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“Sou atualmente o barbeiro mais antigo cidade”

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Aos 78 anos, Celestino Soares é dos últimos barbeiros à moda antiga de S. João da Madeira com diploma. Chegou à cidade em 1975, depois de cumprir o serviço militar. Apesar da idade, continua no ativo, com clientes diários e fiéis há mais de 50 anos.

Jornal ‘O Regional’ - Aos 78 anos, é um dos últimos antigos barbeiros de S. João da Madeira. O que o faz estar ainda no ativo?
Celestino Soares – Sou na verdade atualmente o barbeiro mais antigo de S. João da Madeira com diploma. Venho do tempo em que se trabalhava continuamente, onde o barbeiro era visto com muito respeito, o que hoje infelizmente na maioria das vezes não acontece. Não tínhamos folgas. Hoje ainda não as tenho. O barbeiro deve estar sempre disponível para atender o seu cliente independentemente da hora. Há pessoas que saem muito cedo e regressam a casa muito tarde. Sempre que os meus clientes necessitarem de mim, cá estou seja a que hora for.
Apesar da minha idade, estou no ativo continuamente. Das sete da manhã às 19 horas ou até ao horário que for necessário. Só tenho a hora de almoço para mim. Sinto ainda hoje a mesma paixão pela profissão que quando a escolhi e mantenho o mesmo respeito pelos meus clientes.

O senhor Celestino começou como aprendiz de outros barbeiros tradicionais. Em que altura decide que quer ser patrão?
Eu trabalhei em vários barbeiros na cidade do Porto. Foi lá que tirei o meu curso e que tudo aprendi. Tinha 21 anos e já a tropa feita. Encontrei lá patrões que foram muito meus amigos. Nunca me esquecerei disso. A 11 de maio de 1970, decidi vir trabalhar para S. João da Madeira, para um barbeiro conceituado que me convidou, na rua Júlio Dinis. E por lá fiquei durante longos anos. Mais tarde surgiram outros convites, que aceitei.
Só decidi avançar como empresário individual há 14 anos, depois de uma vida dedicada ao Salão Dourado. Trabalhei lá mais de 27 anos. Eu tinha 66 anos na altura. Na verdade, nunca senti a vontade de ser patrão, de ter o meu salão. Nunca fui muito sonhador a esse nível. Não queria ser mais um concorrente na profissão, que ia levar consigo alguns clientes. Eu sabia que isso ia acontecer. O meu lema foi sempre trabalhar, trabalhar...
Mas entendo que há palavras que não devem ser ditas pela entidade patronal, principalmente, quando se tem muitos anos de serviço. Foi isso que aconteceu e achei que estava na altura de arriscar, apesar de já não ser propriamente jovem. Confesso que foi uma decisão que na altura me custou, andei sem dormir muito tempo, mas hoje não me arrependo de a ter tomado.

Quando veio trabalhar para S. João da Madeira sentiu que existia concorrência entre os barbeiros?
Arrisco-me a dizer que nenhuma. S. João da Madeira tinha muitos barbeiros, cada um tinha os seus clientes. Nunca senti proximidade e união entre os barbeiros na cidade como a que se verificava no Porto, por exemplo. Aqui cada um trabalhava para si e não passava disso.

Tem saudade desses tempos?
Muitas. Quando recordo essa altura emociono-me, principalmente, pelos anos que trabalhei no Porto. Fui lá mesmo muito feliz. Os barbeiros lá eram muito unidos. Vim com essa escola. Bebíamos café juntos na hora de almoço, tínhamos tempo para jogar bilhar. Era uma profissão unida como poucas.

Ar­tigo dis­po­nível, em versão in­te­gral, na edição nº 3847 de O Re­gi­onal, pu­bli­cada em 10 de junho de 2021.

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