Há cansaço na voz de muitos enfermeiros do Hospital de S. João da Madeira, um ano depois da cidade conhecer os primeiros casos de covid-19. Tudo parece diferente quando se tenta recolher testemunhos de quem esteve na linha da frente.
Quando S. João da Madeira começou a ser afetada pela doença provocada pelo novo coronavírus, Liliana Azevedo, enfermeira desde 2004, deixou a Urgência do Hospital de S. João da Madeira e, com vários colegas, integrou o “covidário”, que ficou centralizado no hospital sede do Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga (CHEDV). Otimista por natureza, que “felizmente” não ficou infetada pela doença como muitos dos seus colegas, explica a ‘O Regional’ que hoje olha para esses longos meses como uma “experiência complicada e muito marcante”, principalmente pelo desconhecimento relativamente à doença que apareceu sem ninguém esperar. “Inicialmente, o medo estava sempre presente nos profissionais de saúde e nas pessoas”, confessa.
Liliana, para além de enfermeira, é esposa e mãe, e tinha como principal objetivo não levar o vírus para casa. Havia medo, muito medo. Viveu isolada em casa. Ignorou as notícias da imprensa. “Eram muitas vezes repetidas e não ajudavam”. Apesar de otimista, só “consegui acalmar um pouco” quando foram conhecidos os primeiros estudos da doença e o anúncio da vacina.
Um ano e três meses depois, diz que olha para estes meses com a certeza de que “acabei de desempenhar as minhas funções com tranquilidade, com exceção da fase inicial”. Quanto às lições de vida que tira desta pandemia, assegura que “este vírus ensinou-me muito sobre relações humanas. Não vale a pena proteger-me, se não proteger o outro. A compaixão. A empatia com o outro. Aprendemos a descontrair no meio do caos”, enfatiza.
Artigo disponível, em versão integral, na edição nº 3845 de O Regional, publicada em 27 de maio de 2021.