“O futebol é o meu mundo, é onde me sinto bem (…), não me vejo até ao fim da minha vida a fazer outra coisa que não seja o futebol”
Rui Correia em entrevista ao jornal O Regional recorda o início da sua carreira e a sua opção de viajar até Lisboa com apenas 15 anos. Fala dos tempos de glória no Braga e no F.C. Porto e os anos mais difíceis que atravessou no Salgueiros
Jornal ‘O Regional’ - Como surgiu a paixão pelo futebol?
Rui Correia: Começou desde criança quando eu jogava na rua e na escola com os meus colegas. Por volta dos 6, 7 anos já tinha a paixão de jogar futebol.
Desde jovem teve a ambição de ser jogador de futebol?
Ser jogador profissional foi sempre uma das coisas que ambicionei. Os meus próprios colegas diziam-me, como és capaz de dizer uma coisa que não sabes que vai acontecer? E eu dizia, eu sei que vou ser! O espírito de rua de andar com a bola debaixo do braço ou num saco de plástico pesou muito na minha decisão. A bola era a minha companhia. Talvez tenha sido isso, que me fez chegar onde cheguei.
Antes de iniciar a sua carreira como guarda redes, já sabia que era esta a posição que gostaria de ocupar em campo?
Uma das coisas interessantes é que eu sempre gostei de ser guarda redes. Até houve uma fase da minha vida, na Sanjoanense, que eu deixei de ir aos treinos do futebol para ir aos do andebol. Mas foi sempre uma posição que eu gostei de desempenhar. Nunca me surgiu a ideia de jogar como médio, avançado ou defesa. Tive sempre esta opção de ser guarda redes, talvez era aquela que tinha mais jeito. Mas sim, foi uma opção que tive sempre desde a minha infância.
Com apenas 15 anos deixou a cidade de São João da Madeira para ir até Lisboa representar os escalões jovens do Sporting. Considera que este foi um passo importante para chegar aos grandes relvados nacionais e internacionais?
É difícil quando se abandona uma cidade como esta e chegamos a uma cidade que é a capital, é lógico que as diferenças são muitas. E eu com apenas 15 anos senti algumas diferenças, mas aquilo que me trouxe mais problemas foi a ausência da minha família. Era a minha mãe e o meu pai que cuidavam de mim e a partir desse momento tive que ser eu a fazer tudo. Levar a roupa à lavandaria, preparar a comida, etc. E foi isto a minha vida, habituei-me a essa rotina, ou seja, tive que me adaptar aquilo que era a realidade da altura. Fiz-me homem assim e a vida foi uma sequência daquilo que tem vindo a ser.
Nunca fui pessoa de pensar muito no futuro. Vivia o dia a dia e tentava trabalhar de uma forma positiva para que a minha carreira fosse o melhor possível. Mas nunca com a ambição de que tenho que ser o melhor, isso não. Como já referi anteriormente era o dia a dia que vivia e trabalhava em função disso.
“Quem me abriu a porta foi a Sanjoanense”
Depois do Sporting passou pelo Vitória de Setúbal e Desportivo de Chaves, até chegar ao Sporting de Braga onde se afirmou como guarda redes principal durante 5 épocas. Sente que foi este o clube que lhe abriu mais portas ao longo do seu percurso profissional?
Quem me abriu a porta foi a Sanjoanense, foi o clube onde iniciei com apenas 8, 9 anos. Esse sim, foi o clube que me abriu as portas e que me deu tudo o que tenho até hoje. Os outros clubes foram aqueles que foram acreditando naquilo que eu ia fazendo, se tinha ou não valor. Se calhar tive menos sucesso no Vitória de Setúbal, depois cheguei ao Chaves e tive um sucesso enorme. O futebol é uma incógnita. Portanto, quando representamos um clube temos que ser aquilo que realmente somos, ou seja, não inventar muito e tentarmos ser o mais transparente possível. No fundo não abdicar daquilo que somos.
É então que chega uma proposta para representar o FC Porto. Como surgiu esta proposta por parte dos azuis e brancos?
A proposta do Porto chegou em 96/97, ainda assim, já tinha surgido anteriormente. Foi uma proposta que chegou através de um empresário, o senhor José Veiga. Foi uma proposta com grande interesse para mim. Naquele momento estava a terminar o contrato com o Braga e houve alguns problemas para eu sair porque havia uma lei das transferências, portanto surgiu alguma confusão relativamente à minha saída. No entanto, os clubes entenderam-se e eu saí. O Braga acabou por ser compensado monetariamente e também com a troca de outro guarda-redes.
Artigo disponível, em versão integral, na edição nº 3879 de O Regional,
publicada em 17 de fevereiro de 2022