Bernardo Lima tornou-se uma das figuras mais faladas em São João da Madeira — e além-fronteiras — após conquistar o título de Campeão Europeu de Sub-17 ao serviço da Seleção Nacional. É considerado o mais vaidoso da equipa pelos colegas e, em entrevista a 'O Regional', assumiu o sonho de representar a equipa principal do FC Porto, deixando também palavras de carinho ao clube onde tudo começou: a Associação Desportiva Sanjoanense.
Jornal O Regional - Foi homenageado, na última semana, pela Câmara Municipal de S. João da Madeira, por ter sido campeão europeu pela seleção nacional de Sub-17. Que importância teve esta vitória e o reconhecimento da autarquia?
Bernardo Lima - Esta conquista foi muito importante para mim, significa muito para mim estar na história de Portugal e saber que o meu trabalho é valorizado por muita gente é sempre especial. Mas torna-se ainda mais especial quando sou homenageado pelas pessoas da terra onde nasci e onde cresci.
Como têm sido estes dias, após a vitória, entre amigos, família e sanjoanenses?
Têm sido dias incríveis, aproveitei estes dias ao máximo, junto dos meus amigos e da minha família. Muitos sanjoanenses deram-me os parabéns e fico muito feliz por receber o carinho deles.
Como descreve, com mais detalhe, o que sentiu quando o árbitro apitou para o fim da final, e soube que era campeão da Europa?
Eu já tinha sido substituído, já estava no banco com os meus colegas, já tínhamos um resultado muito avolumado, mas, até o árbitro apitar, fico sempre nervoso e ansioso. Quando ouvi o apito do árbitro, lembro-me de começar a correr com os meus colegas, mas a primeira coisa que me lembrei logo, foi ir ter com os meus pais e com os meus primos que estavam presentes no estádio, e foi, sem dúvida, das melhores sensações que já senti.
Na verdade, o que é que este título representa para si, tanto a nível pessoal como profissional?
Eu sabia que o Europeu era um grande momento de projeção para a minha carreira, e isso foi notório. Não sei o que vai acontecer daqui para a frente na minha carreira, mas, independentemente de onde estiver, vou trabalhar sempre no máximo e dar sempre o meu máximo. Este título significa muito para mim, porque tive a oportunidade de representar Portugal ao mais alto nível, e de honrar todo o povo português.
Qual foi o momento mais marcante durante este Europeu Sub-17?
A final foi, sem dúvida, o momento mais marcante. Mas a meia-final, foi um jogo muito emocional, porque estivemos a perder por duas vezes, e acho que pouca gente acreditava que íamos dar a volta, e o facto de irmos a penáltis foi um momento de sofrimento também, mas conseguimos provar a equipa que somos e a união que temos.
Sentiu alguma pressão por ser titular numa final tão importante? Como lidou com isso?
Acho que todos os jogadores sentem um pequeno nervosismo antes do jogo, eu, pelo menos, seja em que jogo for, sinto-me sempre um bocado nervoso antes dos jogos, mas, depois do apito final, isso passa-me. Na final foi igual, tentei encarar esse jogo como mais um jogo e acho que essa foi a chave para o sucesso. Mas sabia da importância daquele jogo…
Fez uma assistência para o terceiro golo da final. Pode contar-nos como viveu esse lance em campo?
Eu, na final, sentia me bastante confiante, porque entrámos bem no jogo. Estávamos por cima, e acabei por fazer a assistência para o primeiro golo, que muita pouca gente notou. No terceiro golo, sempre acreditei que ia conseguir ganhar aquela bola, lembro-me de pressionar o número 6 e de fazer um carrinho e roubar-lhe a bola. Depois, olhei para a baliza para rematar, mas ouvi o meu colega a chamar-me e decidi fazer-lhe o passe e acabou por ser uma grande assistência.
Que avaliação faz da sua prestação ao longo do torneio?
Acho que fiz um grande Europeu, cumpri sempre com o que o mister me pediu e acho que isso é o mais importante. Mas, mais importante do que eu ter estado bem, foi que a equipa esteve muito bem ao longo do torneio, e, no final, conseguimos alcançar o nosso objetivo.
