Sociedade

“E o livro aí está. Não é seguramente uma obra de arte, nem tinha de ser”

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“O Regional-100 anos de História” já chegou à mão dos sanjoanenses. Um livro de “consulta histórica”, da autoria de Daniel Neto, que faz uma viagem por cada um dos 100 anos desta casa.

O atual diretor lembra que este semanário “agradou e desagradou a muita gente”, e, atualmente, “felizmente, agrada e incomoda muitas pessoas”. Enquanto o autor da obra defende que ‘O Regional’ é muito mais do que um jornal centenário, é o “cordão umbilical” de muitos sanjoanenses pelo Mundo. O livro, composto por 450 páginas, foi apresentado na Casa da Criatividade, no último sábado, dia 29, e estará disponível para venda na Biblioteca de S. João da Madeira.

Está finalmente apresentado à cidade. “O Regional-100 anos de história”, da autoria do professor Daniel Neto, que faz “renascer” muitas notícias já esquecidas, distribuídas por 450 páginas, a relembrar os acontecimentos mais marcantes de S. João da Madeira que encheram as páginas de ‘O Regional’ desde a sua fundação, em 1922.
O livro foi recebido por uma Casa da Criatividade muito composta, no último dia 29, sábado à noite. Na entrada, estavam expostos vários objetos que marcaram a história deste jornal, onde se destacavam as primeiras máquinas de escrever, vinco gravuras, várias chapas com nome dos assinantes, medalhas atribuídas ao semanário, exemplares das primeiras edições e ainda a chapa identificativa daquele que foi o primeiro cabeçalho de ‘O Regional’.
Antes das intervenções, foi exibido um vídeo, com cerca de meia hora, que contou com vários testemunhos, incluindo os de José da Silva Pinho e Manuel Ismaelino, que acumulam um longo percurso no jornal, bem como de outras personalidades com uma ligação mais recente ao semanário, como Ferreira da Rocha e Daniel Neto (autor do livro “O REGIONAL - 100 anos de história”). O atual Presidente da Câmara Municipal, Jorge Sequeira, e os seus antecessores no cargo, Ricardo Figueiredo e Castro Almeida, também participaram nesse vídeo, assim como responsáveis de instituições de referência na cidade.
O autor do livro, que em janeiro de 2023 assumirá funções de subdiretor deste semanário, dedicou dois anos a consultar cerca de três mil jornais, para selecionar as notícias que considerou serem mais relevantes e encontrar as imagens que mais saltaram à vista ao longo do século do semanário - que ilustram as quatro páginas destinadas a cada ano.
Coube a António Loureiro todo o design desta obra e a responsabilidade do grafismo dos painéis que acompanharam esta sessão, cujo trabalho de pesquisa e de organização foi desenvolvido por Joana Galhano.
Cada um dos 100 anos deste livro de consulta histórica é apresentado como se de uma notícia se tratasse, com o título, parágrafo guia e corpo da notícia, com três ou quatro destaques e fotografias a acompanhar o texto.
E o livro aí está. Não é seguramente uma obra de arte, nem tinha de ser. É um livro que conta a história d’O Regional desde a sua fundação, em 1 de janeiro de 1922, até 1 de janeiro de 2022”, começou por assumir o autor. Um século de história do jornal e outras tantas da histórias de S. João da Madeira, “porque não é possível falar de uma sem falar da outra”, refere Daniel Neto.
Ao completar 100 anos de existência, ‘O Regional’ passou a fazer parte de um número restrito de periódicos centenários de língua portuguesa. São 50 ao todo, 35 editados em Portugal e 15 no Brasil.

“O Regional é muito mais do que um jornal centenário”

Este semanário, na opinião do seu autor, “assume uma dimensão que só pode constituir um motivo de orgulho para os sanjoanenses, para os que aqui vivem e trabalham, para todos aqueles que o leem semanalmente. O Regional é muito mais do que um jornal centenário”.
Daniel Neto recordou ainda que o nascimento do mais antigo semanário da cidade “foi uma necessidade premente”, uma vez que a freguesia “ardia em ânsias de se emancipar, e era absolutamente necessário que o jornal fosse o porta-voz dos anseios dos seus habitantes”.

