Vivem muitas vezes em silêncio dentro de quatro paredes. São mulheres e homens que prescindem de tudo para cuidar. Não se lembram de folgas nem férias. Gente invisível na sociedade, que mudou a vida para cuidar de familiares.
“Passo 24 horas por dia nesta casa com a minha filha”. O desabafo é de Graça Rocha, de 52 anos, residente em S. João da Madeira. Começou a perceber a dimensão do problema que tinha pela frente logo que a sua filha nasceu. Tinha na altura 24 anos. “A Adriana fez 23 cirurgias. É portadora de Síndrome de Ohdo-Madokoro-Sonoda. Há cerca de 30 casos em todo o mundo desta doença e ela é uma delas. Fiquei sem tempo para nada. Fui obrigada a deixar de trabalhar para me dedicar aos seus cuidados”, confessa.
Graça fala em voz baixa, como se não quisesse roubar as atenções da filha que estava ao seu lado. “A minha vida mudou, mas o amor que todos sentimos por ela é incondicional e permitiu, apesar das suas limitações, que recuperasse alguma autonomia”.
Há pouco mais de um ano, assumiu o papel de cuidadora informal a tempo inteiro, porque a sua “menina”, hoje com 28 anos, e com uma incapacidade de 96%, começou “a rejeitar” a CERCI de S. João da Madeira, instituição que frequentava há vários anos. “Quando acordava, só de pensar que ia para lá, a ansiedade era tanta que começava a vomitar. Nunca percebemos o motivo. Não restou alternativa, e tivemos mesmo que a retirar de lá”, descreve.
Artigo disponível, em versão integral, na edição nº 3845 de O Regional, publicada em 27 de maio de 2021.