"Vou estar sempre agradecido à Sanjoanense"
Já disse que teve cuidados especiais com a alimentação e o corpo. Pode partilhar como foi a sua rotina de preparação para esta competição?
Preparei-me muito bem durante o ano todo para esta competição e para as outras todas também. Um jogador de futebol tem que ter muitos cuidados no seu dia a dia, para além de treinar e de jogar. De alguns anos atrás, já comecei a ter bastante cuidado com a minha alimentação e o meu descanso e noto que isso é bastante importante para o meu desempenho dentro de campo.
Houve algum momento mais difícil durante a preparação ou durante o torneio que tenha exigido uma força mental extra?
Com o acumular dos jogos começamos a ficar muito cansados. Eu por norma sou sempre dos que corro mais, e a partir da meia-final já tinha começado a sentir-me mais cansado, e é nesses momentos que vem a minha força de vontade e digo sempre para mim mesmo que não estou cansado para o meu corpo tentar perceber isso, e esconder o cansaço.
Que mensagem gostaria de deixar aos jovens atletas que o veem agora como um exemplo?
O que eu tento sempre transmitir aos mais novos é que nunca desistam, independentemente do que aconteça. Já tive lesões e muitas frustrações, mas nunca desisti. O mais importante é que acreditem neles próprios e nas capacidades que cada um deles tem e que façam sempre o que os treinadores e os pais lhes pedem.
Sonha jogar na equipa A do FC Porto. Sente que este título o aproxima ainda mais desse objetivo?
O meu maior sonho, desde que comecei a jogar futebol, foi sempre chegar à equipa A do Futebol Clube do Porto. Vou-me focar ao máximo no escalão que estiver a jogar, depois estas recompensas vêm do fruto do meu trabalho. Claro que sei que esta conquista me aproxima cada vez mais de coisas melhores, mas não vou pensar muito nisso e deixar que as coisas aconteçam a seu tempo.
De que forma surgiu a oportunidade de jogar no FC Porto?
Eu, a partir dos meus sete anos, comecei-me a destacar, aqui, na Sanjoanense, e surgiu a oportunidade de treinar nos três grandes. Sempre fui portista, por isso, quando ia treinar ao Porto, sentia uma ambição e um sentimento diferente. Quando o meu pai me disse que o Porto queria que eu fosse para lá jogar, fiquei muito feliz.
“O maior sacrifício que fiz para chegar onde estou hoje, foi treinar muito quando era mais pequeno”
Essa entrada mudou a sua vida? E que rotinas o clube lhe exige?
A entrada para o clube mudou toda a minha vida! Lembro-me que, quando era pequeno, chegava muito tarde a casa dos treinos e de participar em muitos torneios internacionais, que foi das coisas que mais gostei até hoje. Agora, já é diferente. O nosso foco é sempre o campeonato, mas, mais do que isso, é o meu desenvolvimento ao longo dos anos.
O que espera que venha a acontecer depois desta conquista? Já começou a pensar nos próximos passos?
É o que eu disse, não sei onde vou começar na próxima época, mas vou dar sempre o meu máximo, independentemente de onde estiver, para conseguir chegar à equipa A.
Que importância teve a Associação Desportiva Sanjoanense na sua formação como jogador e como pessoa?
A Associação Desportiva Sanjoanense vai ser sempre especial para mim, porque foi o clube onde comecei a jogar futebol, onde fiz amizades incríveis e é o clube da minha terra. Vou estar sempre agradecido à Sanjoanense, porque foi um clube que sempre me deu tudo e sempre acreditou em mim.
Que memórias guarda dos primeiros tempos na Associação Desportiva Sanjoanense?
Eu gostava bastante de participar em torneios com a Sanjoanense. O momento mais marcante para mim, na ADS e até na minha vida, foi um torneio em Idanha-a-Nova, onde éramos a equipa mais jovem do torneio e fomos campeões. Foram, sem dúvida, dos melhores momentos da minha vida, e, até hoje, quando vejo um vídeo que fizeram desse torneio me emociono, porque sinto saudades dos meus amigos e daqueles momentos.
Quem foram as primeiras pessoas a acreditar verdadeiramente no seu talento?
