O Centro de Arte Oliva (CAO) inaugurou, no último sábado, uma exposição, com 30 obras de Sérgio Fernandes, que descobriu a pintura depois da arquitetura.
Jornal O Regional - “Fundo sem fundo” é o título da nova exposição que o Centro de Arte da Oliva (CAO) terá patente ao público até dois de outubro. Estamos a falar de uma mostra original e pensada para este espaço?
Sérgio Fernandes - Podemos dizer que sim. Eu conheço bem este espaço. Tenho, atualmente, dois quadros meus na exposição Norlinda e José Lima. Este é um espaço muito importante para a cultura e um motivo de orgulho para qualquer pintor ou artista expor as suas obras. Relativamente à exposição, pode ser definida como algo onde tudo é possível, uma vez que é muito interior, no sentido de algumas coisas, que aparecem, que podem ter um lado mais obscuro. “Fundo sem fundo” pode ser considerada uma exposição interminável.
Olhando para estas suas obras, podemos retirar várias leituras. É esse desafio que quer criar a quem visita a exposição?
Claro que sim. Apesar de considerar que os quadros são em aberto, ainda que muitos tenham titulo, mas este é para mim. Já me aconteceu começar a dar um título, e depois achei que todos deveriam ter também. Mas é algo muito pessoal, de organização minha e de conversas que faço comigo e entre peças.
Mas tem medo que o titulo impeça as pessoas de verem, é isso?
Podemos dizer que sim. Aqui o que interessa é que as pessoas venham visitar, e o tempo despendido permita que as obras sejam reveladas. Isso para mim é muito importante…
São pinturas que realizou no âmbito de um projeto de criação e investigação artística sobre a cor e a perceção visual pensado para este espaço. Como descreve todo este processo?
É o trabalho de um ano, em processo de residência artística, e todas foram mesmo pensadas para este espaço. São peças de grandes dimensões, que raramente pinto, porque não tenho espaço para elas ou para as guardar. A exposição começou pela escala, depois as obras vão crescendo, vão falando entre si, entra depois a pesquisa de cor, de luz e de espaços dentro da própria pintura. E aquilo que vemos não é o que foi inicialmente pensado. Mudou para muito melhor.
Disse que cada obra tem um nome para si. Qual é a obra que tem um carinho especial?
Acho que é a que tem o nome da exposição, porque é a que considero melhor acabada. É muito sóbria, não é mais do que aquilo que quer ser, e também não é menos do que aquilo que é. Em termos técnicos, é a que me revela que é isto que eu quero, e que este é que é o meu trabalho.
Artigo disponível, em versão integral, na edição nº 3897 de O Regional,
publicada em 23 de junho de 2022