Cultura e Lazer

“Marcha de Abril”: Uma exposição que calça histórias das personalidades do 25 de Abril

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No contexto das comemorações dos 50 anos do 25 de abril, o Museu do Calçado inaugurou, dia 24 uma exposição que funde calçado e narrativas de figuras que moldaram o horizonte revolucionário e artístico de Portugal. Intitulada “Marcha de de Abril”

Jornal O Regional: Como surgiu a ideia de criar a exposição “A Marcha de Abril”?
Sara Paiva: Vários momentos cruciais culminaram neste caminho. Um deles foi uma visita à Casa da Cidadania de Salgueiro Maia, em Castelo de Vide, onde deparei-me com o legado do seu calçado e fardamento. Ao planearmos a programação do museu para 2024, tornou-se evidente o desejo de nos unirmos à marcha histórica do 25 de abril e explorarmos esse tema. O 25 de Abril, tem sido objeto de reflexão e celebração por diversas instituições culturais, com exposições, concertos e outras iniciativas, durante o presente ano.
O desafio a que nos propusemos foi contar a história do 25 de abril através de nossa coleção. Iniciamos com uma pesquisa documental para identificar objetos históricos relevantes, mas logo percebemos que a nossa coleção, embora rica, não era extensa o suficiente para uma exposição exclusiva sobre o tema. No entanto, descobrimos na nossa coleção, uma série de calçado pertencente a figuras influentes, para as quais o 25 de abril teve um impacto significativo, como os sapatos de Sérgio Godinho e José Saramago, entre outros. Esse foi o nosso ponto de partida. Fizemos convites a outras personalidades para integrarem essa coleção, como Paulo de Carvalho, José Fanha e Ana Salazar.

Sendo a primeira vez que uma exibição temporária é concebida a partir da sua própria coleção, a exposição do Museu do Calçado, estará patente até ao último domingo do ano (29 de dezembro de 2024)

Qual foi o processo de seleção das figuras históricas representadas na exposição?
O processo de seleção das figuras históricas representadas na exposição foi meticuloso e envolveu uma série de etapas. Inicialmente, identificamos no nosso acervo cerca de uma dezena de personalidades cujas contribuições foram significativas para o contexto do 25 de abril. De seguida, iniciamos uma série de contactos com diversas fontes, procurando obter outras peças desejadas para a exposição. Nalguns desses contatos tivemos sucesso, enquanto outros, infelizmente, não. Vale ressaltar um caso em particular, em que fizemos uma tentativa incansável para expor os sapatos de Zeca Afonso. Apesar dos nossos esforços, descobrimos que não havia mais nenhum par disponível, após contato com a viúva através da Associação José Afonso. Portanto, se os sapatos de Zeca Afonso não estão presentes na exposição, é devido à inexistência dos mesmos.

De que maneira é que olham para o calçado destas figuras históricas de Portugal como elemento para celebrar a Liberdade?
Elementos simbólicos que transcendem o tempo e contam histórias sobre o percurso destas personalidades durante o período histórico do 25 de abril. É importante ressaltar que estes sapatos não foram usados durante os eventos do 25 de abril, alguns são anteriores à revolução, datando a década de 60, como os sapatos de bebé de Sérgio Godinho, enquanto outros são mais recentes, período após a Revolução dos Cravos. No entanto, a essência da exposição reside no uso desses sapatos como veículos para explorar as vidas e experiências destes artistas.
Ao apresentar cada par de sapatos, não pretendemos simplesmente exibir calçado, mas sim utilizar estes artefactos como pontos de partida para narrar as histórias e experiências individuais de cada figura histórica durante o 25 de abril. Cada par é acompanhado por dois blocos de conteúdo: um que oferece uma breve contextualização sobre a situação da pessoa durante os eventos de abril de 1974, seja estando no exílio, como no caso de Sérgio Godinho, ou mesmo não percebendo completamente o que estava a acontecer, como no caso de Ruy de Carvalho. O segundo bloco são as palavras dos próprios artistas, nas suas canções, na sua poesia nas suas peças de teatro. Não sendo apenas objetos estáticos, mas sim portadores de narrativas vivas que iluminam os diferentes aspectos da liberdade e da história de Portugal.

Portadores de narrativas vivas que iluminam os diferentes aspectos da liberdade

Quais os objetivos principais em relação à celebração dos 50 anos do 25 de abril de 1974?
Primeiramente, procuramos honrar e destacar o papel de figuras emblemáticas como Salgueiro Maia, oferecendo um contexto breve sobre a sua influência e contribuição para os eventos cruciais daquela madrugada histórica. Ele é apresentado como um ponto de partida essencial para compreender a mudança radical que o 25 de abril representou para Portugal.
Ao apresentar uma variedade de figuras, desde Salgueiro Maia até Amália Rodrigues, a exposição convida os visitantes a explorar diferentes aspectos da liberdade e da identidade nacional. A exposição visa não apenas comemorar os 50 anos do 25 de abril, mas também promover uma reflexão sobre a sua história e significado para a sociedade portuguesa, inspirando novas gerações a valorizar e preservar os ideais de liberdade e democracia conquistados.

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