma tendência momentânea e posteriormente, despontam fatores que provocam alterações na decisão do eleitor.
A sondagem da Intercampus, sobre a eleição para a Câmara Municipal de São João da Madeira, publicada na semana passada em O Regional, trazia um número de indecisos considerável, que podia alterar o resultado final da eleição.
Mesmo com o estudo a apontar para a elegibilidade de cinco vereadores para o Partido Socialista (PS) e dois para a coligação PSD/CDS/IL (Melhor Cidade), havia um cenário de menor diferença percentual e com isso, a vitória seria sempre por maioria, só que o número de mandatos poderia ter um desfecho diferente.
Assim aconteceu.
Os eleitores votaram e o proporcionaram um resultado mais equilibrado em termos de vereadores eleitos.
A abstenção em São João da Madeira foi muito elevada, cerca de 51%.
Competia aos partidos mobilizar o eleitorado.
Não são as sondagens que promovem a abstenção.
Antes pelo contrário.
A ideia, de que o eleitor desmobiliza quando confrontado pelos estudos publicados, não é linear.
O nível de abstenção é demasiado elevado e bastante enraizado na população. O cuidado da comunicação social, que promove o sufrágio, informando sobre a campanha eleitoral, incluindo a apresentação dos candidatos e os seus programas, recebendo por isso todos os louvores, é esquecido com o editar de sondagens, passando a receber todas as críticas e ser responsável pela decisão abstencionista do comum cidadão.
O mesmo acontecendo se a tendência de voto é contrária ao desejo de um determinado partido.
Ao analisar-se a votação do passado domingo, verifica-se que a vitória do PS, em todos os órgãos autárquicos, fica marcada pela perda de 1139 votos, face à eleição de 2017. Só que os votos não foram perdidos para outra força partidária concorrente. Pura e simplesmente, o que penalizou o PS foi a abstenção: menos 1395 votantes. Acrescente-se neste acerto de contas, os 204 votos obtidos pelo PAN em 2017, o que permite aproximar o número de votos contados há quatro anos e o acréscimo de não votantes nesta eleição.
Dos três sufrágios, o PS obteve o seu melhor resultado na eleição para a Câmara Municipal, premiando Jorge Sequeira, com 5009 votos. Para a Assembleia Municipal e para a Assembleia de Freguesia, o mesmo partido perdeu cerca de 400 votos. Esta pequena diferença recompensou os partidos à sua esquerda, pois tanto a CDU como o Bloco conseguiram recolher mais votos para estes órgãos autárquicos, o que foi importante para atingir votação suficiente para eleger cada qual o seu deputado municipal.
Por seu lado, a coligação a Melhor Cidade conseguiu o seu melhor resultado na eleição para a Assembleia de Freguesia. Praticamente mais 400 votos do que a votação para a Câmara Municipal. À primeira vista, a coligação recolheu os votos dos partidos que só concorreram a este órgão autárquico, Chega e Nós Cidadãos, pois a soma da sua votação totalizou 376 votos. Um sinal que o aparecimento de vários concorrentes de direita, fragmentou a votação obtida em 2017 pela congénere coligação, justificando a perda de votos para 2021, apesar da conquista de mais um mandato para o executivo municipal.
No final desta eleição, é importante verificar que a representação política nos órgãos autárquicos é mais plural. Ao PS, PSD e CDU junta-se para este quadriénio: CDS-PP e Bloco de Esquerda.
Uma clara marca demonstrativa da vitalidade democrática de São João da Madeira, que ficou expressa, com isenção, nas páginas do jornal O Regional, ao longo dos últimos meses.