“Ser-Rio, Dios-Cuerpo”, o sexto livro da poeta Sara F. Costa, foi apresentado, na Biblioteca Municipal de S. João da Madeira, no âmbito da edição deste ano do festival literário. São quatro capítulos divididos por 181 páginas.
Jornal ‘ O Regional’ - Este é o seu sexto livro de poesia e resulta de uma bolsa de criação literária. Que livro é este e a razão deste título?
Sara F. Costa - Com este livro, eu pretendi formular a minha ode pessoal à fertilidade. Como as celebrações do Beltane na cultura celta, Ostara na cultura nórdica ou as celebrações do festival Kanamara, segundo a tradição xintoísta japonesa, sendo simétrico a este último, uma vez que é um trabalho sobre a criação intrauterina, do ponto de vista estritamente matriarcal.
Os temas que se relacionam com a maternidade começam a surgir nos movimentos literários ocidentais a partir da década de setenta do século passado, quando surge a segunda onda do movimento feminista. Pretendia-se combater as prenoções que sentenciavam certos tópicos como inapropriados, enquanto motivos literários.
É um livro onde íntegra vários registos poéticos…
Sim, tudo o que leio acaba por contribuir para aquilo que escrevo. É inevitável trazer comigo as minhas “influências” mais tradicionais mas também li muita poesia estrangeira durante o tempo que estive fora e acho que isso também foi essencial para trazer algo de novo para este trabalho.
Diz que trabalha neste livro a ideia de “mãe-poeta”. Quer explicar?
Exatamente. São dois conceitos que têm bastante peso na formulação da imagem que temos da mulher contemporânea. Por um lado, mãe com todo o peso social que transporta e, por outro, a desconstrução que faço do ideal de maternidade através da minha poesia.
Contudo, afirmar-se como mulher poeta já é, em si, um desafio. Qualquer tarefa intelectual e introspetiva na sociedade é tradicionalmente atribuída a um homem e, normalmente, a partir de uma certa idade… quando pensamos em “sábios”, não pensamos logo numa mulher… daí o dobro do trabalho e o dobro da pressão para se afirmar em tudo. Uma mulher mãe é ainda mais considerada um cliché. Por isso um trabalho que aborde esse tema, deve destacar-se pela sua originalidade e tem de ser bom, acima de tudo.
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