Cultura e Lazer

Herman José: “O público, para mim, é como um código de barras, cuja leitura eu faço no momento em que entro”

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Considerado o pai do humor em Portugal, Herman José está a celebrar 50 anos de carreira e marcará presença no próximo sábado na 8ª edição do Gargalhão. O humorista não esconde a satisfação de estar em S. João da Madeira.

Jornal – ‘O Regional’ - O “Gargalhão - Festival de Comédia de S. João da Madeira” apresenta-se como o mais completo e abrangente festival de comédia português. Que importância atribui a este evento, onde marcará presença dia 25 de maio?
Herman José: tudo é importante para mim, seja o que for, no âmbito do humor, da arte e da música. Se uma coisa a longevidade da minha carreira me ensinou é que não há eventos de primeira nem de segunda, nem públicos de primeira nem de segunda.
Todas as atividades são importantíssimas, e eu vou com o mesmo espírito a um pequeno festival, seja de humor, seja de música popular, seja uma festa da aldeia, como vou a um Super Bock Arena atuar para milhares de pessoas, como, de repente, estou num festival ao ar livre.
A minha grande preocupação, que é já uma obsessão hoje em dia, é conseguir, em que circunstâncias for, uma taxa de agrado de 100 por cento. Ou seja, que nunca se instale qualquer tipo de fastio, cansaço ou desmobilização, que me leve, a dar menos de 100% e que me levem a defraudar quem me está a ver.
No dia em que isso acontecer, por razões de saúde, da própria passagem do tempo, eu reformo-me alegremente e vou gozar a minha vida com as coisas que me rodeiam.

O que é que os sanjoanenses podem esperar de si neste “Gargalhão?
Eu funciono de maneira muito diferente de todos os meus colegas. O público, para mim, é como um código de barras, cuja leitura eu faço no momento em que entro.

Uma espécie de apalpar terreno nos primeiros minutos?
Podemos dizer que sim. A plateia é como um enorme QR Code que eu leio no primeiro minuto, quando entro no palco. E, a partir do momento em que sinto o público que tenho albardo o meu espetáculo ao gosto daquele público.
Ou seja, se estiver numa queima das fitas, às duas da manhã, o meu espetáculo vai ser barulhento, atrevido e até picante. Se for numa empesa, depois de um jantar, obviamente que faço outro tipo de espetáculo. E se estiver numa festa de casamento, como aconteceu recentemente com um empresário que fazia 60 anos de casado, que tinha na primeira fila o Bispo que os casou, obviamente que vou fazer um outro tipo de espetáculo. A minha grande preocupação é conseguir o melhor dos mundos daquele momento.

E no caso do Gargalhão?
Sendo um festival de comédia, e estando as pessoas à espera de diversão, será obviamente a parte humorística a principal deste espetáculo, não deixando, aqui e ali, de pontuar com momentos musicais que servem o humor. Eles não funcionam como uma coisa à parte. Eles servem para a mesma narrativa humorística.

Comédia, diversão, humor e música

Sendo um festival com uma componente de responsabilidade social, uma vez que serão apresentadas performances de humor em fábricas, lares e IPSS do concelho, tem a preocupação de adaptar as suas performances ao tipo de público que a elas assiste?
Neste caso acho que se aplica a lógica de cada cabeça sua sentença. Cada comunicador tem que fazer aquilo que acha melhor para si. Há uns que tem um texto base e dali não saem e, nesse caso, o público tem que se adaptar ao tipo de reportório, e, depois, outros como eu, que entendem que o reportório deve servir o espírito daquele público específico. Para perceber o que estou a dizer. Eu não vou para uma festa do FC Porto falar do Benfica ou do Sporting. Há um bom senso mínimo que nos serve e serve aquele momento. Mas, naturalmente, cada um serve da forma que entender.

Na última década, proliferou uma gigantesca quantidade de novos humoristas. No seu entender, a que se deve esta multiplicação de pessoas a fazer humor ou a tentar fazer humor? Festivais como este em S. João da Madeira são importantes para a revelação de novos talentos. Acha que, atualmente, já temos humoristas a mais?
O mercado, nesse aspeto, autorregula-se. O mesmo já aconteceu com a música, desde que surgiram os programas de televisão de música, que todos os anos entram no mercado cantores novos, e muitos deles até são muito bons, e muitos ficam pelo caminho. A única coisa perniciosa da quantidade é que as cotações baixam, porque passa a haver muita gente disponível, a preços muito simbólicos, o que acaba por dificultar a vida aos outros profissionais que estão no mercado há mais tempo e usam outro tipo de investimentos e tem outro tipo de ações. Mas é a única coisa, porque, de resto, o mercado funciona como uma enorme centrifugadora e, passado um ano, metade já foi projetado contra a parede e, em cinco anos, geralmente, a taxa de devolução à vida civil daqueles que querem ser artistas ronda os 90 por cento. Mas é assim em todo o mundo!

 

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