Foram sem dúvida os meus pais e o meu avô, porque sempre me deram as melhores condições para eu conseguir ter sucesso no futebol. Sempre estiveram disponíveis para me levarem aos treinos, estarem presentes em todos os jogos, e são estas pequenas coisas que fazem a diferença.
Houve alguma situação marcante nessa fase inicial?
O facto de os meus pais, a minha irmã e os meus primos estarem presentes na fase final foi muito importante para mim. O facto de os ver lá, e sentir a energia que eles me transmitiam, foi bastante importante, e tínhamos bastante apoio nas bancadas, e, cá em Portugal, isso ajudou-nos bastante.
Recorda-se do momento em que percebeu que queria seguir o futebol de forma séria?
A partir dos meus 15 anos, comecei a sentir que queria fazer do futebol a minha vida, porque nesse ano fiz o meu primeiro jogo pela seleção nacional e senti um peso diferente. Comecei a pensar que, se continuasse sempre a trabalhar, e seguisse os melhores caminhos, podia conseguir ter sucesso.
Teve de abdicar de muitas experiências comuns à adolescência para se dedicar ao futebol?
Sim, tive. Não é fácil para mim ver os meus amigos a poderem sair à noite e divertirem-se, Mas já me acostumei com isso e, se quiser mesmo chegar lá, tenho que abdicar destas coisas, para poder descansar bem e sentir-me com energia para jogar.
Como lidou com essas renúncias?
Não é fácil, como já referi. Mas sei que é para o meu bem, e o meu pai explica-me isso também, mas sei que muita gente também queria estar no meu lugar… Por isso, tenho de aproveitar a sorte que tenho em poder jogar futebol a um alto nível.
“Toda a gente diz que sou eu o mais vaidoso”
Há alguma mensagem, gesto ou presença familiar que o tenha acompanhado neste Campeonato da Europa?
Sim, os meus pais, a minha irmã e os meus primos estiveram presentes na Albânia. Mas recebi muito apoio de Portugal, todos os dias recebia mensagens e chamadas da minha família e amigos e sentia-me sempre mais motivado com o apoio dos portugueses.
Aos 17 anos, demonstra uma grande maturidade. A que atribui essa forma de estar?
Tenho de agradecer aos meus pais por me terem educado assim e por me terem ensinado estes valores. Sou um rapaz bastante trabalhador e sinto que as pessoas me veem como um líder. Comparo-me muito com a minha mãe, porque sinto que sou muito parecido com ela nestes aspetos.
Descreva um dia típico na sua vida durante a época desportiva?
A minha rotina não é fácil, acordo todos os dias às 6h00 da manhã, o meu pai faz o esforço de acordar cedo para me acordar e fazer o pequeno-almoço, para, depois, ir para o Olival, para começar a treinar às 9h00. Depois tenho aulas no colégio e, por volta das 20h00, chego a casa. Não é nada fácil, mas é preciso fazer sacrifícios, para depois ter estas recompensas.
Qual considera ter sido o maior sacrifício que fez para chegar onde está hoje?
O maior sacrifício que fiz para chegar onde estou hoje, acho que foi treinar muito quando era mais pequeno, em vez de jogar playstation, por exemplo. Lembro-me de que, na altura da quarentena, todos os meus amigos jogavam playstation e eu era o único que não jogava, porque a minha mãe não me deixava… Então passava os dias a treinar. Naquela altura ficava triste, mas hoje vejo que foi uma mais valia para mim, porque melhorei bastante e divertia-me de outras formas mais importantes.
Houve algum treinador, colega ou mentor que lhe tenha deixado um ensinamento, que carrega consigo até hoje?
Todos os treinadores me passaram ensinamentos diferentes. Sempre gostei de todos os treinadores que tive e estou muito agradecido a todos. Eu não cheguei até aqui sozinho, todos os meus colegas, tanto da Sanjoanense como do Porto, foram importantes no meu trajeto, e faço isto tudo não só por mim, mas por eles todos que também têm, de certeza, o mesmo sonho que eu.
É considerado pelos seus colegas de seleção o mais vaidoso do balneário. Confirma?
Sim, sou (risos). Nós, durante as praxes que fazemos, colocamos sempre perguntas, e uma deles é sempre quem é o mais vaidoso… Toda a gente diz que sou eu o mais vaidoso.