Uma história ficcionada sobre mãe e filha, sobre uma família disfuncional e sobre crises familiares. É o fio condutor da peça “Mal a cheiraste”, da autoria da jovem promissora das artes performativas Luísa Guerra, natural de S. João da Madeira.
Todas as relações entre familiares geram complexos na vida das mulheres e sistemas de opressão entre gerações. É deste pressuposto que parte Luísa Guerra, autora da peça de teatro “Mal a Cheiraste”. A jovem criadora artística pretende com este projeto proporcionar “espaço para discutir a importância da educação entre mulheres”, na sua “intimidade, sexualidade, ação e posição política, socialização, personalidade e saúde mental”.
A peça, que versa sobre a relação entre mães e filhas, tornou-se numa ficção, num trabalho de “imaginação fértil de uma filha alegórica a falar-nos sobre a sua mãe”, para alertar que “a educação vive empurrada por uma força cíclica, que atira os filhos para os mesmos vícios dos pais”. O espetáculo “passa-se na cabeça da filha, num lugar surreal, onde se vai depositando a verdade de muitas mulheres”, explica a criadora. Durante a dramaturgia, viaja-se por comportamentos emocionalmente abusivos, numa ação situada na fronteira entre Portugal e Espanha, entre os anos 70 e 90.
Luísa Guerra, 20 anos, nasceu em S. João da Madeira, vive em Santa Maria da Feira e protagonizou o novo filme do realizador sanjoanense André Gil Mata, cuja estreia deverá ocorrer em breve. A jovem considera que “S. João da Madeira é uma cidade com uma atividade cultural em crescimento”, pelo que gostava de “contribuir para a renovação do tecido de artistas intervenientes” na cidade. Nesse sentido, reconhece que “a Casa da Criatividade é uma sala muito apelativa”, pelo que teria gosto em apresentar o seu trabalho nessa sala.
Projeto artística pretende a obtenção de apoio financeiro da DGArtes
Um trabalho na qual esta jovem promissora das artes performativas não está sozinha. As intérpretes Vera Santos e Inês Cardoso são as atrizes de “Mal a Cheiraste”. Com uma diferença de idades entre si de três décadas, as duas atrizes ajudam a “criar uma relação credível e um diálogo entre gerações”: diálogo sobre as diferentes famílias em que cresceram, sobre a maternidade e sobre a ideia de filha-objeto.
É com esta peça e com um grupo fresco e irreverente de jovens artistas emergentes que Luísa Guerra está a candidatar a Turbina Associação Cultural à Direção-Geral das Artes (DGArtes). Este projeto de criação artística, artes performativas, teatro e dança procura, por um lado, a obtenção de apoio financeiro da DGArtes e, por outro, a “colocação do nome, seja do criador ou do coletivo, no quadro de atividade nacional”, a colocação no mercado, no circuito de contatos e de futuras parcerias. Luísa Guerra reconhece que, para criadores da sua idade, “sem nome, sem rede, sem conhecimentos de mercado, vergar-se para um apoio nacional é um processo duro e armadilhado em demasiadas burocracias”, mas espera ser bem-sucedida.
João Cardoso, diretor artístico considera que, pelo percurso académico e profissional e apesar da juventude, Luísa Guerra, “tem-se evidenciado como jovem promissora nas artes performativas, pelo seu talento, capacidade de reflexão, trabalho e liderança,” condições essas que “atestam a sua competência para dirigir o coletivo na prossecução do projeto as que se propõe”.
Para já, as experiências biográficas dos elementos deste grupo emergente, adaptadas ao teatro, podem ser vistas na Sala de Bolso, em Miragaia, no Porto, até 1 de outubro.