Exposição de Carlos Rosa cruza desenho à mão e ilustração digital

“A exposição parte de um exercício quase acidental, mas que se revelou profundamente simbólico: a sobreposição de técnicas que normalmente habitam universos distintos. O desenho a caneta, quase sempre urgente e descomprometido, foi sendo invadido por manchas de café, um gesto intencional, mas aberto ao acaso.” A explicação é de Carlos Rosa, designer, ilustrador e atual diretor do IADE – Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia, a propósito da exposição que inaugurou no passado sábado na Torre da Oliva, em S. João da Madeira e que vai estar patente até 28 de junho.
Intitulada Diálogos Paralelos, a mostra segundo o autor propõe uma reflexão visual sobre o real e o imaginado, o espontâneo e o construído.
Através de uma combinação inusitada de técnicas, estilos e perspetivas, Carlos Rosa desafia os limites entre o desenho espontâneo e a ilustração digital, sugerindo uma “leitura cruzada” entre dois mundos visuais que raramente se encontram.
“Por outro lado, a ilustração digital, planeada e estruturada, nasce muitas vezes da vontade de dar continuidade àqueles primeiros traços, como se os desenhos ganhassem uma segunda vida”. Ainda segundo o designer, ilustrador Diálogos Paralelos é, no fundo, uma “metáfora para o modo como habitamos várias realidades ao mesmo tempo — algumas vividas, outras imaginadas — e como o design e a ilustração nos ajudam a dar forma a essa complexidade”.
Com um percurso multidisciplinar que cruza a prática artística, a investigação e a direção criativa, Carlos Rosa desenvolve projetos que exploram as relações entre imagem, texto, identidade e espaço. Distinguido com o Prémio Nacional de Design – Sebastião Rodrigues e eleito Ícone de Design pela revista Computer Arts, o autor tem também desempenhado um papel ativo na curadoria e promoção das artes visuais, mantendo ainda uma prática regular de escrita e ilustração em diversas publicações de referência.
“Fui convidado pelo Diretor do Centro de Arte de S. João da Madeira para realizar esta exposição. Ou seja, não fui eu que escolhi a Oliva — foi a Oliva que me escolheu a mim”. Ainda assim, sublinha que é “extremamente gratificante” apresentar esta exposição em S. João da Madeira, uma região “onde se respira arte e cultura com intensidade. É, sem dúvida, uma das geografias mais relevantes no panorama cultural português. Ter a oportunidade de expor num espaço por onde já passaram grandes nomes das artes e da cultura em Portugal é uma forma excecional de marcar a minha primeira exposição individual”, explica a ´O Regional´.
Além da vertente técnica, a exposição aborda temas como a coexistência entre o urbano e o rural, a distopia e a fantasia, a solidão e o sentido de pertença. Algumas obras revelam encadeamentos entre diferentes fases do processo criativo, como se um mesmo desenho se desdobrasse em duas expressões autónomas, mas interligadas — uma sobre o papel, outra no ecrã.
Diálogos Paralelos revela, assim, não apenas a produção artística de Carlos Rosa, mas também a sua visão crítica e sensível sobre o papel do desenho na construção do pensamento visual contemporâneo.