Daniel Neto

Sublinhou que o jornal manteve um contacto permanente com os sanjoanenses de além-mar, particularmente com as comunidades radicadas no Rio de Janeiro e em Belém do Pará, e “revelou-se de extraordinária importância” para S. João da Madeira. “O Regional foi o companheiro de viagem, da saudade e do exílio. Foi, em suma, “o cordão umbilical” que os ligou sempre e para sempre à terra onde nasceram “e a quem haveriam de deixar um significativo quinhão da riqueza que acumularam ao longo das suas vidas. Um fenómeno sem paralelo em nenhuma outra terra deste país e, muito provavelmente, em nenhuma terra do mundo inteiro”.
Daniel Neto lembrou igualmente a importância dos “jovens idealistas” de 1922, que o fundaram. Depois, José Soares da Silva, “que fez dele a paixão da sua vida”. Por último, José da Silva Pinho, “que o salvou de uma morte anunciada, que o reinventou e o transformou num jornal respeitado e admirado por todos. Sem a sua resiliência, sem a sua determinação, sem o pragmatismo que lhe é reconhecido, não estaríamos hoje aqui a celebrar o que quer que fosse”.
Escrever a história d’O Regional foi, para o docente, a oportunidade para pôr a história da cidade em dia. “Mas foi também a oportunidade de melhor conhecer os protagonistas dessas histórias”, sobretudo aqueles que tiveram ação preponderante no jornal, como foi o caso de António de Lima Correia, de Manuel Luís Leite Júnior, Belmiro António da Silva, Manuel Pereira da Costa. “Sem esquecer Manuel Ismaelino, um dos professores que me ensinou a escrever bem (ele não tem culpa de eu não ter sido um aluno brilhante) e que despertou em mim a paixão pelo jornalismo”, finalizou.
E, apesar de a publicidade ter tido sempre um papel “muito importante na viabilidade” destas páginas, o tema não mereceu nenhum capítulo especial no livro, ao contrário do que estava previsto inicialmente. O autor quis, sobretudo, que fosse de fácil leitura. À história propriamente dita ainda se soma a publicação da coleção de postais de 1929 ou o capítulo da censura.

“Nestes 100 anos agradou e desagradou a muita gente”

Por seu turno, José da Silva Pinho, atual diretor do semanário, começou por recordar que ‘O Regional’ é “a instituição mais viva e interventiva da nossa terra e tem no seu ADN a luta pelo progresso e a grandeza de S. João da Madeira” e “nestes 100 anos agradou e desagradou a muita gente”. “Ainda hoje, felizmente, agrada e incomoda muitas pessoas”, frisou.

José da Silva Pinho

Para o diretor do jornal, “há quem queira negar a história, há quem queira reescrever a história, deturpando-a, daí a importância da publicação deste livro, para que os verdadeiros factos históricos sejam conhecidos”.
Realçou também o “contributo e empenho” de Daniel Neto. “A sua disponibilidade para se arriscar a dar corpo a este livro que conta a história dos 100 anos de vida d’O Regional, pesquisando volume a volume, jornal a jornal, folha a folha, página a página, notícia a notícia, recolhendo e selecionando o mais relevante, é tarefa que só alguém fora do comum, e com um espírito de serviço inabalável, se arriscaria a empreender e levar a bom porto”, apontou José da Silva Pinho.
Deixou ainda uma nota de agradecimento à Câmara Municipal e ao seu representante máximo, o Presidente Jorge Vultos Sequeira, que “tendo legitimamente a responsabilidade de administrar o dinheiro dos sanjoanenses, faz bem em estar nesta parceria com o jornal ‘O Regional’, que é o verdadeiro livro de atas da nossa Terra dos últimos cem anos, e que não é pertença de ninguém em particular, porque é património de S. João da Madeira”.
No seguimento, e tal como já tinha anunciado na cerimónia do 11 de outubro, José da Silva Pinho lembrou que deixará o cargo de diretor do jornal no final do ano, sendo que, a partir de janeiro de 2023, a direção será assumida por Manuel Ferreira da Rocha, com Daniel Neto como diretor adjunto. “O Regional’ fica bem entregue”, considerou José da Silva Pinho.
O atual diretor d’O Regional’ deixou ainda uma nota de gratidão para todos os colaboradores do periódico, que “transmitiram a sua cultura, os seus anseios, as suas exigências e as suas aspirações, ajudando, dessa forma, a transformar esta Cidade do Trabalho numa das mais progressivas e com melhor qualidade de vida do País”. Reforçou: “Fica aqui uma palavra de consideração e apreço a toda a equipa de colaboradores que, de forma abnegada, permite que, semana após semana, os nossos assinantes, leitores e anunciantes possam aceder ao seu jornal”. E concluiu: “São 100 anos de História de S. João da Madeira, estampados nas páginas d’O Regional’, condensadas neste livro, que nos contemplam e nos orgulham”.

“Existência de uma imprensa livre, independente e plural”

Aquele que em janeiro de 2023 assumirá a direção deste semanário começou por lembrar que a “vida democrática não se limita ao funcionamento dos órgãos de poder eleitos”, considerando que a sociedade democrática “vive e desenvolve-se” com a ação de muitas outras instituições que “defendem os direitos, realizam as necessidades e aspirações dos cidadãos e, com a sua influência, contribuem para as decisões dos órgãos do poder democrático”.

