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Escritor Tiago Moita diz que o seu novo livro é a obra mais humana que alguma vez escreveu

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Tiago Moita acredita que esta é a obra mais humana que alguma vez escreveu. O livro mostra-nos como um cataclismo energético pode mudar as pessoas e como o progresso pode humanizar ou desumanizar o mundo.

Jornal O Regional - Este seu livro “Ensaio sobre o fim do mundo” parte da ideia de um apagão energético global, uma espécie de Armagedão, que deixa a humanidade privada de energia e de tecnologia. De que forma é que sem esse bem precioso sobrevivem as 12 personagens principais do seu livro e que mudanças interiores se operam nelas?
Tiago Moita - Quando me debrucei a sério nesta obra, entre 2018 e 2021, resolvi pesquisar tudo o que existia acerca da sobrevivência humana em situações de catástrofe, como um apagão global. Retirei de livros e blogs peritos em sobrevivência no meio da natureza, em ambientes selvagens, mas também em grandes cidades, ideias e dicas que acabaram por ser muito úteis para a elaboração do meu novo livro. Quanto às mudanças interiores, tudo o que posso dizer é que elas serão fruto de um processo gradual de mudança para uma nova consciência de nós próprios e do universo que nos rodeia.

Sendo este “Ensaio sobre o fim do mundo” uma odisseia existencial sobre a fragilidade da existência humana, que características humanas (sejam positivas, sejam negativas) se tornam evidentes, perante um cataclismo como o descrito no livro?
Nesta obra, procurei retratar a humanidade tal como ela sempre foi, é e sempre será, revelando não só seu lado mais ridículo e absurdo como também o seu lado mais humano e altruísta. É por isso que, quando os leitores abrirem as páginas relativas à primeira parte do meu novo livro vão encontrar situações de desespero, frustração, revolta, medo, pânico, angústia e loucura, que são muito comuns entre seres humanos envolvidos num cataclismo tão abrupto e horripilante como um apagão global.

As doze personagens centrais da história deste livro retratam a natureza humana e os seres humanos no melhor e no pior que eles têm?
Essa sempre foi a minha ideia desde o início. Ao identificar cada uma destas personagens pelos seus estados de alma, procurei demonstrar não só a heterogeneidade da humanidade, mas também realçar as diferenças que as dividem e a forma como elas vão lidar com elas, perante obstáculos e desafios que vão encontrar ao longo da sua jornada e que vão ser muito importantes para a sua evolução e para o desenvolvimento do enredo.

Temos neste livro o bombeiro Xavier com remorsos, a enfermeira Laura traumatizada, o professor enigmático, a doméstica revoltada, o médico frenético Lucas, a influencer vaidosa, o youtuber ativista Humberto, o engenheiro obcecado Gaspar, o advogado oportunista, o designer poeta Julian, o ator indeciso e a criança muda que luta pela sobrevivência. Qual deles poderá dar mais lições ao leitor?
Ao contrário do que aconteceu nos meus três primeiros romances, nesta obra não há personagens secundárias nem figurantes. Todas são personagens principais porque vão comungar as mesmas experiências e desafios, sofrer os mesmos erros e, ao mesmo tempo, partilhar conhecimentos e experiências passadas e lições que retiraram das mesmas para uso e benefício do grupo e de cada uma delas. Por isso é que considero “Ensaio sobre o Fim do Mundo” a obra mais humana que alguma vez escrevi.

“Através do medo revelamos mais facilmente a nossa fragilidade”

O medo é um denominador comum a essas personagens. Porquê?
Porque é através do medo que revelamos mais facilmente a nossa fragilidade e expomos o nosso lado mais humano, sobretudo quando estamos perante um apocalipse que ameaça a nossa existência e põe à prova a nossa sanidade como um apagão global, por exemplo. Se um escritor quiser revelar algo que demonstre o lado mais humano das suas personagens, de modo a que os seus leitores se identifiquem com elas, esse algo é o medo.

Procura nesta obra refletir sobre a ideia de progresso como evolução humana e sobre o sentido que o progresso dá, ou não, aos valores humanos. Quer-lhe parecer que o progresso humaniza mais ou desumaniza mais?
Sempre que uma descoberta científica, uma ideia filosófica ou uma inovação tecnológica expande a nossa capacidade de afirmação, conhecimento, empatia e sabedoria, auxiliando-nos a transformar e a aperfeiçoar os nossos valores, experiências e conhecimentos, estaremos sempre a falar em progresso. Sempre que o seu sentido resultar no seu contrário, estaremos sempre a falar em atraso. Esta obra pretender perguntar ao ser humano que sentido quer dar ao progresso que ele próprio criou e se a desumanização é o preço a pagar por esse mesmo progresso.

Poderá ter acesso à versão integral deste artigo na edição impressa n.º 4017, de 9 de janeiro de 2025 ou no formato digital, subscrevendo a assinatura em https://oregional.pt/assinaturas/

 

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