Manuel Ferreira da Rocha

Manuel Ferreira da Rocha disse que a imprensa tem um papel “insubstituível” na informação, na “auscultação da opinião pública, dos problemas e dificuldades das pessoas e na apresentação e discussão das alternativas, contribuindo assim para a diminuição dos conflitos, e para o funcionamento harmonioso das sociedades modernas”, defendendo a  “existência de uma imprensa livre, independente e plural”.
Proclamou, na sua breve intervenção, que, desde a sua fundação, ‘O Regional’ “esteve sempre presente” na história de S. João da Madeira, atestando que “continuará a cumprir a sua missão” com jornalismo de “rigor e independência”. “Contribuir para a resolução dos problemas e para a realização das aspirações das pessoas que aqui vivem e trabalham e apoiar as entidades que contribuem para que S. João da Madeira continue a ser uma das melhores cidades para viver e de forte progresso”. Relativamente ao futuro como diretor do jornal, frisou que terá pela frente uma tarefa “exigente”, e que com Daniel Neto, juntos, vão “procurar não desmerecer a confiança depositada”, e que a história deste jornal “exige”.
Finalizou, salientando os colaboradores e “trabalhadores” que todas as semanas permitem que o jornal chegue aos leitores, mas também “os anunciantes que o viabilizam e os assinantes e leitores” que assim dão o seu apoio e justificam a existência de ‘O Regional’.

“Vitalidade da imprensa livre e plural”

Num vídeo projetado na maior sala de espetáculos de S. João da Madeira, o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, que se associou a estas comemorações do centenário de ‘O Regional’, sublinhou as histórias, lutas, conquistas e a transformação de S. João da Madeira “documentadas em milhares de páginas escritas ao longo de 100 anos” – felicitando “todos” os que ao longo deste século contribuíram para a história de ‘O Regional’ e, em particular, “os leitores de ontem, hoje e amanhã”.

Ministro da Cultura Pedro Adão e Silva

O governante garantiu que este semanário “é a prova viva daquilo que é a relevância e vitalidade da imprensa livre e plural” para o desenvolvimento local e para o próprio progresso do país. “A imprensa local destaca-se por contribuir de forma muito concreta para corrigir e contrariar assimetrias regionais e sociais, dando voz aos que menos se fazem ouvir e que muitas vezes são esquecidos”, enfatizou.
Assumiu ter a consciência dos “desafios particularmente difíceis” que a comunicação social enfrenta e deu conta de que, em conjunto com as entidades que representam este setor, está empenhado na “revisão do regime local dos incentivos à comunicação social, regional, nacional e local, e esta prioridade tem um reforço no Orçamento do Estado para o próximo ano”. Até porque “uma comunicação social forte e independente” desempenha um “papel insubstituível no combate à desinformação e mais importante na defesa e na preservação das sociedades democráticas e pluralistas”.

“Obra de grande fôlego”

Ao longo da sua existência, “O Regional” tem levado aos seus leitores as histórias que fazem a História de S. João da Madeira, assim como os seus protagonistas, legando-nos um património imaterial único e inestimável, que é de inteira justiça reconhecer e valorizar. Foi nesse sentido que o Município – “muito justamente”, nas palavras de Jorge Sequeira – atribuiu ao jornal a Medalha de Mérito Municipal em Ouro, entregue ao seu diretor na sessão solene das comemorações do Dia do Município deste ano, a 11 de outubro. Relativamente ao livro, que a “autarquia apoiou”, descreve-o como uma obra de “grande fôlego”, realçando também ”a forma notável e vincada”, as “facetas” de Daniel Neto como um “profundo estudioso” e conhecedor da realidade de S. João da Madeira – atual e passada –, com particular foco na imprensa, “cuja função insubstituível na vida da nossa comunidade é, desta forma, enaltecida”.

Jorge Sequeira

O chefe máximo do executivo espera ainda que “O Regional” dê continuidade a esse percurso, iniciado há 100 anos, levando aos seus leitores “informação credível, plural, imparcial e isenta, características indispensáveis para que a comunicação social se mantenha como um pilar da democracia” e espera ainda que este semanário “mantenha no futuro a sua identidade e autonomia”.
A finalizar, o autarca citou um texto que é destacado na contracapa do livro. “São palavras, muito bem escolhidas de Manuel Tavares, que durante anos nos engrandeceu com as suas crónicas n‘O Regional: “Se não fora o jornal – que saberíamos do cidadão e da cidade, do peso do negrume e da leveza da claridade que persistem em ocupar-nos os dias?”.
O livro está disponível para venda na Biblioteca Municipal, Torre da Oliva e Câmara Municipal.
A sessão contou com vários momentos musicais da Academia de Música.

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